Os mercados poderiam salvar as florestas: Uma entrevista com Dr. Tom Lovejoy
Os mercados poderiama salvar as florestas: Uma entrevista com Dr. Tom Lovejoy
mongabay.com
Traduzido por Marcela V.M. Mendes
20 de Março, 2008
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Mecanismos de mercado são vistos cada vez mais como uma maneira de endereçar problemas ambientais, incluindo o desflorestamento tropical. Em particular, a compensação pelos serviços de ecossistema como sequestro de carbono — um conceito conhecido pelo acrônimo REDD como “redução de emissões do desflorestamento e degradação” — pode algum dia tornar a conservação um negócio lucrativo no qual os comerciantes de carbono estão eficazmente salvando as florestas úmidas simplesmente por sua busca incessante pelo lucro. Protegendo as florestas úmidas e a biodiversidade residente seria um subproduto não intencional mas feliz dos esforços lucartivos.
Enquanto a ideia pode parecer inverossímel neste momento, muitas pessoas estão trabalhando fervorosamente no lado político para tornar esse conceito uma realidade. Poucos são mais qualificados para trabalhar nessa questão do que o Dr. Thomas Lovejoy, um biólogo autor de vários artigos e livros e atualmente atua como presidente do Centro Heinz, um grupo ambiental.
Dr. Thomas Lovejoy é o fundador da série Natureza na televisãp pública. Foto cortesia da Folha de Sao Paulo. |
“As chances de salvar as florestas úmidas apelando ao motriz do lucro tem crescido agudamente durante os os últimos cinco anos,” Dr. Thomas Lovejoy, que é igualmente um conselheiro sênior na biodiversidade ao Banco Mundial e à Fundação das Nações Unidas, contou Mongabay.com em uma entrevista. “nós estamos vendo o começo dos mecanismos do mercado para a preservação do meio ambiente.”
Creditado com a cunhagem do termo “diversidade biológica”, o desenvolvimento do conceito de um “débito de troca com a natureza”, e fundando a experiencia biológica tropical de mais longa duração no mundo, Lovejoy é reconhecido como um especialista líder em questões que vão desde a ecologia tropical às finanças plíticas de conservação ambiental. Um conselheiro para alguns dos políticos mais conceituados do mundo, Lovejoy previamente atuou como diretor do Fundo Mundial da Vida Selvagem-Estados Unidos, Secretário Assistente na Instituição Smithsonian, presidente do Instituto Americano de Ciências Biológicas, presidente do Programa Homen e Biosfera dos Estados Unidos, e presidente da Sociedade de Conservação e Biologia. Hoje ele atua no quadro de um número de grupos cientificos e conselheiros.
Em uma entrevista de Março de 2008 com mongabay.com, Lovejoy discutiu seu trabalho e sua visão de conservação baseada no mercado.
Uma entrevista com Dr. Thomas Lovejoy
Mongabay: Quais são os objetivos do Centro Heinz Center?
Dr. Tom Lovejoy: O Centro Heinz é dedicado a melhorar a fundação cientifica e economica para políticas ambientais. O Centro é focado nas questões ambientais que são provaveis a confrontar os políticos a curto prazo — dois a cinco anos — mas no contexto de grandes questões ambientais de nosso tempo.
Nosso programam é focado na Mudança Global: minimizando o clima e outra mudanças (“Abrandamento”), lidando com o clima invitável e outras mudançae (“Adaptação”) e medindo os impactos e progressos (“Medição”). O programa inteiro é coberto com perspectivas políticas.
Lovejoy no Parque Nacional de Wolong na China. Foto por Mark Christmas |
A mudança global vai muito além da mudança climática para olhar todas as coisas interligadas que estão alterando o equilíbrio ecológico do planeta incluindo a mudança do uso da terra, perda de biodiversidade, ciclo de nitrogenio, e emissões de metano. Reconhecer que isso não é mais uma escolha entre abrandamento e adaptação, nossa estratégia de mudança global olha para ambos o abrandamento e a adaptação. A cada dois anos em conjunção com a Avaliação Global de Energia (para a qual nós somos o nó dos Estados Unidos) nós liberamos relatórios que olham para a nova tecnologia e fontes de energia como biocombustíveis. Nós igualmente fizemos o trabalheiro pioneiro naquilo que chamamos de limiares ecológicos — limiares do ecossistema que uma vez ultrapassado apresentará sérios desafios de adaptação para a humanidade.
no que é chamado tradicionalmente de relatórios ambientais, nós trabalhamos com indicadores. Nesta área olhamos para as coisas como a contagem de carbono e outros serviços prestados pelo ecossistema. Nós estamos publicando um relatório (O Estado dos Ecossistemas das Nações) esse ano.
Então essa é uma rápida visão sobre os tipos de coisas com as quais o Centro Heinz está envolvido.
Mongabay: Você está visando os mecanismos do mercado para endereçar coisas como o desflorestamento? Especificamente REDD ou desflorestamento evitado?
Dr. Tom Lovejoy: Sim, muito. Nós estamos vendo o início dos mecanismo de mercado para preservação do meio ambiente. Esse é o tipo de assunto que John Heinz estava engajado 20 anos atrás junto com Timothy Wirth e Rob Stavins em Harvard: “Projeto 88” olhava para quanto os mecanismos de mercado poderiam trabalhar a favor meio ambiente, e levou ao mercado de enxofre no Ato Ar Limpo de 1990. John Heinz visitou a Amazonia e viu a importancia de conservar a biodiversidade e os serviços do ecossistema.
Lembrando o REDD, Eu tive uma reunião aqui ontem com um grupo procurando pela melhor maneira de avançar essa agenda — a dificuldade é que se você recebe 190 nações em volta de uma mesa negociando, levará uma eternidade para se chegar a alguma decisão.
Mongabay: Você tem encontrado muito apoio para o REDD em Congressos e nos altos níveis de governos?
Dr. Tom Lovejoy: Duas semanas atrás eu atendi a três chamadas telefônicas do Capitol Hill sobre o REDD então há definitivamente um interesse. O grande desafio é que no nível internacional as negociações são definidas por interesses nacionais próprios e preocupações sobre detalhes ao invés da escala de problemas que estamos enfrentando. Temos que manter essa agenda fluindo.
Eu estou muito interessado em quantias importantes de dinheiro tornando-se disponível para os serviços do ecossistema. Nós primeiramente veremos isso em termos de carbono. Muitos países de florestas úmidas tem mostrado interesse no REDD — não todos eles, mas até mesmo o Brasil tem chegado mais perto de se abrir ao conceito.
Mongabay: Vocês vislumbra pagamentos pelos serviços do ecossistema além do carbono?
Dr. Tom Lovejoy: Poderiamos mas eu penso que é bem mais fácil começar com o carbono. Estamos trabalhando com o estado de Mato Grosso na contagem de carbono.
Mongabay: Você menciona o Brasil — parece sempre haver uma preocupação sobre sua soberania?
Dr. Tom Lovejoy: Você tem que trabalhar com o Brasil de uma maneira que seja respeitosa essa sensibilidade.
Mongabay: Você acha que há mais interesse na conservação no Brasil agora do que havia há 10 anos atrás?
Dr. Tom Lovejoy: Bem maior. O governador do estado do Amazonas está usando dinheiro de seu orçamento para compensar algumas comunidades em relaçõa aos serviços ambientais. Nos últimos anos o Brasil por si mesmo tem colocado de lado 40% de área no total mundial em novas áreas protegidas.
Mongabay: Mudando de assunto um pouco, nos anos 70 você desenvolveu um simples porém criticamente importante experimento na Amazônia Brasileira. Pode elaborar nessa experiência, talvez o que o levou a estabelecer o projeto de fragmentos da floresta e suas opniões a respeito do sucesso desse projeto? Você esperava que o projeto iria chegar até onde chegou?
Mosaico da floresta e agricultura. Cortesia de WHRC
Dr. Tom Lovejoy: Eu iniciei o Projeto de Fragmentos da Floresta (primeiramente conhecido como O Projeto de Tamanho Critico Mínimo de Ecossistema, mais tarde Projeto das Dinâmicas Biológicas dos Fragmentos da Floresta) junto com colegas brasileiros porque havia grande controvérsia sobre como deveriam ser protegidas grandes áreas — o que é melhor se uma grande reserva um várias pequenas reservas? O debate “SLOSS” por uma lado era sobre a aplicabilidade da teoria da ilha biogeográfica para projeto de reserva, e prosperou como uma controvérsia porque havia tão poucas informações diretas. Consequentemente eu projetei o projeto para isso.
Eu pensei que om projeto duraria uns 20 anos, mas eu não tinha idéia dos índices de mudança e acabou que os 100 fragmentos de hectares ainda estão mudando relativamente devagar. Além disso, ele acumulou valor ao mesmo tempo que o prazo de dados, habilitando outras questões a serem levantadas. Nisso ele se tornou o maior exercício de treinamento para brasileiros e outras nacionais amazônicas em particular. Então nós eventualmente concluimod que deveria ser um projeto permanente.
Mongabay: Nos anos 80 você foi um pioneiro no conceito de débito de troca com a natureza que tem desde então levado centenas de milhares de dolares para os esforços conservacionistas. Qual foi sua inspiração para o programa e o que você vê para o seu futuro? Você espera ver mais débitos de troca com a natureza, ou eles irão começar a ser substituídas pelos mecanismos de mercado como REDD, oun irá o REDD ser aplicado em algumas circunstâncias e o débito para a natureza aplicável em outras?
Dr. Tom Lovejoy: Eu estava ouvindo uma audiência sobre os efeitos ambientais de desenvolvimento dos empréstimos. Eu percebi que o débito por si mesmo estava causando problemas ambientais. Então eu escrevi um pequeno artigo para o The New York Times levantando a possibilidade de desvio então o débito poderia ser usado para “Ajudar a Ecologia das Nações Devedoras” cita a manchete. Isso era 1984. A primeira troca de débito foi feita em 1971. Sabemos que bilhões de dólares tem sido executados mas o total é desconhecido porque cada nação o faz individualmente e não há registro central.
De qualquer forma eu estou desesperadamente preocupado com os impactos da mudança climática no mundo natural
Mongabay: O que você recomendaria ao governo dos Estados Unidos fazer para melhor promover a conservação da floresta úmida e da biodiversidade?
Mudança Climática e Biodiversidade Editado por Thomas E. Lovejoy e Lee Hannah |
Dr. Tom Lovejoy: A única melhor coisa que poderiamos fazer para tornarmos um líder na mudança climática. Muitas coisas então coincidiram bem. No entando eu não vou segurar minha respiração nisso até janeiro do ano que vem.
Eu penso que há um numero de coisas que poderiam ser feitas. John Negroponte e Harry Paulson tem estado calmamente trabalhando em algumas coisas promissoras e eu penso que nós veremos algum dinheiro entrar no Aceh para a conservação da floresta. Então sim realmente, há um interesse.
Mongabay: Entre cientistas e responsáveis político de alto nível, você realmente trabalha com um alcance amplo de interesses.
Dr. Tom Lovejoy: Para o que quer que valham eu fui chamado pela Conservação da Suiça. Eu trabalho com todo mundo que seja razoável.
Mongabay: Afinal você está esperançoso que o mundo será capaz de controlar o desflorestamento e começar a proteger a biodiversidade com mais eficácia?
Dr. Tom Lovejoy: Você tem que ser. As pessoas estão falando sobre coisas agora que não eram as mesmas há seis meses atrás. Então eu estou esperançoso. É uma questão de olhar claramente e desvendar onde os maiores pontos de vantagem estão e ir atrás deles.
Mongabay: Nós temos novos condutores do desflorestamento — a saber combustíveis biológicos e o aumento das matérias primas — você acha que esse esquemas de certificação poderia ajudar a trazer mais responsabilidade ambiental ao mercado?
Dr. Tom Lovejoy: Absolutamente. Eu acho que há um real interesse em algumas indústrias. O Brasil adoraria ter tudo certificado. Suas exportações de madeira são totalmente certificadas — são com seus mercados internos que eles ainda precisam lidar.
Mongabay: O que as pessoas podem fazer aqui para ajudar a preservar as florestas e mais tarde se mover em direção à sustentabilidade e conservação da biodiversidade?
Dr. Tom Lovejoy: São coisas comuns. Conseguir educar as pessoas, assegurar que suas autoridades eleitas estão educadas, e encorajar a filantropia em direção à sustentabilidade e conservação da biodiversidade. Você deve procurar caminhos para seu estado se engajar e tomar o papel de liderança em coisas como essa.
O setor privado pode se envolver em algumas políticas internacionais. Mercados voluntários são opções reais para coisas como o REDD.
- Mudança climática e Biodiversidade Editado por Thomas E. Lovejoy e Lee Hannah
- BBC Reith Lectures 2000: Thomas Lovejoy em Biodiversidade