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Quem paga pela conservação da floresta amazônica?

Quem paga pela conservação da floresta amazônica?

Quem paga pela conservação da floresta amazônica? Uma
entrevista com o maior patrocinador privado de proteção de florestas
tropicais: a Fundação Gordon e Betty Moore
Rhett Butler, mongabay.com
12/03/2008

Na segundafeira, 4 de dezembro 2006, o Brasil criou a maior área protegida
de floresta tropical no mundo no norte da Amazônia. Abrangendo mais de
15 milhões de hectares (57.915 milhas quadradas) – ou uma área
maior do que a Inglaterra – a notícia da rede de sete novas reservas
protegidas foi recebida com louvor por grupos ambientais. Quem ajudou no desenvolvimento
desse projeto de conservação foi uma organização
que a maioria das pessoas não associaria com a conservação
de florestas, mas certamente deveria: a Fundação Gordon e Betty
Moore.

Criada por Gordon Moore, fundador da Intel, e sua esposa, a Fundação
Gordon e Betty Moore é hoje o maior doador privado para a conservação
e pesquisa da Amazônia, distribuindo mais de US$ 200 milhões para
projetos na região desde 2001 (mais de US$ 358 milhões incluindo
a região vizinha dos Andes). A soma pode representar um quarto de todo
o dinheiro gasto na bacia amazônica por grupos não-governamentais,
de acordo com um artigo de 19 de Novembro na revista San Francisco Chronicle.

A Fundação diz que seu principal objetivo é conseguir
"uma gestão eficaz dos 370 milhões de hectares de paisagens
florestais", que são necessários para manter a função
climatológica da bacia Amazônica e proteger a biodiversidade da
região, distribuída por todas as oito principais eco-regiões
e 13 grandes bacias hidrográficas. Tudo isso com a finalidade de preservar
a viabilidade ecológica região a longo prazo. Os 370 milhões
de hectares representam 45% dos 815 milhões de hectares de florestas
tropicais da região e são considerados um limite, abaixo do qual
o ecossistema da floresta Amazônica pode mudar para uma paisagem radicalmente
diferente dominada por savanas secas. A mudança teria um impacto dramático
na vida vegetal e animal da região.

Para evitar esta situação, a Fundação está
financiando projetos no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Suriname.
O enfoque está mais na pesquisa do que na aquisição de
terras – uma questão particularmente controversa na Amazônia onde
tais "agarra-terras" são muitas vezes vistos como uma ameaça
à soberania nacional – a maioria dos fundos vão para grupos de
conservação e cientistas que trabalham na área. Grande
parte da pesquisa da Amazônia nos últimos anos que gerou manchetes
nos jornais e revistas– desde as projeções de clima para a Amazônia
até a importância das populações indígenas
para reduzir desmatamento em áreas protegidas – foi financiado até
um certo grão pela Fundação Moore. Conservação
International, uma organização inovadora que combinou pesquisa
biológica pioneira com uma estratégia corporativa de localizar
alvos críticos de conservação, foi o principal beneficiário
dos fundos, embora World Wildlife Fund, o Field Museum, a Wildlife Conservation
Society, a Amazon Conservation Association, Woods Hole Research Center, Instituto
Internacional de Educação do Brasil, Instituto Socio Ambiental,
e da Amazon Conservation Team também receberam grandes contribuições
desde 2001.

O processo de alocação de fundos para conservação
da floresta

A Fundação não aceita propostas não solicitadas.
Em vez disso, confia numa equipe de pesquisadores e uma rede de contatos científicos
para identificar potenciais beneficiários que podem incluir organizações
não governamentais (ONG´s), institutos de pesquisa e universidades.
Como um bom planejador financeiro, a Fundação utiliza uma "estratégia
de carteira", para decidir a forma de distribuir fundos e frequentemente
emite subvenções em uma série "para aumentar a eficácia
da iniciativa inteira, [e reduzir] o risco de falha de qualquer subvenção".

Embora tenha havido alguns fracassos nos primeiros cinco anos da iniciativa,
a fundação enfrenta alguns obstáculos, nomeadamente de
interesses de desenvolvimento, que estão vendo conservação
inerentemente como oposição ao desenvolvimento económico,
e alguns ambientalistas que acham que mais dinheiro deveria ser usado para criação
de parques em vez de financiamento para ciência. Mas, como maior e mais
influente promotor de conservação na maior floresta tropical do
mundo, alguma crítica era de se esperar.

Em dezembro de 2006 o Dr. Rosa Lemos de Sá, líder da iniciativa
Andina-Amazônica da Fundação Gordon e Betty Moore’s, respondeu
algumas perguntas de mongabay.com sobre os esforços da fundação.

Entrevista com Rosa Lemos de Sá, responsável pela Iniciativa
Andes-Amazônia da Fundação Gordon e Betty Moore




Mongabay: Por que o foco sobre a região especifica de Andes-Amazônia?
Gordon e Betty Moore têm interesse especial em florestas tropicais ou
bacias hidrográficas?



Visão geral: Iniciativa Andes-Amazônia da Fundação
Gordon e Betty Moore.

Fonte: www.moore.org

Resultado: Aumentar o tamanho, a qualidade e a durabilidade
dos sistemas de áreas protegidas da Bacia Amazônica.

Geografia: A Bacia Amazônica e as florestas adjacentes
do Escudo da Guiana tem uma área espalhada por nove países
e territórios: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia,
Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A Bacia Amazônica,
conforme definido por nossa iniciativa, consiste não só
da bacia amazônica, mas também inclui a encosta leste dos
Andes e da floresta contígua que se estende para o norte do
Brasil através do escudo da Guiana e a drenagem da Venezuela pela
parte superior do rio Orinoco. Junto, esta área abrange 815 milhões
de hectares (um pouco mais de 2 bilhões de acres) do meio ambiente
tropical terrestre e aquático.

Estratégias:

  • Criar e consolidar áreas protegidas
  • Suporte aplicado de conservação
  • Financiar aumento de capaci-tação individual e institucional
  • Promover a conservação de políticas adequadas
    e incenti-vos económicos
  • Desenvolver mecanismos de financiamento sustentável para complementar
    nossos investimentos

Lemos de Sa: A Fundação tem um forte interesse na conservação
do meio ambiente e a bacia dos Andes e da Amazônia tem a maior floresta
tropical remanescente. Proteger esta importante floresta tem implicações
globais. A maior biodiversidade vegetal e animal é encontrada nesta região,
e a oportunidade de protege-la é agora! A iniciativa Andes-Amazônia
da fundação visa à proteger as funções hidrológicas
e da biodiversidade da bacia, bem como o clima local. Gordon Moore já visitou
a região diversas vezes e tem apoiado os esforços para a conservação
por vários anos.

Mongabay: Como a iniciativa Andes-Amazônia da Fundação
Gordon e Betty Moore não aceita propostas não solicitadas, como
o Senhor fica consciente de novos projetos? O Senhor tem uma rede de contatos
e organizações ou seu pessoal fica atento às últimas
pesquisas que aparecem em revistas científicas ou em conferências?

Lemos de Sa: O pessoal da iniciativa Andes-Amazônia está
muito bem informada sobre a situação na bacia, não só
porque uma boa parte do pessoal é proveniente da região (temos
pessoal do Brasil, Peru, Colômbia e Venezuela) e têm contatos pessoais
e experiência, mas também porque viaja frequentemente para os lugares
e estão expostos às realidades de cada região. A rede de
beneficiários e organizações parceiras é outra fonte
de informação, assim como a pesquisa e as notícias da região.

Mongabay: Subvenções são dadas unicamente a organizações
ou também para pesquisa por cientistas individuais?



Lemos de Sa: As subvenções são dadas às
instituições – ONGs, instituições de pesquisa, universidades
– alguns programas geridos por estas organizações financiam bolsas
de estudo e pesquisas individuais. Portanto, a Fundação financia
indivíduos apenas indiretamente.

Mongabay: A Fundação Moore está financiando
alguma pesquisa referente à "terra preta", o processo de formação
de solo, que melhora a produção vegetal na Amazônia, ao
mesmo tempo que absorve carbono? A terra preta é criada através
de uma técnica pioneira de agricultura das populações pre-Colombianas
e parece estar ganhando muito interesse nos meios acadêmicos, mas não
tenho visto muitos indícios de que a técnica está sendo
amplamente aplicada. Tive vários consultas sobre "terra preta"
nos últimos meses.



Lemos de Sa: A Fundação Moore não está
financiando qualquer pesquisa sobre "terra preta".

 

 

 

Mongabay: Quais novas iniciativas estão sob consideração?


Organizações que
receberam financiamento Moore



A floresta Amazônica próximo ao Centro de Pesquisa Los Amigos,
em Madre de Dios, Peru. Fotografia cortesia da Associação
de Conservação da Amazônia.

Associação de Conservação da Amazônia
(amazonconservation.org)

A Associação de Conservação da Amazônia,
um grupo que visa conservar a diversidade biológica da bacia Amazônica,
é uma organização que recebeu financiamento da Fundação
Moore. De acordo com seu site, a Associação de Conservação
da Amazônia "prevê uma rede de terras do Estado, da comunidade,
e de particulares gerenciadas para conservação e uso sustentável
dos recursos, para que a diversidade biológica do sudoeste da bacia
amazônica seja conservada".




Yaloeefuh, um pagé da tribo Trio no Suriname. Fotografia cortesia
do Time de Conservação da Amazônia.

Time de Conservação da Amazônia
(amazonteam.org)

O Time de Conservação da Amazônia é um outro
grupo que recebeu financiamento da Fundação Moore. O Time
de Conservação da Amazônia forma parcerias com populações
indígenas para a conservação da biodiversidade, da
saúde e da cultura em florestas tropicais da América do
Sul.

Lemos de Sa: De vez em quando olhamos para novos assuntos, mas nesse
momento não temos nenhuma nova iniciativa para relatar.


Mongabay: Como você mede o sucesso de um projeto?



Lemos de Sa: Na fase de concepção de um projeto uma
série de metas/resultados estão definidos. Esses resultados são,
então, monitorados por beneficiários e pessoal da fundação.
O êxito de um projeto depende da entrega dos resultados, bem como da medição
do seu impacto na terra. Os resultados podem ser locais ou têr impacto
regional/nacional dependendo do projeto inicial.

 

Mongabay: Intel recentemente apresentava uma cidade no coração
da Amazônia capaz de Internet sem fio. A fundação foi envolvida
no esforço? A Intel Corporation participa nos esforços de conservação
da fundação?



Lemos de Sa: Não, a Fundação não foi
envolvida na divulgação da Intel, e a Intel não participa
em qualquer dos esforços de conservação da Fundação
.

Mongabay: Quais são os maiores obstáculos para o trabalho
da fundação?



Lemos de Sa: Conservação está fortemente vinculado
à questões de desenvolvimento, seja infra-estruturas, expansão
agrícola ou barragens hidroelétricas. O maior desafio é
o de promover o desenvolvimento em conjunto com a conservação
da biodiversidade. Os dois não são contraditórias se as
melhores práticas de utilização dos solos e zoneamento
são implementados no início do desenvolvimento. Infelizmente,
os governos não planejam 50 ou 100 anos para frente, mas a qualidade
de vida exige uma visão de longo prazo. Depois de ter perdido o que a
natureza fornece gratuitamente, as medidas para corrigir, substituir ou importá-lo
são muito caras. A água potável é o exemplo mais
convincente. Para preservar é barato; para tratamento e transporte é
muito caro. Portanto, a vontade política é o principal obstáculo
a qualquer iniciativa conservação.

Sobre Rosa Lemos da Sá

Rosa Lemos da Sá é atualmente o responsável pela Iniciativa
Andes-Amazônia. Anteriormente, ela serviu como Director de conservação
do World Wildlife Fund – Brasil. Lemos da Sá detém um PhD em Wildlife
Conservation da University of Florida, Gainesville, um Master of Science (MS)
em ecologia da Universidade de Brasília, DF, Brasil, e um Bacharelado
em Ciências (BS), em Wildlife Management, da Universidade De Wisconsin-Stevens
Point, WI.




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