Desmatamento maior ameaça para Amazônia que aquecimento global
Desmatamento maior ameaça para Amazônia que aquecimento global
Rhett A. Butler, mongabay.com
14/03/2008
Se condições do passado servem para indicações sobre condições futuras, a floresta amazónica pode sobreviver secas consideráveis e elevação de temperaturas provocados pelo aquecimento global, confirmam pesquisadores num artigo publicado na revista Eventos Filosóficos da Sociedade Real B.
Examinando registros de carvão vegetal e fósseis de toda a bacia
amazônica, Francis E. Mayle e Mitchell J. Power, da Universidade de Edimburgo
relatam que a floresta amazônica parece ter sido "notávelmente
resistente à condições climáticas bastante mais
secas do que as de hoje, apesar da ampla evidência de incêndios
florestais" durante o início do holocênio médio, período
de 4.000 à 8.000 anos atrás. A conclusão desafia outras
pesquisas que concluem que a Amazônia está à beira de uma
morte dramática devido à interação de desmatamento
acelerado, de aumento das incidências e da gravidade dos incêndios
florestais, bem como dos efeitos das alterações climáticas.
Mayle e Power dizem que o impacto das condições mais secas na
Amazônia, 4.000 à 8.000 anos atrás, era variado, mas que
as áreas mais afetadas foram aquelas com a estação seca
maior e mais grave: o Sul e o Leste da Amazônia. Mayle e Power escreveram
que registos de pólen das zonas sugerem uma mudança da floresta
de dossel fechado para floresta aberta e savana durante períodos secos.
Entretanto, na Amazônia ocidental, junto ao flanco da bacia dos Andes,
as condições secas desencadearam a substituição
de plantas de florestas de nuvens por vegetação das florestas
de várzea. Em outras palavras, as espécies da floresta tropical
migraram para elevações mais altas com diminuição
das chuvas. Contudo outros lugares mostraram poucas mudanças na composição
de espécies. Estas podem ter servido como "refugio" para eventual
futura recolonização retornando as condições húmidas.
O impacto do fogo
|
Muitos pesquisadores têm argumentado que, embora a Amazônia tem
sido palco de transição entre a floresta tropical e a savana no
passado, a atividade humana – especialmente fogo e desmatamento – vão
criar condições sem precedentes, empurrando-a para um ponto de
morte sem retorno perto do final do século. Mayle e Power contradizem
citando provas do passado de influência humana na região, levando
em conta que os registros do carvão apoiam a noção de que
sociedades pre-Colombianas
queimaram florestas da Amazônia. Embora Mayle e Power admitem que
as queimadas antigas eram provavelmente menos extensas do que as de hoje, eles
sugerem que projeções desastrosas para a Amazônia, devido
somente às alterações climáticas, podem ser exageradas.
"Os seres humanos, e não o clima, podem ter sido os principais
agentes de perturbação das florestas do Holocênio em muitas
partes da bacia, especialmente se a "Amazônia pre-conquistadora"
foi mais densamente povoada do que se pensava", eles escrevem . "No
entanto, um clima seco teria tido uma influência importante, tornando
as florestas mais propensas à incêndios. Queimadas anthropogenicas
teriam sido, portanto, uma ferramenta mais eficaz de desmatamento e através
de incêndios mais freqüentes de fugas, teriam levado a um aumento
de grandes incêndios como ocorre hoje durante secas especialmente graves
".
"Nossa análise mostra que, não obstante as alterações
florísticas, o bioma florestal na maior parte da Amazônia parece
ter sido extraordinariamente resistente as condições climáticas
significativamente mais secas do que as de hoje, apesar de provas generalizadas
de incêndios na floresta ", os autores continuam. "Embora os
efeitos da subida contínua de CO2 e dos cenários diferentes de
alterações climáticas sobre florestas da Amazônia
ao longo do século XXI continuam incertas … nossas percepções
do passado distante sugerem que o cenário da floresta Amazônica
"que morre recuando", simulado por Cox et al. (2000) e Betts et al.
(2004) é pouco provável. "
“A projected temperature increase of 3-8C over the twenty-first century…
in combination with drying and forest fragmentation, would be expected to increase
water stress and vulnerability to dieback, although this may be offset by higher
CO2 concentrations. Of much greater cause for concern should be the unprecedented
rates of deforestation, forest fragmentation… and uncontrolled burning, which
are much more serious and immediate threats than climate change.”
"Um aumento de temperatura projetado de 3 à 8 °C ao longo do
século vinte um … combinado com secagem e fragmentação
florestal, deixaria esperar um aumento da vulnerabilidade e do estresse hídrico
e "morre recuando", embora isto possa ser compensado pela maior concentração
de CO2. Um motivo de preocupação muito maior deve ser a inédita
taxa de desmatamento, fragmentação florestal … e queimada não
controlada, que são ameaças muito mais graves e imediatas que
as alterações climáticas ".