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Um olhar na crise de extinção da biodiversidade

Um olhar na crise de extinção da biodiversidade

Um olhar na crise de extinção da biodiversidade.
A educação é a chave diz biólogo tropical, David L.Pearson

Rhett A. Butler, mongabay.com
12/2/2008

Uma entrevista com Dr. David L. Pearson


Como as florestas tropicais – baús de tesouro biológico do mundo – continuam a diminuir, biólogos estão correndo para inventar formas para salvá-los e sua biodiversidade residente. Enquanto muitos biólogos de conservação falam de análise de viabilidade da população e de dilemas do layout de reservas, David L. Pearson, um professor de pesquisa na Faculdade de Ciências Vivas na Universidade do Estado da Arizona (ASU), em Tempe, Arizona, concentra-se numa abordagem diferente: Educação


Pearson after a long day of field work in New Caledonia in July 2006



Pearson, cujo trabalho inclui centenas de livros e documento incluindo uma série
de guias de fauna belissimamente ilustrados para as regiões da América
Latina
, acredita que a falta de conhecimento sobre ecossistemas é um
dos obstáculos mais significativos para enfrentar a crise atual da biodiversidade.
Fluente em cinco idiomas e capaz de "se virar", em vários outros,
Pearson realiza oficinas de duração de semanas no mundo inteiro
para explicar os fundamentos da biodiversidade e introduzir "o pensamento
crítico" para audiências que incluem funcionários do
governo local, empresários, educadores, estudantes e ambientalistas. As
viagens de Pearson são amplamente auto-financiadas, embora ele diga que
vendo o entusiasmo dos participantes de seminário em países em desenvolvimento,
é uma auto recompensa.. Pearson é também um contribuinte
do Pergunte à Um Biólogo, um recurso educativo para estudantes K-12,
e seus professores e pais.


Em outubro de 2006, tive o privilégio de me encontrar com o Dr Pearson
em seu escritório na ASU, onde ele respondeu algumas perguntas sobre o
seu trabalho na educação e na biologia de conservação,
sobre suas viagens e paixões, e sobre o futuro da biodiversidade.

Rhett A Butler (Mongabay): O Senhor fez uma série de pesquisas
sobre os besouros de tigre. O que estes insetos podem nos ensinar sobre o ecossistema
mais amplo? Podem servir como um procurador ou bio indicador da saúde de
um ecossistema? Você observou qualquer relação entre a degradação
ou perda do hábitat e a biodiversidade do besouro?

David L. Pearson (DLP): Há uma esmagadora quantidade de espécies
no mundo. A maioria delas (especialmente insetos, nematódeos, bactérias
e fungos) provavelmente não tenha ainda sido vista ou descrita por cientistas.
Como podemos programar os esforços de conservação ou da gestão
de prazo razoavelmente longo para eles e o seu hábitat, se nós nem
sabemos se existem? Ainda mais importante do que os seus nomes, não sabemos
quais são os seus hábitos e as necessidades de sobrevivência.


Um prato de besouros de tigre “Um
Guia de Campo para os besouros de tigre dos Estados Unidos e do Canadá

(Oxford Univ. Press, 2006)


Uma alternativa controversa é o uso de alguns dos poucos grupos de plantas
e animais, como os besouros de tigre, borboletas e pássaros, que foram
estudados mais profundamente para representar todas estas outras espécies
desconhecidas. Chamamos estas espécies representantes "sub-rogados"
ou "bio- indicadores" Porque bons indicadores são muito sensíveis
às mudanças no meio ambiente, podemos detectar o impacto das mudanças
nestes indicadores muito antes do que veríamos de outra forma. Nos velhos
tempos, mineiros de carvão levaram junto gaiolas com canários descendo
nos poços de minas. Os canários eram muito mais sensíveis
aos gases venenosos do que o homem, de modo que os mineiros observaram as gaiolas
regularmente, e se um canário de repente começou a ficar doente,
os mineiros correriam para a próxima entrada para evitar o gás que
eles próprios não puderam cheirar ainda.

Além disso, espécies de indicadores podem ser estudadas através
de grandes áreas. E onde encontramos mais do indicador, muitas vezes podemos
encontrar muitos outros tipos de espécies que são muito mais difíceis
de se ver e achar. Usando esse método, podemos encontrar rapidamente áreas
ricas em espécies e lhes conferir uma alta prioridade para esforços
de estudos e conservação.

Fomos bem sucedidos na aplicação de alguns destes indicadores para
problemas de conservação, mas temos que ter cuidado porque um pequeno
grupo de espécies, como os besouros de tigre, nem sempre podem representar
todas as outras espécies do hábitat. Descobrimos que estudos de
indicador tem muito mais probabilidade de ser útil quando usamos vários
indicadores simultaneamente; por exemplo: um predador, um comedor de folhas, e
uma planta, para melhor representar a totalidade do hábitat. Fomos capazes,
por exemplo, de usar besouros de tigre junto com pássaros, borboletas e
formigas para ajudar a estabelecer as fronteiras de um novo parque nacional no
nordeste do David L. Mostrando onde ocorreu o maior número de espécies
de todos esses diferentes tipos de indicadores, o governo definiu as divisas para
se certificar de que o maior número de espécies de muitos outros
organismos, como sapos e orquídeas, também seriam protegidos.


Mongabay: Qual é a sua perspectiva para a biodiversidade mundial
no futuro? Você acredita que estamos enfrentando a crise da "Sixth
Extinction" como muitos biólogos tem avisado?

DLP: Tenho que manter certo nível de otimismo, ou eu não
seria capaz de continuar na conservação. Na década de 1960,
alguns ecologistas previram que até no ano 2000 não sobraria mais
floresta tropical no mundo. Felizmente eles estavam errados. Temos de equilibrar
consciência dos perigos para o meio ambiente e a biodiversidade com uma
atitude positiva que podemos fazer alguma coisa para impedir ou, pelo menos, abrandar
os impactos que estão destruindo este e outros meio ambientes. Se desenvolvermos
uma mentalidade do dia do juízo final, corremos o risco de decidir que
não há nada que possamos fazer sobre isso e estamos parando de tentar.
Eu sempre termino minhas palestras sobre a floresta tropical com exemplos de sucessos
na preservação do hábitat, na educação ambiental
e nas mudanças das atitudes governamentais e empresariais..


Mongabay: Por que é que a biodiversidade é importante?
É importante o risco que algumas aves e insetos serão extintos dentro
de uma geração?

DLP: A importância da biodiversidade inclui a disponibilidade e o
direito de todos a desfrutar da natureza, um fator psicológico apenas.
Mas a biodiversidade também tem impacto na nossa qualidade de vida em outras
formas mais mensuráveis. Por exemplo, muitos dos nossos produtos alimentares
(frango, coco, baunilha, chocolate, café, chá), produtos de consumo
(borracha, alumínio) e muitos medicamentos provêm de florestas tropicais.
Temos pesquisado menos de 10% das plantas e dos animais nestas florestas tropicais
para verificar o seu potencial como alimentos adicionais, medicamentos e outros
produtos econômicos úteis. Conhecimento das interações
de insetos e aves com plantas economicamente importantes, através da polinização,
controle de pragas e doenças são vitais para a nossa capacidade
de gerenciar estes e outros hábitat para utilização a longo
prazo. A extinção única da abelha ou do morcego poderia significar
que uma árvore economicamente importante não vai sobreviver, porque
é dependente destas espécies para polinização.


Mongabay: Conservação tem sido bem sucedida? Já
reparou mudanças na implementação da conservação
nos últimos anos? Como podem ser melhorados os esforços de conservação
para preservar serviços em biodiversidade e ecossistemas?

DLP: Com mais de seis bilhões de pessoas em todo o mundo, temos
de medir os nossos sucessos na conservação com uma perspectiva equilibrada.
Será que um dia nós teremos de volta todos os meio ambientes intocados
de 1800? Não, e se fosse esse o objetivo da conservação,
nos teríamos poucas chances de sucesso. Em vez disso, é preciso
colocar os nossos objetivos em perspectiva Sim, podemos trabalhar para conservar
o máximo de grandes áreas de hábitat intocado, mas nós
sabemos que, como remanescentes, elas provavelmente terão de ser fortemente
gerenciadas. Por outro lado, grande parte da biodiversidade futura do mundo será
preservada em hábitat secundário de florestas de corte demasiado,
em lotes da cidade, e pequenos terrenos. Estes são hábitats que
poucos querem estudar ou preservar. No entanto, se nós não começarmos
a fazer planos para estes hábitats de segunda agora, eles poderão
ser extintas antes de nos percebermos o quanto são importantes.


Mongabay: Você tem feito grande trabalho em educação
ambiental através de oficinas. Você acredita que esses programas
são componente-chave para os esforços de conservação?
Fomentar interesse e conscientização ajuda a preservar fauna e flora
natural?

DLP: Minhas oficinas no mundo inteiro focalizam os "Princípios
básicos da biodiversidade." De certa forma as espécies e hábitats
que discutimos nestas oficinas são um pretexto para o desenvolvimento de
uma linha de pensamento que chamamos de "pensamento crítico."
As pessoas com as melhores intenções podem trabalhar na conservação,
mas com demasiada freqüência, muitos delas baseiam seus argumentos
e protestos sobre o que acham que a resposta deve ser ou desejam que seja. Com
pouca ou nenhuma informação sólida real para apoiar a argumentação
em favor da conservação ou práticas de gestão de longo
prazo, nós prejudicamos a longo prazo nossos esforços de conservação.
Um exemplo recente de que onde pensamento crítico poderia ter sido aplicado
melhor, foram as alegações recentes de redescoberta do Pica-Pau
bico de marfim num pântano em Arkansas. Todos nós queríamos
acreditar que era verdade, mas tal alegação fantástica necessitava
de uma prova fantástica. Essa prova, no fim não foi suficiente.
O retrocesso que pode vir será por incredulidade em futuras descobertas,
que de fato, são válidas. Temos fornecido dúvida e falta
de credibilidade que podem prejudicar esforços de conservação
e preservação de terras consideravelmente, porque não pensamos
ou olhamos para esta alegação com crítica suficiente. Eu
sempre informo os participantes nas minhas oficinas, para serem atentos para duas
bandeiras vermelhas nas discussões de esforços de conservação
e evitar usá-los, "Todo mundo sabe" e "Todos eles dizem"
Estes argumentos são dados pelos perdedores.


Mongabay: A maior parte de seus esforços nos últimos anos
se centralizava na conscientização local, mas é importante
também educar americanos e outros ocidentais sobre questões e locais
situados ao redor do mundo?

DLP: Absolutamente, norte-americanos precisam ser educados sobre essas
questões mesmo que nunca visitem áreas localizadas muito distantes.
Deveria ser óbvio para todos que os E.U., com 7% da população
mundial (somos agora o terceiro mais populoso país do mundo) usam talvez
20% ou mais da energia do mundo. Essa energia provém do mundo inteiro,
e não podemos nos dar ao luxo de nos considerar como isolados. Nossa economia
global é apenas um reflexo sobre o quanto o mundo está conectado,
mesmo com pequenos países dos quais muitos dos nossos cidadãos nunca
ouviram falar.

Mesmo algo tão trivial como fazer compras numa mercearia coloca você
em uma posição de poder econômico e de impacto ambiental.
Por exemplo, o que você escolheu para consumir e pagar, tem influência
na quantidade de floresta tropical que será desmatada. Abacaxi, açúcar,
alumínio, pimenta do reino, chá e café cultivados no sol,
são todos produtos que só podem ser cultivados após a completa
retirada da floresta nativa. Produtos como chocolate, baunilha, muitos medicamentos
e café cultivados na sombra, são produtos que podem ser colhidos
em florestas intactas ou quase intactas. Estas são apenas algumas ligações
entre muitas que mostram o quanto norte-americanos precisam saber do seu poder
e capacidade de influenciar a sobrevivência da biodiversidade a longo prazo,
bem como as populações locais que vivem no meio desta biodiversidade.


Mongabay: Você acredita que o desenvolvimento sustentável
é um componente-chave nos esforços de conservação?
É melhor se concentrar em estrita preservação ou abraçar
iniciativas de uso múltiplo?

DLP: Colocar todos os seus esforços de conservação
na atividade de cercar áreas de hábitat intocado é arrogante
e ignorante. É óbvio que tem hora e local para este tipo de preservação,
mas os norte-americanos têm que compreender que os povos e as culturas de
outras partes do mundo têm o direito de sobreviver e gozar dos benefícios
econômicos. Tratar outras culturas como iguais nem sempre é uma qualidade
do norte-americano, mas está no nosso próprio melhor interesse em
fazê-lo. O esforço ideal de conservação envolve a perseguição
de situações onde todos têm a ganhar especialmente em termos
econômicos, e os quais significam avanço no uso racional e de longo
prazo dos recursos naturais. Este objetivo só pode ser atingido com parcerias
verdadeiras, cooperação, compreensão profunda e sensibilidade
no contato com outras culturas. Forçar a população local
a deixar suas terras para que eco-turistas ocidentais possam ver tigres, pode
ter muitas implicações, que a longo prazo são muito prejudiciais
para os hbitats e espécies que estão tentando preservar.


Mongabay: Que conselho você pode dar aos estudantes que pretendem
prosseguir uma carreira na preservação ou conservação
da biologia? Existem diplomas específicos que devem ser considerados ou
a conservação hoje é tão multifacetada – que poderia
ser abordada a partir de várias disciplinas diferentes?

DLP: Existem ambos os títulos, a licenciatura e a graduação
na biologia de conservação, mas provavelmente mais do que destes
nós precisamos de advogados, empresários, engenheiros, políticos
e pessoas que decidam e sejam bem treinados em suas especialidades, mas entendam
e valorizem a necessidade de gerenciar racionalmente o mundo natural. Biólogos
podem ajudar a fornecer uma série de dados básicos e informações,
mas provavelmente poucos biólogos tomarão as decisões finais
e as determinações econômicas que terão impacto na
biodiversidade e no hábitat.


Mongabay: Você tem viajado o mundo inteiro — para mais de 60
países, você tem um lugar favorito para visitar?

DLP: Se o número de visitas a um país reflete meus lugares
favoritos, estive no Peru mais de 65 vezes desde 1968 e ao Equador mais de 50
vezes. Fui ao Butão, Índia e Tailândia menos vezes, mas muitos
de seus aspectos da natureza e das pessoas, os colocam também na minha
categoria favorita. Gabão, Uganda e África do Sul têm me ensinado
muito, e se classificaram também entre os meus favoritos.


Mongabay: O que podem fazer as pessoas aqui nos Estados Unidos para
ajudar a preservar a biodiversidade tanto local como globalmente?

DLP: Tornar- se consciente de que é o seu poder econômico
e político. Não ser ingênuo, mas ser otimista. Estudar os
fatos, ler livros, assistir oficinas, ouvir e pensar criticamente. Vote em pessoas
que tomarão decisões racionais e eficazes, e se eles não
estão disponíveis, considere entrar pessoalmente no processo de
tomar decisões. Viaje, aprenda sobre e aprecie outras culturas. Evite arrogância
e ignorância.




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