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Conservando a vida selvagem na Tanzânia, o país da maior biodiversidade da África

Conservando a vida selvagem na Tanzânia, o país da maior biodiversidade da África.

Uma entrevista com Tim Davenport: Conservando a vida selvagem na Tanzânia,
o país da maior biodiversidade da África.


mongabay.com

29/2/2008



Com ecossistemas na área do Lago Tanganyika até o Kilimanjaro
em Tanzânia, esse país tem a maior biodiversidade da África.
Embora Tanzânia é mundialmente famosa pelos seus safaris de animais,
o país também é hábitat de dois grandes pontos muito
importantes de biodiversidades: o Arco Oriental e as Montanhas "Albertine
Rift" circundando o Lago Tanganyika. Tanzânia tem reservado cerca
de um quarto de suas terras em uma rede de áreas protegidas e mais de
um sexto da renda do país é proveniente de turismo, a maior parte
do qual provém de viagens orientadas à natureza.







Dr. Tim Davenpor na alta floresta da Tanzãnia perto da montanha
Rungwe.

Apesar destas realizações de conservação, as paisagens
de natureza virgem e a biodiversidade da Tanzânia não estão
seguros. Alimentada por um aumento do crescimento populacional e da pobreza,
a agricultura de subsistência, a coleção de lenha, e a extração
de madeira fragmentaram e degradaram extensas áreas nominalmente protegidas.
Caça e utilização insustentável de produtos florestais
colocaram os ecossistemas e espécies mais em perigo ainda. Num futuro
próximo, as alterações climáticas assombram como
grande ameaça, não só as geleiras do Kilimanjaro, as quais
provavelmente vão desaparecer dentro de dez anos, mas também muitas
plantas e animais endémicos da Tanzânia encontrados nas suas florestas
montanhosas.



Tim Davenport, diretor regional da Sociedade de Conservação da
fauna (Wildlife Conservation
Society
(WCS)) na Tanzânia, está trabalhando para entender
melhor estas ameaças e salvar a biodiversidade da Tanzânia para
gerações futuras. Davenport, que, em 2003, descobriu
com outros uma espécie de macaco
na região sul do planalto
da Tanzânia, está trabalhando desde 1999 com WCS na Tanzânia.

Em Novembro de 2006, Davenport gentilmente respondeu algumas perguntas de mongabay.com.
Ele diz que embora "os seres humanos, por natureza, não são
um animal sustentável", o sucesso de conservação na
Tanzânia é possível através da educação,
de melhor compreensão da economia local, bem como do desenvolvimento
sustentável. Para futuros ambientalistas, Davenport oferece este conselho
chave: "não desista".

Uma entrevista com Tim Davenport

Mongabay: Como o senhor se envolveu na conservação do
meio ambiente e por que escolheu África Oriental para o seu trabalho?












Dr. Tim Davenport após de um passeio na floresta da Tanzânia.

Davenport: Desde que me lembro estava interessado no mundo natural.
De fato algumas das minhas primeiras lembranças são de olhar as
imagens na revista National Geographic, especialmente aqueles edições
do final dos anos 60 e início dos de 70 sobre tubarões e chimpanzés.
Meu interesse na biologia resultou na formatura em Zoologia da Universidade
de Leeds, na Inglaterra, embora eu nunca pensei de acabar em conservação
de meio ambiente. Todos os ecologistas na Universidade pareceram muito sérios
e intelectuais. Eu não tinha nenhuma das duas qualidades. Mas quando
me deram a oportunidade de permanecer e trabalhar para minha formatura, eu a
agarrei. Depois eu trabalhei brevemente como editor de ciência e, em seguida,
no início dos anos 90 aceitei uma posição no Departamento
Florestal da Uganda, avaliando a biodiversidade da floresta
natural do estado. Foi uma experiência fantástica e única
e viajava para África desde daquela época. Eu nunca escolhí
a África Oriental ativamente. Fiquei com o Departamento Florestal da
Uganda e, em seguida, trabalhei nos Parques Nacionais "Impenetrável
de Bwindi" e "Mgahinga Gorilla" e também na Universidade
Makerere. Fiquei na Uganda por cinco anos. Depois trabalhei nas florestas no
sudoeste de Camarões, com o Fundo Mundial para a Natureza, numa experiência
completamente diferente. Depois, em 1999, fui transferido para a Tanzânia
com a Wildlife Conservation Society (WCS).

Mongabay: Tanzânia planejou a reserva de mais de um quarto do
país para áreas protegidas – uma conquista notável de conservação.
Como isso é implantado na prática? Parques são bem-respeitados
ou sofrem de caça clandestina, de desmatamento e outras problemas? A população
local aceita bem os esforços para conservação ou existem
conflitos?








Bustani ya Mungu – Jardim de Deus. Orchídeas
Satyrium e Habenaria no planalto de Kitulo. Foto: Tim Davenport
/ WCS


Davenport: Parques, reservas e áreas protegidas no mundo inteiro
enfrentam problemas e sofrem de atividades ilegais. Mas Tanzânia enfrenta
dois obstáculos adicionais. Um deles é a pobreza que domina a
vida de todo mundo e domina cada decisão. O outro é a enorme responsabilidade
de gerenciar um país com a maior biodiversidade na África. É
verdade que uma grande percentagem do país é nominalmente reservada,
mas, na realidade, fora dos parques nacionais, recursos para gerenciar estas
áreas são sempre muito limitados. Esse é um grande desafio.
Além disso, a maioria das áreas protegidas foram decretadas na
época do colonialismo e foram baseadas exclusivamente na gestão
de grandes animais de caça. Isso foi muito antes dos tempos da conservação
da biodiversidade, dos serviços de proteção dos ecossistemas
e dos sistemas representativos de areas protegidas (PA). Apesar disso, progresso
está sendo feito, não somente com o mais novo parque nacional,
Kitulo, que foi designado principalmente para proteger suas flores silvestres
sem igual no mundo.

Mongabay: No ano passado o senhor junto com outros descobriram uma espécie
de macacos que era tão sem paralelo que foi classificada como seu próprio
genus – a primeira categorização deste tipo de um macaco desde 1923.
Quais são as perspectivas para esta e outras espécies de animais
selvagens na Tanzânia? Quais são as maiores ameaças à
biodiversidade e terras selvagens?

Davenport: Como conservacionista sou um optimista por natureza, embora
muitas vezes é difícil manter esta atitude. O Kipunji está
seriamente ameaçado e provavelmente será classificado como ‘Criticamente
Ameaçado". No momento, estamos terminando um censo completo – um
censo em que temos tentado localizar todos os grupos existentes, e contamos
todos os indivíduos dentro de cada grupo – e que esta informação
estará disponível em breve. Como se pode imaginar, esta tarefa
foi demorada e, devido ao terreno inclinado de floresta montanhosa, era tambám
bastante árdua. No entanto, era importante de fazer isso o mais rápido
possível, para experimentar e pôr em prática a estratégia
mais efetiva de conservação. Ficar tanto tempo na floresta nós
permitiu também aprender muito sobre a ecologia e o comportamento do
Kipunji, e isso foi tanto útil quanto divertido.







O Kipunji (Rungwecebus kipunji). Foto por Tim Davenport.





Ajuda Tim Davenport

Salve o Kipunji!




Porém, na parte de baixo do Pico do Rungwe – onde o maior número
de Kipunji vive – a situação está muito mau porque não
tinha uma gestão eficaz durante décadas. A exploração
madeireira ilegal, a produção de carvão vegetal e a caça
são atividades comuns e a floresta está muito degradada. Muitos
dos grandes mamíferos, como o extremamente raro Duiker-de-Abbot
(antílope), estão sob ameaça considerável por armadilhas.
Para piorar as coisas, como resultado da floresta empobrecida, muitas espécies
(incluindo Kipunji) são forçados a sair da mata mais e mais a
busca de comida nas plantaçãoes. Como consequência eles
morrem freqüentemente em armadilhas dos agricultores que estão apenas
tentando proteger seus meios de subsistência.

Portanto, estamos trabalhando com o governo e as comunidades locais para ver
como gerenciar melhor a área do Pico Rungwe para o benefício de
todos os interessados. Estamos também usando o Kipunji e Duiker-de-Abbot
como "espécie emblemática" em nosso trabalho de educação
nas aldeias e escolas em torno dessa montanha.

Mongabay: Você trabalhou nas florestas montanhosas da Tanzânia
– áreas que parecem ser vulneráveis às alterações
climáticas. O senhor espera que o aquecimento global tem um impacto nessas
florestas? Quanto é a ameaça de mudança climáticade
em relação das ameaças locais?










Pico Rungwe. Foto por Tim Davenport.


Davenport: É difícil de dizer. Embora eu não tenha
dúvidas sobre o impacto negativo que a humanidade tem sobre o nosso clima,
mas, prevendo impactos futuros não é fácil, porque existem
tantos fatores variáveis a serem considerados. Se as florestas estão
encolhendo (e nós sabemos que eles são), qual é a participação
da extração não gerenciado, de fogos, e da mudança
do clima? Do mesmo modo, temos notado a secagem de córregos e rios. Isso
é um resultado direto de desmatamento, ou de água desviada para
irrigação, ou a história é mais complexa? Enquanto
estamos tentando achar respostas para estas perguntas, obviamente temos a responsabilidade
de primeiro colocar todos os fatos na mesa.

Mongabay: Qual é a melhor forma de proteger a fauna da Tanzânia
? Como podem ser melhorados os esforços de conservação?
O eco-turismo tem um papel importante ou os turistas podem ter efeitos negativos
para os hábitats e a cultura local?









O escarpamento Livingstone no Parque Nacional Kitulo visto
da cimeira Rdo Pico Rungwe. Foto: Noé Mpunga / WCS O Poroto, cameleão de três chifres (Chamaeleo
fuelleborni) é uma das raros cameleões no continente, globalmente
restrito a apenas quatro lugares no Planalto Sul da Tanzânia. Atingindo
um comprimento de 22 cm, os machos desta espécie arbórea
são altamente territoriais, com os seus chifres de lutar por fêmeas.
Elas dão luz a até 15 jovens (Foto (c) Tim Davenport / WCS)







Davenport: Conservação é um negócio extremamente
complicado. A fim de ser realmente bem sucedido, todas as peças do quebra-cabeça
devem estar no seu devido lugar. O problema real de conservação
deve ser inteiramente compreendido, todos os motivos devem ser conhecidos, incentivos
eficazes e adequados devem ser concebidos e monitorados, e é necessário
que haja vontade política para apoiar quaisquer alterações.
Os seres humanos, por natureza, não são um animal sustentável.
Aprender a tornar-se sustentável no contexto de uma crescente população
é extremamente difícil. Em muitas formas a ciência da conservação
é economia, e a arte é política. A biologia muitas vezes
é apenas a parte mais fascinante suportando a conservação.

Pode não haver uma única melhor forma de proteger a fauna na
Tanzânia, mas as melhores abordagens atuais são geralmente de uma
base ampla. Vou sempre pensar, por exemplo, que a educação é
vital.



Para praticantes de conservação as apostas são altas. Nem
os governos, as comunidades locais ou doadores tendem a tolerar falhas, mas
num negócio que é tão complexo, todos nós precisamos
da liberdade de experimentar novos métodos e aprender com nossos erros.
Infelizmente, raramente existe esse luxo.

Eco-turismo tem realmente um papel importante, embora hoje esta palavra significa
cada vez menos. Demasiadas vezes a palavra tem sido sequestrada por empresários
menos escrupulosos numa tentativa de atrair clientes. Apesar disso, o turismo
contribui com 17% para o PIB da Tanzânia, e por isso evidentemente é
de enorme importância para o país. Porém, é importante
lembrar, que o turismo não é, em si mesmo, a panacéia.
Muitas das áreas mais remotas (como o Planalto Sul) são improváveis
de receber o suficiente do turismo para sustentar a conservação,
e então elas terão de contar com outros meios ou fundos, provenientes
de outras fontes, para apoiar os esforços de conservação.

Mongabay: Como podem as pessoas aquí nos Estados Unidos ajudar
os esforços de conservação na Tanzânia?












Foto por Tim Davenport.


Davenport: Diretamente eles podem apoiar qualquer uma das diferentes
organizações sem fins lucrativos que trabalham na Tanzânia,
ou mesmo oferecer-se para ajudar como voluntário. Ligações
entre cidades ou escolas são sempre boas medidas de contribuir. Você
estaria surpreso ao ver quanto pode ser feito com um pouco de imaginação.
Temos um fundo Kipunji criado especificamente para nos ajudar a proteger o Kipunji
e o seu hábitat, e muitos projetos têm campanhas semelhantes. Gostaria
também incentivar fortemente as pessoas a visitar Tanzânia. É
um país extremamente belo e diversificado com um povo dando sinceramente
as boas-vindas. Tanzãnia tem a montanha mais alta e o lago mais profundo
da África. Tem o Parque Nacional de Serengueti e o Oceano Índico.
Uma coisa importante a lembrar é de tentar gastar o máximo possível
de dinheiro localmente e dentro do país.



Indirectly, I think it is extremely important that everyone helps keep the environment
high on the political agenda. Future generations will not thank us for opting
for quick profits now for a few, over a more sustainable and healthier future
for the majority.



Indiretamente, na minha opinião, é extremamente importante, que
todo mundo ajude a manter o meio ambiente no topo da agenda política.
As gerações futuras não vão nos agradecer por ter
optado hoje por lucros rápidos para pouca gente, em vez de optar por
um futuro mais sustentável e saudável para a maioria.

Mongabay: Finalmente, você tem algum conselho para os estudantes
que pretendem seguir uma carreira de conservação?












Foto por Tim Davenport.


Davenport: Em primeiro lugar, eu diria, embora biologia seja o percurso
tradicional, existem também varias outras competências muito necessários
– e muitas vezes subutilizadas – incluindo economia, direito, sociologia, informática,
antropologia, política, educação etc.. As competências
essenciais necessárias para um conservacionista, no entanto, são
um amplo conhecimento geral e boas habilidades com pessoas. Portanto, quanto mais
as pessoas possam viajar para muitos lugares diferentes, ler sobre muitos assuntos
diferentes e ouvir muitas opiniões diferentes, melhor é.

E finalmente, não desista. Se fizer isso, em primeiro lugar, você,
provavelmente, não era a pessoa certa para a conservação.





Links relacionados



Sobre Tim Davenport

Tim Davenport nasceu em Manchester, Inglaterra, e morava e trabalhava em três
países africanos desde que terminou seu doutoramento em zoologia. Em Uganda,
trabalhou para o Departamento Florestal, a universidade de Makerere e para os
Parques Nacionais da Uganda, e em Camarões, ele executou projetos para
o Fundo Mundial para a Natureza. Tim mudou-se com WCS para Tanzânia, em
1999, e lá ele criou o Southern Highlands Conservation Program (SHCP) no
sudoeste da Tanzânia e o Southern Rift Program em Tanzânia, Malawi
e Moçambique. Ambos os programas efetuam pesquisas, conservação
de comunidades e gestão de áreas protegidas em habitats muito ameaçados.
Tim tem trabalhado em mais de 80 florestas e reservas africanas, e esteve envolvido
na designação de novos parques nacionais em ambos os lados do continente.
Ele publicou artigos sobre temas desde as prioridades nacionais de conservação
até a ecologia de invertebrados, e do comércio de orquídeas
até a distribuição de chimpanzés. Ele liderou a equipe
que descobriu o primeiro Kipunji (Rungwecebus kipunji), na região do Pico
Rungwe, e foi autor principal de um artigo em Maio 2006 na revista Science que
descreveu o Kipunji como o primeiro novo gênero de macaco na África
após 83 anos. Suas fotografias foram também amplamente publicadas.
Em setembro de 2006, Tim foi nomeado Diretor de País da WCS para Tanzânia
(WCS Country Director in Tanzania).
Além do SHCP, WCS tem projetos de conservação no Ecossistema
Tarangire-Simanjiro no norte da Tanzânia, a Paisagem Saba de Rungwa-Ruaha,
as florestas costeiras de Zanzibar, bem como projetos de pesquisa no Serengeti,
nas florestas na beira sul do lago Tanganyika e as montanhas do Arco Oriental
.




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