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Pobreza e corrupção reduzem a eficácia dos parques da floresta tropical

Pobreza e corrupção reduzem a eficácia dos parques da
floresta tropical
mongabay.com
30/1/2008

Corrupção e pobreza fazem ‘parque no papel’

Pobreza e corrupção estão interligados com maior incidência
de incêndios nas reservas da floresta tropical, relata um novo estudo publicado
na revista Ecological Applications. Países pobres e corruptos
— como Camboja, Guatemala, Paraguai e Serra Leoa — têm os parques menos
eficazes quando medidos em termos de incidência de incêndios em relação
às áreas de "pulmão" ao redor. As conclusões
têm implicações significativas para os esforços de
conservação da floresta tropical.


O estudo, conduzido pelo Dr. S. Joseph Wright do Smithsonian Tropical Research
Institute (STRI) no Panamá, calculou a "densidade de detecção
de fogo", ou o número de incêndios detectados por quilômetro
quadrado por ano, dentro de 823 florestas tropicais e zonas de pulmão contíguas.
Ele usou dados do Spectroradiômetro de Imagens de Resolução
Moderada da NASA (MODIS), de 2002 a 2004. A relação foi então
usada para examinar a variação em nível nacional da eficiência
da reserva para 37 países tropicais que tem diferenças muito grandes
na extensão da floresta, no desenvolvimento econômico e na densidade
populacional humana.”


Oito variáveis — área florestal per capita em 2000, a taxa de desmatamento
na década de 1990, o PIB per capita, um índice de desenvolvimento
humano, a densidade populacional em 2003, a taxa de crescimento da população
de 1975 a 2003, um índice de percepção de corrupção,
e os antecedentes da densidade de detecção de fogo calculada para
o país todo foram usados para arreliar as relações entre
a pobreza, a corrupção, e a eficácia da reserva florestal
em termos de incidência de incêndios.

Os pesquisadores utilizaram a freqüência dentro de parques como
indicador de eficácia do parque, "pois o nível histórico
de incêndio em florestas tropicais úmidas é baixa, por isso
a presença de fogo, muitas vezes indica que seres humanos estão
envolvidos na extração madeireira, limpando terrenos para a agricultura
ou outras conversões de uso de terra", de acordo com STRI.


“Wright e colegas concluem que reservas de florestas tropicais tendem
a se tornar mais eficaz”, com o bem-estar humano melhorando e a corrupção
diminuindo.

"Dados de satélite sobre freqüência de incêndios
fornecem uma medida de eficácia de parque florestal entre países",
disse Wright. "É muito claro em nosso estudo que a pobreza e a corrupção
limitam a eficácia dos parques criados para proteger as florestas tropicais.”



O pulmão: Proporção de detecção de fogo
da reserva




Foto refletindo uma amostragem dos resultados do estudo de Wright et al.
Por Rhett A. Butler.


O novo estudo acrescenta refinamento em comparação às
pesquisas anteriores que encontraram que parques de florestas são
pelo menos parcialmente eficaz para reduzir incêndios. Um estudo de
2001, publicado em Science por Aaron G. Bruner e colegas descobriram que
o estatuto de reserva reduziu pastoreio, caça, fogo, extração
madeireira e desmatamento de 60 a 97% de 93 parques em 22 países
tropicais. Semelhantemente, uma pesquisa de 2005 liderada por Daniel Nepstad
do Woods Hole Research Center publicada em Conservation Biology informou
que desmatamento foi 1,7 à 20 vezes inferior em parques e reservas
de índios do que em áreas diretamente fora do perímetro
das terras protegidas.

Os pesquisadores descobriram que a proporção de incên-dios
no interior de reservas em compa-ração à áreas fora
das reservas pode ser enviesada em situações de incêndios
de intensidade excep-cionalmente alta ou baixa, tanto dentro como fora de reservas.Os
resultados indicam que entre os países tropicais, Costa Rica,Jamaica,
Malásia, Taiwan tem as reservas florestais mais eficazes referente à
incidência de fogo.


"Densidades de detecção de fogo se aproximam à zero
dentro de suas reservas de floresta úmida", escrevem os pesquisadores.
"Esse nível de sucesso estabelece um padrão que deve ser
atingível em outros lugares. Porém, estes quatro países
estão entre um terço dos mais ricos e menos corruptos dos 37 países
aqui considerados e tem em comum uma longa história de estabilidade política.

Entretanto, "detecções de fogo fornecem menos evidência
que reservas florestais tropicais úmidas são eficazes em muitos
países mais pobres e em países ocupados por corrupção.
Camboja, Guatemala, Paraguai e Serra Leoa tiveram a pior proporção,
com os incêndios no interior das reservas só marginalmente inferior
comparado ao exterior das reservas, indicando maior probabilidade de os chamados
"parques papel " — áreas protegidas que existem apenas nominalmente,
mas não na prática.


Dados de MODIS

Fumaça de incêndios agrícolas e florestais queimando
em Sumatra (à esquerda) e Bornéu (à direita) em finais
de Setembro e início de Outubro de 2006 cobriram uma vasta região
com a fumaça que interrompeu trânsito rodoviário e aéreo
e empurrou a qualidade do ar à níveis insalubres. Esta imagem
do Spectroradiômetro de imagens de resolução moderada
(MODIS), do satélite Aqua da NASA tirada em 1 º de outubro de
2006, mostra lugares onde MODIS detectou incêndios queimando ativamente,
marcados em vermelho. Fumaça se espalha em uma coberta cinza – branca
para o norte. A imagem NASA criada por Jesse Allen, Observatório
de Terra, utilizando dados fornecidos por cortesia do Time de Resposta Rápida
da MODIS.

“Paraguai tinha o segundo maior nível de corrupção percebido
nas Américas depois de Haiti e a maior taxa de desmatamento nos anos 90
no mundo inteiro", escrevem os autores. "Camboja sofreu uma guerra civil
marcada pelo genocídio de 1970 até o Khmer Rouge se render em 1999.
Guatemala sofreu uma guerra civil de 1960 até o tratado de paz de 1996.
Sierra Leone sofreu uma guerra civil, genocídio, bem como o deslocamento
de cerca de um terço da sua população entre 1991 e 2002.
Instabilidade política, corrupção e pobreza comprometem a
eficácia de reservas da floresta úmida nestes quatro países.”



No Congo e Suriname, ambos os países pobres e notoriamente corruptos com
grandes áreas de cobertura florestal, Wright e colegas descobriram que
densidades de detecção de incêndio são baixas, tanto
dentro como fora das reservas, aparentemente, beneficiados de "proteção
passiva por isolamento das atividades humanas que aumentam a freqüência
de fogo. Eles acharam casos semelhantes na bacia Amazônica.

"Outros países onde baixas densidades de detecção
de incêndio dentro das reservas florestais úmidas e áreas
pulmão contíguas, sugerem que a proteção passiva
é importante, incluem Camarões e reservas remotas na Amazônia
Brasileira, Colômbia, Equador e Peru.

No Quênia, na Índia, e no Estado mexicano de Chiapas, os autores
relatam que "densidades de detecção de fogo realmente tendem
a ser maior no interior das reservas florestais úmidas do que nas zonas
contíguas de pulmão", resultados que provavelmente "refletem
utilização intensa da terra que impede incêndios nas zonas
pulmão, a falta de combustível para sustentar incêndios
nas zonas – pulmão, intensa pressão humana sobre reservas, e combustível
suficiente para sustentar incêndios no interior das reservas.”


Contrastes fortes dentro da Indonésia



Intensidade de detecção de incêndios em Bornéu
na Indonésia, tem as áreas com a menor eficácia de
proteção referente à prevenção de incêndio.
A relação de Irian Jaya é invertida por densidade baixa
de incêndio, tanto dentro como fora das reservas. Imagem por Rhett
A. Butler [clique na imagem para ampliar]

A disponibilida-de de dados para a Indonésia tornou possível para
pes-quisadores distin-guir entre ilhas Eles acharam a situação em
Sula-wesi e Bornéu de ser particularmente grave.


“As reservas de Bornéu recentemente sofreram graves níveis de extração
madeireira e desmatamento florestal facilitados pela corrupção",
explicam os autores. "Detecções de incêndios indicam
que a crise no Bornéu é quase tão grave como crises em curso
no Camboja, Guatemala, Paraguai e Serra Leoa. Em total contraste, as reservas
de Java parecem estar entre as mais eficazes nos trópicos… As reservas
de Irian Jaya, como a parte da Nova Guiné era conhecida anteriormente,
controlada pela Indonésia, parecem se beneficiar da proteção
passiva através do isolamento com baixa densidade de detecção
de incêndio semelhante dentro das reservas e suas zonas de pulmão.”



Implicações


O novo estudo não é o primeiro a mostrar que "a maioria das
reservas de florestas tropicais úmidas são, pelo menos parcialmente
eficazes em reduzir incidência de incêndio", mas ajuda a explicar
porque algumas reservas funcionam melhor do que outras.

"Reservas de florestas tropicais úmidas variam descontroladamente
em sua eficácia para reduzir incêndios", observam os autores.
"Precisamos urgentemente compreender as causas desta variação,
a fim de que medidas possam ser tomadas para melhorar a eficácia de todas
as reservas florestais tropicais.”

Os autores dizem que suas pesquisas podem ajudar. Como parte desta publicação,
dados sobre freqüência de incêndios de 3.964 reservas tropicais
serão colocadas online.


“Esperamos que esses dados facilitarão análises nacionais, regionais,
e ainda a nível mundial e irão gerar novos conhecimentos para
melhorar o sucesso de reservas da floresta tropical. Entretanto, aumentos de
pessoal e de financiamento já são conhecidos por melhorar a eficácia
das reservas tropicais. Países pobres e corruptos — como Camboja, Guatemala,
Paraguai e Serra Leoa — têm os parques menos eficazes quando medidos
em termos de incidência de incêndios em relação às
áreas de "pulmão" ao redor.

Arturo Sanchez – Azofeifa e Carlos Portillo – Quintero, da Universidade de
Alberta e Diane Davies, da Universidade de Maryland também foram envolvidos
na pesquisa.

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