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A Amazônia é mais valiosa para compensações de carbono do que para gado ou soja?

>A Amazônia é mais valiosa para compensações de carbono do que para gado ou soja?

A Amazônia é mais valiosa para compensações de
carbono do que para gado ou soja?
Rhett A. Butler, mongabay.com
12/2/2008



Depois de uma forte queda nas taxas de desmatamento desde 2004, vastos incêndios na Amazônia brasileira (setembro e outubro de 2007) sugerem que o desmatamento pode aumentar este ano. Dito isso, desde 2000 o Brasil perdeu mais de 60000 milhas quadradas (150000 quilómetros quadrados) de floresta tropical – uma área maior do que o estado da Geórgia ou o país de Bangladesh. A maior parte dessa destruição foi impulsionada pela geração de pastagens de gado e pela agricultura, muitas vezes em associação com o desenvolvimento e melhorias da infra-estrutura. Matérias primas com nível de preços mais alto, especialmente no setor de carne e de soja, têm mais impulsionado a conversão florestal na região.

Enquanto interesses de desmatamento na Amazonia são mais
fortes do que nunca
, preocupações accumuladas com as
alterações climáticas e esforços para dominar as
emissões de gases com efeito estufa podem fornecer novos incentivos econômicos
para oslatifundiários preservarem florestas, através de um conceito
conhecido como "desmatamento evitado".

"Desmatamento evitado" é o processo pelo qual os proprietários,
sejam eles os governos, comunidades, ou particulares, vendem os direitos de
carbono em um determinado espaço para investidores privados. O investidor
privado, em seguida, vende os créditos de carbono no mercado internacional
para as empresas que procuram estes créditos para compensar suas emissões.
No âmbito do acordo de Quioto, somente plantações de florestas
e reflorestamentos são elegíveis para créditos de carbono
– proteção florestal é especificamente excluída
de receber créditos de carbono – mas um impulso considerável para
evitar desmatamento torna provável que o mecanismo seja cuidadosamente
examinado durante a próxima ronda de conversas sobre clima em Bali, Indonésia
em dezembro. No mês passado, um grupo de oito países tropicais
contendo 80 por cento do restante mundial de cobertura florestal tropical –
Brasil, Malásia, Papua Nova Guiné, Gabão, Camarões,
Costa Rica, Congo e da Indonésia – anunciaram
uma aliança
para pressionar "desmatamento evitado"
na conferência em Bali.

Existindo a possibilidade que financiamento de carbono através "desmatamento
evitado" se torne realidade, será que ela faz sentido econômico
para proprietários florestais na Amazônia para começar a
proteger a floresta sendo compensados pelo carbono, em vez de tirar a floresta
para pastagem de gado, fazendas de soja, ou m3 de madeira? A análise
preliminar sugere que sim, "conservação carbono" poderia
ser uma alternativa atraente para outros usos da floresta Amazônica. Além
disso "desmatamento evitado" faria mais do que ajudar a mitigar as
alterações climáticas, porque a floresta em pé confere
benefícios adicionais – incluindo valor de opções, preservação
da biodiversidade, bem como outros serviços ligados aos ecossistemas.


Cálculos



Compensações de carbono versus outros tipos de uso de terra
na floresta tropical da Amazônia.



Segue uma comparação estimativa entre compensação
de carbono e outros usos florestais – especificamente agroindustria, pecuária,
exploração florestal, madeira de plantações, e colheita
de produtos florestais sustentáveis (que poderão continuar a ser
efetuadas ao abrigo do regime de "desmatamento evitado" ). Observe que
estes números serão atualizados na medida que mais dados estejam
disponíveis.

Uma palavra de cautela: estes números são especulativos. Muitos
pormenores devem ser elaborados antes do financiamento de carbono para"desmatamento
evitado" (AD) tornar-se uma realidade. O destino do "desmatamento
evitado" será determinado na reunião sobre clima em dezembro
em Bali.


Outra apresentação de cenários.

Compensaçãoes de Carbono.

É difícil antecipar preços porque compensações
de carbono de "desmatamento evitado", atualmente, não fazem
parte de qualquer quadro jurídico de emissões. Para o presente
exercício uma faixa de preços é apresentada. Estes preços
são baseados em valores reais mundiais de 2006 para vários mecanismos
– juridicamente válidos, voluntários; subsídios e transações
com base em projetos.


Subsídios
Mercado Europeu de Emissões $22.12
New South Wales (Australia) $11.25
Chicago Mercado de Emissões $3.80
Transações
baseadas em Projetos
CDM*) Primário $10.70
CDM Secundário $17.76
Implementação Conjunta $8.81
Outras formas de conformidade $4.65

*) Clean Development
Mechanism=Mecanismos de desenvolvimento limpo
Números da tabela cortesia do Banco Mundial "Status e Tendências
do Mercado de Carbono 2007"


 

Mapa de classes de biomassa viva acima do solo (AGLB) de mata virgem
de terra firme derivado da classificação através
da regra de decisão e múltiplas camadas de dados de sensoriamento
remoto. Cortesia de Saatchi et al 2007.

Armazenamento de carbono na floresta amazônica depende da estrutura e dos
tipos de vegetação. Numa publicação da revista Global
Change Biology 2007
, cientistas de ciclo de carbono liderados
pelo Dr. Sassan Saatchi relataram que a biomassa acima do solo da floresta tropical
virgem na Amazônia em geral variou entre 150-350 toneladas de carbono por
hectare (550-1283 toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente
[MtCO2e]). O armazenamento de carbono acima do solo em paisagens agrícolas
e pastagens é consideravelmente menor – geralmente bem abaixo de 100 toneladas
por hectare. Brown e Pearce (1994) sugerem que o valor líquido de carbono
liberado por desmatamento da floresta tropical primária e secundária
é da ordem de 100-200 toneladas por hectare (367-733 MtCO2e), já
considerando o carbono fixado pela posterior utilização do solo,
.


A faixa de peso da biomassa (toneladas por hectare) para tipos gerais
de vegetação na Bacia Amazônica. Os autores relatam
a seguinte distribuição por categoria de vegetação
para a bacia: mata virgem em terra firme (62,3% da Amazônia legal
[(8.235.430 km2]); planícies de águas e florestas inundadas
(4,19%); floresta secundária (1,67%); savana com floresta (24,47%);
e savana de relva e arbustos (4,79%). Os autores relatam que a biomassa
varia na média conforme segue: florestas densas 272,5 Mt / ha,
florestas abertas 200,2 Mt / ha, florestas de bambu 212,3 Mt / ha, lianas
/ floresta seca 189,7 Mt / ha, florestas estacionais deciduais 225,6 Mt
/ ha, e várzeas (florestas inundadas) 248,3 Mt / ha. Imagem produzida
por Rhett A. Butler utilizando dados da autores.

Sob o cenário apresentado, o custo das compensações de
carbono foram assumidos com 25 por cento do produto para cobrir despesas de
gestão e fundos retidos em garantia (para segurança em caso de
destruição ou degradação florestal).

Gado



O gráfico acima, mostrando desmatamento na Amazônia por tipo,
baseia-se nos valores médios de faixas de estimativa. Observe a
baixa estimativa da agricultura de grande escala. Entre 2000-2005 cultivo
de soja resultou numa percentagem pequena do desmatamento direto total.
mais

Cerca de sessenta por cento do desmatamento na Amazônia brasileira pode
ser atribuído à limpeza de terra para pastagem de gado. Embora grande
parte desta compensação seja utilizada para especulação
imobiliária e como um seguro contra a inflação em vez de
produção de gado, a pecuária é uma utilização
rentável das terras na Amazônia. Hoje pecuaristas brasileiros podem
esperar $ 80-110 líquido por hectare, com um rendimento médio de
5 por cento em operações vaca e bezerro e 8-10 por cento para confinamento.
Estimativas anteriores – nomeadamente pelo Dr. Charles M. Peters e colegas em
1989 – põem o valor atual líquido da pecuária mais perto
de $ 3.000 por hectare.

Análise "breakeven": supondo uma compensação
de carbono de 550 MtCO2e/ha de floresta, o ponto "breakeven" na pecuária
seria de $ 2.00-5.38 por MtCO2e.


Extração de Madeira

O retorno da extração de madeiras varia, dependendo como a madeira
é extraída e quais espécies estão presentes. Tipicamente,
uma grande diversidade de árvores da floresta conspira para manter a
exploração madeireira com rendimentos baixos: enquanto centenas
de árvores podem ser encontradas num único hectare, a poucos serão
de interesse comercial. As estimativas variam entre $ 156 a $ 1.081 por hectare
referente técnicas de extração com baixo impacto e para
$ 600 por hectare utilizando convencionais métodos de extração
(Almeida e Uhl 1995).

Análise "breakeven": Supondo uma compensação
de carbono de 550 MtCO2e/ha de floresta, o ponto "breakeven" na extração
de madeira seria de $ 0.28-1,97 por MtCO2e.



Plantação de Florestas

Peters et al. (1989) estimam o valor líquido atual de uma plantação
de Gmelina de $ 3.184 por hectare.

Análise "breakeven": Supondo uma compensação
de carbono de 550 MtCO2e/ha de floresta, o ponto "breakeven" para
uma plantação Gmelina seria de $ 5,79 por MtCO2e.

Agricultura

Taxas
Anuais de desmatamento e em expansão de plantação
de soja para os estados da Amazônia brasileira 1990-2005 (1995-1996
e 1998-1999 foram negativas). Gráficos baseados em dados governo
brasileiro. Mais sobre soja na Amazônia

A agroindustria é cada vez mais viável na Amazônia, devido
à melhoria das variedades vegetais e das tecnologias. No entanto, cultivo
em larga escala de culturas anuais exige a utilização intensiva
de pesticidas e fertilizantes, aumentando os custos de produção.
No estado de Mato Grosso, no coração da alta conjuntura agrícola
da amazônia brasileira , o departmento de Agricultura dos E.U.(março
de 2007) relata que soja gera uma receita de $ 1.540-1.650 por hectare. Após
custos variando entre $ 935-990 por hectare, os agricultores recebem líquido
$ 550-660 por hectare. Outra estimativa, de Almeida e Uhl 1995, sugere um valor
atual líquido de $ 1.400 a $ 3.366, dependendo se a operação
é gerenciada sustentavelmente.

Análise "breakeven": supondo uma compensação
de carbono de 550 MtCO2e/ha de floresta, o ponto "breakeven" para
agricultura seria de R $ 2,55 – 6,12 por MtCO2e

Preços de Terra

Segundo um pecuarista local, os preços das pastagens em Mato Grosso foi
de cerca de US $ 450 por hectare no início de 2007.

Análise "breakeven": supondo uma compensação
de carbono de 550 MtCO2e/ha de floresta, o ponto "breakeven" para
pecuário seria de $ 0,82 por MtCO2e

Produtos da Floresta Sustentável

Dois estudos amplamente citados afirmam
que a colheita sustentável de frutos,
látex (borracha), madeira e outros produtos florestais podem gerar rendimentos
elevados para os usuários florestais. Grimes et al. (1994) constataram
que produtos florestais não-madeireiros
(NTFPs) na Estação Biológica Jatun Sacha no Equador tinham
um rendimento de $ 1.257 a $ 2.939 por hectare. Peters et al. (1989) surgiram
com um número maior de um site no Rio Nanay no Peru: um valor líquido
atual de $ 6.330 a $ 6.820 por hectare.

Análise "breakeven": supondo uma compensação
de carbono de 550 MtCO2e/ha de floresta, o ponto "breakeven" para
pecuária seria de $ 2,29-12,40 por MtCO2e

CONCLUSÃO


Esses cálculos sugerem que
do ponto de vista econômico "desmatamento evitado" poderia ser
uma utilização favorável de solo na bacia amazônica.
Conservação da floresta em grande escala em troca de compensação
de carbono, combinada com a expansão agrícola em mais de 50 milhões
de hectares de pastagens degradadas, poderia pagar dividendos para proprietários
da floresta, a economia brasileira e para o meio ambiente global.




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