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Podem os pecuaristas e plantadores de soja salvar a Amazônia?

Podem os pecuaristas e plantadores de soja salvar a floresta tropical amazônica?

Podem os pecuaristas e plantadores de soja salvar a Amazônia?
Entrevista com John Cain Carter:
Rhett A Butler, mongabay.com
14/1/2008

A chave para tornar a conservação bem sucedida é fazê-la lucrativa. John Carter pode
guardar esta chave.

Desde o início dos anos 1970, grupos ambientais tem gasto bilhões de dólares em
esforços de conservação na Amazônia mas têm falhado ao desacelerar a destruição
de suas florestas tropicais – a Amazônia brasileira perdeu mais 700.000 quilômetros
quadrados (270.000 milhas quadradas) de floresta naquele tempo. Na medida que os dólares
doados se derramaram na região, as taxas de desmatamento continuaram a subir, chegando
ao pico de 73.785 quilômetros quadrados (28.488 milhas quadradas) de perda florestal
entre 2002 e 2004, antes de cair acentuadamente em 2005 e 2006 devido ao declínio
do preço das commodities. Para muitos está se tornando aparente que o mercado,
e não medidas conservacionais, irá determinar o destino da Amazônia.

As razões para limpeza de terras na Amazônia são convincentes: terra barata, baixos
custos trabalhistas, e demandas crescentes de commodities por uma China
emergente e o crescente interesse em biocombustíveis. Estes fatores têm ajudado
o Brasil a tornar-se uma superpotência agrícola – o maior exportador mundial
de carne, algodão e açúcar, entre outros produtos – em menos de uma geração.
Proprietários de terra na Amazônia têm visto o valor de suas terras dobrar a cada
4 ou 5 anos em áreas que só uma década atrás eram florestas intactas. O mercado está
conduzindo o desmatamento.

John Cain Carter com seu vizinho Índio Xavante

Dado este panorama, John Cain Carter acredita que a única forma de salvar a Amazônia
é através do mercado. Carter é um rancheiro do Texas que mudou-se para o coração
da Amazônia há 11 anos atrás com sua esposa brasileira, Kika, e fundou o que talvez
seja a mais inovadora organização trabalhando na Amazônia, a Aliança da Terra. Carter
diz que ao dar aos produtores incentivos para reduzir seus impactos na floresta,
o mercado pode ter sucesso onde os esforços de conservação têm falhado.

Embora as taxas de desmatamento na Amazônia tenham acelerado, o problema não é a
falta de legislação, mas sim um sistema onde a imposição [da lei] é tão lenta e
tão corrupta que torna as leis efetivamente inúteis. No papel, fazendas de criação
de gado na Amazônia podem ser as mais restritas do mundo, com proprietários obrigados
a manter 80 por cento de suas terras com florestas – uma limitação que nenhum
rancheiro no Texas enfrenta. Carter quer ver os fazendeiros do Brasil se beneficiando
ao seguir a lei, ao tornar esta restrição em uma vantagem de marketing. Entretanto,
para fazê-lo, os produtores da Amazônia têm que garantir que os consumidores (isto
é, os compradores de commodities como o McDonalds, Wal-Mart e Cargill) podem
dizer com confiança que os produtos agrícolas são produzidos legalmente e ainda
com mais sustentabilidade do que estipulado pela lei. O incentivo para os produtores
é o acesso ao mercado: a Aliança da Terra ajuda fazendeiros brasileiros a obter
o melhor preço para seus produtos, mas só se seguirem as regras. Enquanto produtores
obtêm maiores preços pelos seus produtos, compradores como o Burger King
e o Archer-Daniels Midland podem dizer que estão utilizando carnes legalizadas
e produzidas com responsabilidade. Enquanto mais floresta é deixada em pé, os serviços
do ecossistema são preservados e a biodiversidade conservada. Todos ganham.

A responsabilidade tem outros benefícios. A crescente influência da Aliança da Terra
ajuda mesmo a combater a corrupção – funcionários públicos sabem que não podem
pedir suborno aos membros da Aliança já que os membros sabem que passar suborno
irá apenas excluí-los do sistema. O potencial da Aliança da Terra é tão grande que
grupos de conservação e proprietários de terra estão sentando à mesma mesa, quando
apenas há dois anos atrás eram os mais ferozes adversários – uma conquista
substancial que sinaliza bem para o sucesso destes esforços.

O que é mais notável à respeito do sistema da Aliança é que tem o potencial de ser
aplicado a qualquer commodity em qualquer lugar do mundo. O que significa
que o óleo de palma em Bornéu
poderia ser certificado
tão facilmente como o acúcar de cana no Brasil ou ovelhas na Nova Zelândia. Ao endereçar
a corrente produtiva, rastreando produtos agrícolas de volta aos campos específicos
onde foram produzidos, o sistema oferece talvez a melhor solução baseada no mercado
para combater o desmatamento. Combinando estes mecanismos com o que a conservação
de terras em larga escala e a pesquisa científica oferecem pode ser a melhor esperança
para a Amazônia.

Em uma entrevista concedida em Junho ao mongabay.com Carter explica suas experiências
no Brasil e sua abordagem para salvar a maior e mais importante floresta tropical
da Terra.

ENTREVISTA COM JOHN CAIN CARTER DA ALIANÇA DA TERRA

Mongabay: Você nasceu no Texas, então como veio envolver-se com a agricultura
no coração do Brasil? Há quanto tempo você cria gado na América do Sul?

Carter com seu Cessna em Mato Grosso. Imagem tirada por cientistas Woods Hole Research
Center
no dia em que uma parte da floresta de Carter pegou fogo devido
à “maus” vizinhos.

Carter: Sou originalmente de San Antonio, Texas, mas depois da faculdade
eu estava no serviço [militar] e então graduei em administração de negócios em pecuária
na Universidade Cristã do Texas em Forth Worth, Texas. Basicamente isso era uma
programa de MBA para produção de gado. Enquanto estava lá eu encontrei minha futura
esposa, que aconteceu de ser brasileira. Para fazer curta uma longa história, nós
casamos e nos mudamos para o Mato Grosso, um estado na Amazônia brasileira. Agora
moramos lá há 11 anos.

Mongabay: Desta forma parece que para um fazendeiro americano você estava
adiantado em termos de ver o potencial da Agricultura no Brasil.

Carter: Suponho que se pode dizer assim. Quando mudamos, não haviam americanos
aqui. Era, e de muitas formas ainda é, muito uma área de fronteira. O interesse
em agricultura por aqui só decolou nos últimos 3 ou 4 anos e não haviam americanos
até muito recentemente.

Mongabay: Você acha que o crescente interesse em biocombustíveis e a demanda
crescente da China está conduzindo esta mudança?

Carter: Penso que o interesse certamente aumentou em razão destes fatores,
de qualquer forma a soja já estava ficando grande por aqui antes da loucura do biodiesel,
principalmente porque os custos de produção são mais baixos aqui. Um par de anos
atrás você via um bocado de preocupação entre os produtores de carne e soja dos
EUA de que o Brasil estava se preparando para superar os Estados Unidos em produção
daquele ponto em diante. O clima, a quantidade de terras abertas, a ausência de
geadas e rendimentos mais altos, todos fizeram a agricultura aqui muito atrativa.
Pessoas com prevenção puderam ver que não iria demorar muito para o Brasil pôr-se
em pé. Como era de se esperar, o Brasil é agora o maior exportador de carne, algodão,
açúcar, suco de laranja, café e cacau. É o segundo em grãos de soja, mas não por
muito tempo. O país tornou-se uma potência agrícola.

Mongabay: Pode descrever o tipo de ambiente onde você tem seu rancho? Era
antes floresta tropical, é cercada por ela ou é habitat de campos de cerrado?

Carter: Quando eu cheguei nesta fazenda ela era 60 por cento floresta e 40
por cento pasto. A maior parte da floresta era secundária que tinha previamente
sido desmatada mas que havia rebrotado. A fazenda é localizada no Sudeste da floresta
amazônica — a chamada floresta de transição no Nordeste do Mato Grosso. A maior
parte da região era de florestas mas eu tenho testemunhado a maior parte da área
ser limpa nos últimos 10 anos. Tem sido um progresso à passos rápidos com a fronteira
se movendo rapidamente através da Amazônia. Há apenas pouco tempo atrás tínhamos
natureza selvagem, mas hoje temos a Cargill na nossa porta dos fundos.

Mongabay: E sobre as leis que requerem que os fazendeiros mantenham uma porção
de suas terras com florestas? Isso não tem desacelerado o desmatamento?

    Expansão da soja na Amazônia brasileira, 1990-2005
    Desmatamento total e área de cultivo de soja ao longo dos estados da Amazônia brasileira.
    O cultivo total de grãos e soja forma apenas uma pequena parte do desmatamento,
    apesar de que seu papel está acelerando. Além disso, a expansão da soja, o desenvolvimento
    de infraestrutura associado e a localização das fazendas está conduzindo ao desmatamento
    por outros atores. Nota: alguns fazendeiros de soja estão estabelecidos em áreas
    de terra com florestas já degradadas e vizinhas aos ecossistemas do cerrado. Assim
    seria inapropriado assumir que estas áreas de plantio de soja representem papel no
    desmatamento.

Carter: Sim, desde que eu cheguei aqui têm havido a lei da reserva florestal.
Na realidade, em 1998 eles aumentaram de 50 para 80 o percentual de suas terras
mantido como floresta. Aquela provisão realmente foi ao encontro do movimento ambiental.
A lei já era contestada em 50 por cento. Aumentar para 80 por cento só criou uma
histeria em massa e um estado de desobediência civil onde proprietários de terra
diziam “para o inferno com isso” e derrubavam tudo.

O fato é que a maioria das pessoas nunca respeitou o requisito de 50 por cento,
em primeiro lugar. Para a maior parte, apenas classificaram as florestas tropicais
como cerrado e assim puderam limpar mais terra.

O problema origina-se de um sistema que é essencialmente corrupto, mercado negro.
As agências que controlam as permissões e a imposição da lei estão corrompidas,
então é basicamente um processo de suborno. Embora isso tenha mudado um pouco nos
últimos dois anos, aindá há muitos negócios suspeitos. Por exemplo, a manchete nos
jornais de ontem era uma operação onde eles pegaram um grupo inteiro de madeireiros
ilegais. Muitos destes caras trabalhavam para a agência de proteção ambiental, nas
reservas e nas agências da vida selvagem.



Desmatamento no estado do Mato Grosso, Brasil, 1988-2005

Há uma forte mentalidade de fronteira por aqui. O retorno na valorização da terra
é tão grande e o sistema judiciário é tão lento, que na hora que você prende um
proprietário, ele já vendeu a terra e fez uma fortuna. Não há incentivos reais para
as pessoas não fazerem isso e eles podem realmente se importar menos com o que pensa
um americano, francês, alemão ou qualquer outro da comunidade internacional por
que não há repercussão de suas ações. Esta é uma das razões pelas quais iniciamos
este programa — nós usamos fogo para combater fogo ao usar o acesso ao mercado
como uma isca para encorajar as pessoas a fazerem a coisa certa. Estamos fornecendo
incentivos econômicos e as pessoas querem fazer parte disso.

Mongabay: Soa como uma situação difícil. De que tipo de valorização da terra
estamos falando?


Expansão do Desmatamento no Mato Grosso, Brasil
Este par de imagens mostra grandes clareiras feitas na floresta tropical amazônica
no estado do Mato Grosso, Brasil, entre 2001 e 2006. Imagens da NASA por Robert
Simmon, baseado em dados fornecidos por NASA /GSFC /METI/ ERSDAC/ JAROS, e EUA/Japão

Carter: Em nossa região você pode esperar de 7 a 15 por cento anualmente,
e isto é uma estimativa bem conservadora. Em 1999/2000 nossa terra estava avaliada
em cerca de 150 Reais por acre. Nosso vizinho há pouco vendeu sua terra por 833
Reais por acre. É um aumento de mais de cinco vezes em sete ou oito anos. O retorno
pode ser mais alto dependendo se você compra floresta, reflorestamentos ou áreas
abertas. Aqui o Real é subestimado na valorização da terra, não na commodity
que você está produzindo. Não acho que a maior parte das pessoas entenda isso. A
maioria das pessoas vem aqui olhando números na produção agrícola e safras. Penso
que ainda há um longo caminho pela frente desde que as instituições brasileiras
estão ficando mais fortes e você começa a ver investidores institucionais começarem
a bombear dinheiro que irá impulsionar os preços da terra. A tendência do etanol
e biodiesel está também empurrando os preços para cima.

Terras com floresta são de longe as mais baratas, mas com toda a pressão na Amazônia
hoje, pessoas mais expostas realmente tendem a evitar a floresta, por que não querem
ser pegas nos holofotes e postas nos jornais. Se ficam dentro da lei, estão bem,
mas a maioria das pessoas não faz isso. Hoje a maior parte das corporações multinacionais
não tocaria a floresta com um poste de 3 metros devido à propaganda negativa. A
maioria das pessoas está procurando terras de cerrado que já tenham sido limpas
e desta forma não têm que cometer o crime. O que deixa a demolição da floresta na
maior parte com investidores que não se importam com a opinião pública. Há tempos
eles estão lidando com terras sem títulos, com títulos problemáticos ou com invasores
de terra. Aí é que a oportunidade real aparece. Eles vão lá, compram barato, arrumam
e tentam obter o título de propriedade antes de vender com um lucro substancial.

Mongabay: Há qualquer registro? Há como provar que a floresta estava lá um
ano antes?

Carter: Sim, eles podem provar que você derrubou florestas nas últimas duas
semanas usando imagens de satélite e sistemas de monitoramente, mas o problema é
a corrupção e os subornos que arruinam o sistema. Multas são raramente aplicadas,
mas subornos são comuns. Se quisessem, poderiam impor a lei imediatamente. Na verdade,
mais processos estão acontecendo hoje em dia. Acho que a pressão internacional é
um fator.

O sistema de monitoramento por satélite do Brasil é um dos melhores do mundo. Se
necessário, você pode dizer se alguém desmatou sua terra há quinze anos atrás. Para
minha antiga propriedade, posso obter imagens de satélite desde 1979 até os dias
atuais.

Mongabay: Por que você se envolveu? Por que se importa com a sustentabilidade
de fazendas na Amazônia?

Carter: Minha primeira visita foi em 1993. O pai de minha esposa tinha uma
fazenda e [eu] o estava ajudando a procurar por mais terra. Eu dirigi com ele até
uma pequena cidade nos limites do cerrado e da floresta. A estrada de terra batida
nos levou através da floresta do sul da Amazônia. No caminho, eu vi um índio Xavante
caminhando ao longo da estrada, nu com um arco e flecha em sua mão, e um jaguar
negro na estrada. Eu sabia que este é o lugar onde queria estar então mudei para
cá.

Avião de Carter sobre o Mato Grosso

Vista da janela do avião de Carter durante a estação das queimadas

Quando a fumaça se dissipa, não é um lugar bonito

Eu voei desde os EUA como piloto e mudei-me para esta propriedade. A infraestrutura
então era terrível, nós usualmente circulávamos de avião o que me deu uma perspectiva
realmente boa da escala do que estava acontecendo aqui. Nós vivemos na fronteira
no exato sentido da palavra. Por cinco anos não tínhamos eletricidade, telefone
e nenhum vizinho. Nós tivemos a medida real do que acontece. Penso que poucas pessoas
experimentaram isso em primeira mão, os grupos ambientais certamente que não. A
perspectiva deles é de 10.000 pés de altitude ou de seus escritórios com ar-condicionado
em Washington, DC. Certo que às vezes eles caem de paraquedas de vez em quando,
mas não vivem aqui e sentem o que está realmente acontecendo. Temos vivido este
estilo de vida por mais de dez anos. Nós vimos a corrupção em primeira mão. Nós,
como todos mais, ouvíamos madeireiros em rádios de ondas curtas avisando da pretensão
de batidas do IBAMA (agência brasileira de proteção ambiental). Sem dúvida os madeireiros
teriam o suborno na mão, esperando o IBAMA chegar. Em certo ponto havia mais de
100 serralherias ilegais na área, apesar de que hoje não existe nenhuma — há muito
pouca floresta aproveitável restante.

Eu via isso diariamente quando voava. Eu já voei provavelmente algo em torno de
700.000 e 800.000 quilômetros no estado e parece que a coisa inteira foi desmatada
em 12 anos. No chão pode ser ainda pior. Nosso vizinho uma vez derrubou 12.000 acres
de floresta em três meses. Quando ele queimou o resíduo não podemos ver por cerca
de 4 semanas — a fumaça era muito densa. Durante a estação das queimadas na Amazônia
é isso em todo o lugar. Você não pode descrever a menos que tenha estado lá e visto.
Você não pode ver o sol ao meio-dia e tem que dirigir com os faróis ligados. Era
terrível.

Estava claro que os grupos ambientais não tinham muito efeito ao desacelerar o desmatamento.
Foram eficazes ao alertar o mundo sobre o problema mas nunca vieram como uma solução
real para ele. A desaceleração do desmatamento nos últimos dois anos não foi devido
aos seus esforços como o ministério do ambiente gosta de alegar, mas sim ao mercado.
Pessoas faliram e ninguém tem dinheiro para investir no desmatamento. Proprietários
de terra só removem florestas quando tem dinheiro extra em suas contas — eles fazem
isso com seu próprio fluxo de caixa e patrimônio privado, não usam empréstimos.

Capturada pelo Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) em 30
de junho de 2003, esta imagem mostra uma porção do estado brasileiro do Mato Grasso.
Florestas intactas são verde escuro, enquanto clareiras são laranja ou vermelho-amarronzadas.
O Mato Grosso está localizado na ponta Sul da Amazônia, ao leste da Bolívia. Imagem
cortesia de Jacques Descloitres, MODIS Land Rapid Response Team at NASA GSFC

Na região do Mato Grosso no Brasil, incêndios (pontos vermelhos) são uma causa maior
de desmatamento. Agricultura de “derrubada e queimada” é usada para limpar as florestas
tropicais para cultivo e pastoreio, e esta série do Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer
(MODIS) mostra a resultante transformação da paisagem. Linhas e formas geométricas
revelam onde lotes de terra foram convertidos para o uso agrícola. Em muitas das
imagens, o Parque Nacional do Xingu parece como um apêndice da vasta extensão de
floresta tropical amazônica ao Norte. Crédito: Jacques Descloitres, MODIS Rapid
Response Team, NASA/GSFC

De qualquer forma como o movimento ambiental não estava conseguindo nada com as
centenas de milhões que gastavam por ano tentando pará-los, minha esposa e eu decidimos
tentar. Estávamos bem desiludidos com os ambientalistas em razão de parecem nunca
confrontar o problema: a economia. Eles estavam sempre tentando criar um vilão para
culpar e um pássaro colorido ou mamífero para salvar. Como proprietários de terra
nós poderíamos ver oportunidades que o movimento ambiental tinha perdido.

Minha esposa e eu decidimos que, dentre outras coisas, incluindo toda a violência
da região que, em certa ocasião, nos impactou pessoalmente, não permaceríamos na
área a menos que alguma coisa fosse feita para mudá-la. Não podíamos continuar a
sentar e testemunhar esta violação sem ao menos tentar alguma coisa.

E desta forma começamos a idéia. Fomos por todos os caminhos errados e todas estradas
ingênuas que as pessoas costumam pegar. Batemos nossa cabeça contra a parede e descobrimos
que não havia maneira de pará-lo — o impulso era forte demais. A única coisa que
poderíamos fazer era tentar minimizar o dano colateral criando incentivos para que
as pessoas ao menos mantivessem as florestas em zonas costeiras e como corredores
entre propriedades. Se conseguíssemos, teríamos obtido mais do que qualquer um tem
feito na história da Amazônia. Desta forma foi onde concentramos nossos esforços.
Nós baixamos a cerca o suficiente de forma que sabíamos que os proprietários de
terra iriam saltá-la se tivessem um pequeno incentivo. A isca é a aceitação do mercado
para seus produtos. Nós poderíamos manter pelo menos de 30 a 40 por cento da floresta
na região do Xingu no projeto piloto. Nós então apontamos para expandir o programa
para as regiões de fronteira.

Mongabay: Como a Aliança da Terra trabalha?

Carter: A Aliança da Terra é baseada no conceito da aceitação de mercado
para a produção agrícola sustentável na Amazônia brasileira. Estamos presentemente
focados em carne, que é o maior condutor do desmatamento na Amazônia, apesar de trabalharmos
com outros produtos, inclusive a soja. A Aliança da Terra está fazendo o trabalho
de campo necessário em primeiro para preparar para o ataque aos mercados, demandando
reconhecimento dos serviços do ecossistema sendo fornecidos pelos proprietários
de terra através do acesso ao mercado. Isso dá um incentivo tangível aos fazendeiros
e criadores que cultivam de maneira responsável e obedecem boas práticas de manejo
da terra bem como o código florestal e exclui os que não as possuem. Nossa motivação
é que esta terra será desmatada independentemente da lei ou do sentimento do público
se alguns incentivos econômicos imediatos e tangíveis não forem implementados tão
logo quanto possível. O boicote à soja pelo Greenpeace foi um sinal de como a globalização
pode tocar a conservação. Ele ajudou a preparar o campo de batalha para nós, mostrando
que o mundo está começando à prestar atenção em como os alimentos são produzidos.
Mas o outro lado desta moeda é que o mundo precisa trabalhar com os produtores bem
como fazer ajustes ao longo de toda a cadeia de abastecimento na maneira que as
margens são distribuídas. Hoje esta distribuição não é igualitária e justa, uma
parte maior deveria ser do produtor/dono da terra já que é aquele que possui o ônus
da conservação e dos serviços do ecossistema em suas costas. Isso precisa ser levado
em consideração no balanço geral!


Proprietário com a equipe da Aliança da Terra

Estamos estabelecendo um mecanismo de acreditação que irá ajudar proprietários de
terra responsáveis a ganhar acesso a mercados e obter o melhor preço para seus produtos.
O timing está perfeito para isso com as pressões internacionais forçando
os proprietários a encarar estas questões. Os proprietários de terra gostam de nosso
sistema porque eles têm palavra na criação de padrões e interesse pessoal em fazê-los
economicamente viáveis. Trazer os proprietários de terra a bordo foi a chave. Nós
sabíamos que haveriam grandes repercussões se as pessoas pensassem que era apenas
outra organização sem fins lucrativos e a construímos para ser brasileira e não
uma entidade estrangeira. Todos aqui, exceto eu, são brasileiros.

Construímos um mecanismo de acreditação que permite que consumidores usem sua força
de compra para selecionar entre produtores ambientalmente responsáveis ou não. Ao
fazer isso, criamos efetivamente um incentivo para os produtores daqui fazerem a
coisa certa.

Mongabay: Isso significa que você tem observado “puxões” dos consumidores
que estão pedindo produtos certificados?

Carter: Essa é uma questão delicada. Com muitos se preocupando com o aquecimento
global refletido no filme de Al Gore, não há dúvida que o mundo está mais preocupado
principalmente com o que está acontecendo na Amazônia. A comunidade internacional
vê onde estaremos em 100 anos, e não é uma imagem bonita. Mesmo no melhor cenário, estaremos
até certo ponto com problemas, enquanto no pior cenário estaremos torrados. No melhor
cenário nós ainda temos que agir. Este panorama nos dá espaços enormes para trabalhar
e uma vasta gama de opções. Grupos ambientais e a comunidade internacional basicamente
têm preparado o campo de batalha para nós, desta forma o mundo está preparado para
o que estamos criando. Ele já está procurando por soluções como esta.

Este gráfico é baseado nos números médios para os intervalos de estimativa. Favor
notar a estimativa baixa para agricultura de larga escala. Entre 2000 e 2005 o cultivo
de soja resultou em um percentual pequeno de desmatamento direto. De qualquer forma,
o papel da soja é bastante significativo na Amazônia, desalojando pequenos proprietários
que então limpam áreas de floresta virgem. Além disso, de acordo com Philip Fearnside,
um conceituado especialista na Amazônia, o plantio de também fornece “ímpeto econômico
e político importante para novas estradas e projetos de infraestrutura, o que acelera
o desmatamento por outros atores.”

Na maior parte, o consumidor sempre quer comprar o produto mais barato da prateleira.
Se alguém está querendo pagar um prêmio pela conservação, é chamado nicho de mercado.
Nichos de mercado nunca irão parar o desmatamento da Amazônia. Temos que atingir
o mercado de commodities e distribuir os benefícios ao longo de toda a região,
não somente um setor nicho. Para fazer isso, não podemos aumentar o preço das commodities
— pessoas simplesmente não têm mostrado vontade de pagar mais por estes produtos
em uma base consistente.

Sob nosso sistema, o único benefício que um produtor irá obter é o acesso ao mercado,
mas ao ganhar acesso ao mercado europeu, americano e outros mercados estrangeiros,
os produtores locais irão beneficiar-se significativamente. Ao invés de terem preços
baseados na Bolsa brasileira, irão obter as taxas mercantis de Chicago, que são
inerentemente mais altas, menos frete e tarifas de comércio. A única maneira para
que os produtores tenham esse acesso é seguindo as regras. Estamos essencialmente
criando uma barreira que é efetiva para a conservação e baixa o bastante para ser
atrativa, mas que permite que você pule para os preços mais altos e mesmo obtenha
poder de barganha com abatedouros e grandes negociantes de grãos como a Cargill,
Bunge e ADM [Archer Daniels Midland]. Atualmente os grandes têm margem de manobra
no mercado. Estamos absolutamente convencidos que uma vez que isso acontece, e você
tem dois produtos, um com credibilidade e transparência e outro com uma origem questionável,
as pessoas irão escolher a opção com legitimidade.

Um benefício adicional para os produtores é que nosso sistema reduz o risco de uma
moratória nos produtos brasileiros. Embora a União Européia possa bater na carne
ou soja da agricultura brasileira, produtos certificados estabeleceriam uma melhor
chance de escapar de sanções.

Mongabay: Então você está oferecendo um caminho para os mercados?

Carter: Exatamente. Oferecemos um ticket para o mercado. Também procuramos
outros incentivos financeiros para os produtores que participam. Por exemplo, dinheiro
mais barato através de empréstimos usados para reflorestar suas zonas costeiras,
taxas mais baixas de juros e financiamento para a produção. A maior parte dos grandes
bancos de investimento está procurando por pré-requisitos antes de emprestar dinheiro
e parece que alguns deles estão adotando nossas políticas. Estamos tentando facilitar
os dois gargalos da indústria da carne: quando você que obter dinheiro e quando
você tenta vender. Não estamos dizendo que vai conseguir ganhar mais pelo seu produto,
mas que você terá um caminho para o mercado, o que por si mesmo, é mais lucrativo
porque irá obter preços baseados nos índices mercantis de Chicago ao invés do mercado
local.

Crédito: Aliança da Terra

Nós temos envolvida a maior associação de criadores do mundo, a Associação Brasileira
dos Criadores de Zebu (ABCZ). É uma associação de criadores registrados, a mais
prestigiosa do Brasil com 16.000 criadores. Eles estão começando a exigir que seus
membros participem, usando critérios da Aliança em suas propriedades. É similar
a um registro da terra. Iniciamos um projeto piloto no Xingu e Mato Grosso e estamos
planejando expandir para o país inteiro. Dentro de 2 ou 3 anos estaremos em dez
estados. É extremamente excitante — estamos indo exatamente como esperávamos.

Mongabay: Desta forma fazendeiros estão entusiasmados com o projeto em razão
da legitimidade e incentivos financeiros? Isto é, você não os está trazendo a bordo
chutando e gritando?

Carter: Para ser honesto, fomos um pouco hesitantes no início, achando que
iríamos ter problemas ao associá-los. Temíamos reações negativas, mas desde
o início as pessoas estavam muito entusiasmadas. Eles nos diziam “Isso é exatamente
o que precisamos. Estamos cansados de ser estigmatizados como bandidos.” Agora recebemos
enormes aplausos do setor.

Ser um proprietário de terra aqui é complicado. Quando você vive nesta região, vê
a corrupção. As pessoas envolvidas com isso deveriam supostamente estar protegendo
a floresta e desta forma não é surpresa que você tenha o estado de desobediência
civil entre proprietários de terra. Não há liderança honesta para dar um exemplo.
Desta forma que nós viemos e oferecemos um caminho de menor resistência para a “coisa
certa” bem como incentivos destacados de mercado; os proprietários de terra pularam
nele.

Colono participante da Aliança da Terra. Crédito: Aliança da Terra

Queremos o reconhecimento do mercado por carregar nos ombros o custo da conservação.
Onde mais no mundo você tem proprietários que tem que manter 50 por cento da floresta
de suas terras? Lugar nenhum. Se é suposto que o consumidor beneficie pessoas por
fazer isso então você inclina a balança em favor do proprietário de terra e está
criando uma reação positiva para as pessoas que seguem as regras ao manter a floresta.
Como também é certo que não há nada para manter a floresta em pé já que a lei não
pega você a tempo e pode sempre subornar se for pego. Você pode cortar tudo já o
valor de sua terra irá disparar e pode produzir bem mais em sua propriedade. Você
será mais lucrativo. Quando você olha o números não leva 5 minutos para compreender
por que está tudo vindo abaixo.

Estamos tentando fazer esta lei de reserva florestal do negativo para o positivo,
ou fazer limonada dos limãos, por assim dizer. Pessoas pensa que fazendeiros na
Amazônia são bandidos e desta forma eles estão tentando mostrar que são boas pessoas
e que estão tentando fazer a diferença e reduzir seu impacto. Trabalhando com algumas
revistas para fazê-lo mais expressivo, estamos tendo cerimônias de premiação para
proprietários de terra à cada ano onde reconhecemos o melhor manejo da terra. Ninguém
deu um tapinha nas costas destes caras ou sequer mostrou a eles como fazer a coisa
certa. Tudo que tem dito à eles é “não”. Os fiscais os multam e extorquem, frequentemente
ao mesmo tempo. Por enquanto o sistema de produção como um todo é opaco. Por exemplo,
a maior parte da produção de carne do estado do Mato Grosso é para exportação, mas
é difícil apontar a origem da carne. Abatedouros fazem um bom trabalho ao escondê-la.
Estamos virando o sistema de cabeça para baixo, adicionando transparência e credibilidade
para torná-lo um exemplo mundial de bom manejo da terra. Produtores serão recompensados
através da aceitação do mercado por dar algums passos a mais para fazer a coisa
certa. Eles serão capazes de ter seus produtos no McDonalds, Burger King e outras
empresas preocupadas com a reputação. Todas as grandes multinacionais querem credibilidade
hoje em dia em relação ao ambiente e sustentabilidade.

Mongabay: Então na realidade você está endereçando a cadeia de abastecimento
destas grandes companhias?

Carter: Estamos confiantes de que podemos nos tornar fornecedores para o
mundo. O McDonald regularmente é amaldiçoado na imprensa em razão de suas ligações
a danos ambientais. Mais recentemente o Greenpeace rastreou todo o caminho da soja
amazônica até a Holando onde era usada para alimentar frangos que foram para os
Chicken McNuggets. Quanto a história veio à tona, houveram notícias enormes
e incitamento à moratória da soja amazônica pelos grandes trituradores. Ela forçou
que os produtores fossem responsáveis pela origem de sua soja até as partes mais
distantes da cadeia de abastecimento — as propriedades onde a soja é produzida.
Qualquer coisa vinda de terra desmatada depois de certa data não é mais aceitável.


Produção de gado no Brasil, 1977-2007


Produção e abastecimento total de gado no Brasil, 1960-2007

Queremos estar preparados para criar a mesma coisa para a carne — o cara que realmente
ajudou a orquestrar o esforço da soja é um de nossos membros, Ocimar Villela. Em
essência, nós queremos recompensar as pessoas que estão obedecendo ao código florestal
e utilizando boas práticas de manejo da terra. Temos agora administração sobre 3
milhões de acres com aproximadamente 300.000 cabeças de gado pastando nestes acres,
o que é duas vezes o tamanho do maior rebanho marcado de carne nos Estados Unidos.
E isso aconteceu em seis meses. Nós teremos capacidade de usar nosso gado marcado
para abastecer totalmente a Wal-Mart da América do Sul ou fornecedor alimento em
grão para os frangos do McDonalds na Holanda e garantir que eles foram produzidos
com este critério.

É por isso que este processo tem tomado um longo tempo — estamos atacando uma commodity.
Ao atacar uma commodity, estamos mudando a maneira que é produzida. Temos
esperança de que, no futuro, irá mudar a maneira de fazê-la no mundo todo. Nós esperamos
que um dia um rancheiro no Texas e um criador de ovelhas na Austrália estejam ligados
pelo mesmo critério para manejo da terra.

No fim, o que começou sob as piores condições possíveis no coração da Amazônia,
pode ser critério para os produtores ao redor do mundo. Este é nosso sonho. Isso
também é o que o Banco Mundial, como outras instituições financeiras, quer ver.
Penso que é por isso que temos recebido suporte de tantas instituições influentes,
como a Woods Hole. Isso pode ter um impacto enorme ao redor do globo.

Mongabay: Então você está antecipando uma moratória da carne?

Carter: Sim, é o passo lógico depois da soja, especialmente desde que 2/3
do desmatamento é para pastagens de gado. Acho que, de algumas formas, uma moratória
é realmente uma coisa boa. Tenho visto tudo ir pelos ares e acredito que se não
pode batê-los, una-se a eles, e então tentar mudanças de dentro do sistema. Você
tem que trabalhar com os proprietários de terra, dar-lhes incentivos ou de outra
forma eles nunca farão nada. Estamos tentando ser pró-ativos.

Crédito: Aliança da Terra

O fato é que estamos fazendo isso no olho do furacão. Do lado de fora do Xingu está
provavelmente o pior desmatamento do mundo fora da África. Aproximadamente 70 por
cento do desmatamento na bacia amazônica está acontecendo naquela parte do Mato
Grosso. Desta forma, se nós pudermos fazer funcionar lá será uma conquista real.
Qualquer coisa que funcionar lá pode então ser adotada em outros estados do Brasil.

Mas eu acho que podemos levá-lo para além da Amazônia. Tenho sido contactado por
algumas associações nos Estados Unidos, a USDA, e pelo meio acadêmico sobre o sistema.
Acredito que poderemos vê-lo adotado nos Estados Unidos em até 5 anos. Entre os
grupos mostrando maior interesse são instituições financeiras que estão procurando
maior responsabilidade. Eles estão desenvolvendo pré-requisitos para empréstimos
de forma que não interesse onde o produtor está localizado — seja ele um produtor
de soja no Brasil ou criador de ovelhas na Nova Zelândia — haverá um conjunto universal
de critérios de forma que possamos igualar o campo de jogo no mundo todo. O Banco
Mundial está procurando por algo que possa ser duplicado em escala global, o que
é exatamente o que estamos tentando criar.

O sistema de certificação é flexível para permitir diferenças nos códigos florestais
estaduais ou nacionais, mas requer a mesma aplicação das práticas de manejo da terra.
Isso permite que o sistema funcione para qualquer país ao redor do mundo e para
virtualmente qualquer produto agrícola. Por exemplo, se você olhar em meu estado
natal, o Texas, onde você tem grande degradação ambiental, os rancheiros estão atualmente
vendendo carnes para o Japão sem nenhuma restrição que seja. Por comparação, uma
fazenda no Mato Grosso é obrigada a ser 50 por cento floresta, um custo de conservação
enorme para o qual os proprietários de terra brasileiros não veem compensação. Esta
floresta sequestra “x” quantidade de Carbono por ano, um serviço do ecossistema
que eu estou fornecendo mas não recebo nenhum benefício dele que não seja o acesso
ao mercado, enquanto uma pessoa no Leste do Texas que removeu sua floresta Pine
Woods até o limite do Rio Brazos não é penalizada por isso. Isso cria um campo de
jogo desigual que eu penso que voltam na face das pessoas dos Estados Unidos e Europa
que ameaçam boicotar produtos brasileiros. Na América você tem toda a sorte de subsídios,
no Brasil não há subsídios e você tem o custo adicional da conservação sobre seus
ombros. Não há lugar do mundo com um código florestal tão restritivo quanto o Brasil
tem. Mas esta é a única razão pela qual você ainda tem alguma floresta aqui hoje
— de outra forma teria sido tudo cortado.

Mongabay: Há um número de esquemas de certificação com graus variados de responsabilidade
e efetividade ao redor do mundo. Como a sua se diferencia neste mercado?

Equipe do escritório da Aliança da Terra

Carter: Nós oferecemos aos consumidores confiança instilada pelo envolvimento
de organizações impecáveis como o Woods Hole Research Institute e pesquisadores
de Yale, Stanford, da Universidade de São Paulo e da NASA. Temos alguns do principais
naturalistas e cientistas ambientais da Amazônia envolvidos com isso. Alguns deles
são nossos melhores amigos e não tenho nada além de respeito por estes caras. Eles
têm arriscado o pescoço ao unir-se aos produtores. O mesmo [acontece] com os produtores.
Eles tiveram realmente que por muitas cartas na mesa para trabalhar com grupos que
usualmente veem como adversários. Desta forma oferecemos legimitidade para ambos,
indústria e perspectivas. Temos a melhor credibilidade possível em termos de como
o mercado nos percebe. Através de nossas imagens de satélites acessíveis pela Internet,
oferecemos ao consumidor final a última palavra em transparência: eles podem ver
as propriedades reais onde sua carne ou soja está sendo produzida.

Finalmente, nós também estamos trabalhando na obtenção do comprometimento de todas
as outras organizações sem fins lucrativos da região que trabalham nestas questões.
Há uma grande quantidade de interesse por que o conceito é de ganho mútuo e escalável
ao nível global para virtualmente qualquer produto. Nós temos mesmo os bancos de
desenvolvimento querendo participar. Todos concordam que alguma coisa tem que ser
feita.

Mongabay: Eu falei com o Dr. Dan Nepstad do ‘Woods Hole Research Center’ na
semana passada. Ele tem tido um importante papel nesse processo, certo?

Carter: Dan é a espinha dorsal de tudo isso. De minha perspectiva como um
leigo, ele é uma das figuras mais importantes da Amazônia hoje. Ele combinou o movimento
ambiental com ciência pura e tem causado mais impacto que qualquer outro que eu
conheça e realmente obteve pouco crédito por isso. Ele é muito humilde mas tem feito
um trabalho absolutamente fenomenal.

Projeção do Woods Hole Research Center da cobertura florestal na Amazônia
em 2050 assumindo um cenário conservador. Crédito: Woods Hole Research Center

Projeção do Woods Hole Research Center da cobertura florestal na Amazônia
em 2050 assumindo um cenário “administrado”. Crédito: Woods Hole Research Center

O engraçado é que nós não começamos na mesma página. Nos idos de 1999 e foi citado
em uma revista falando sobre leis de desmatamento na Amazônia. E estava bastante
desiludido com o movimento ambiental e o que ele disse realmente me perturbou e
então entrei em contato com ele, mais por frustração do que por qualquer outra coisa.
A floresta estava vindo abaixo tão rapidamente e ninguém parecia fazer a coisa certa
para parar [o desmatamento]. Eu desafiei Dan em seu ponto de vista que aumentar
a reserva florestal de 50 para 80 por cento era uma coisa boa. Eu expliquei que
como piloto eu podia ver que a nova lei tinha feito justamento o oposto, incrementado
a taxa de desmatamento exponencialmente. Como proprietário de terra eu sabia que
as pessoas no chão estavam dizendo “para o inferno com isso, eu vou cortar tudo.”
Eu convidei Dan para visitar o Mato Grosso e visse por si no meu avião. Ele respondeu
no dia seguinte e em duas semanas ele estava aqui com dois de seus pesquisadores
do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e então passou cinco dias
comigo. No dia que embarcou de volta para Goiânia ele disse “John, eu trabalho há
20 anos na Amazônia mas você mudou minha perspectiva sobre o desmatamento.” Eu falei
a ele sobre a idéia de tentar alavancar o mercado e trazer os proprietários de terra
usando incentivos ao invés de bater neles, já que bater neles não tinha feito coisa
alguma. Ele apertou minha mão aquele dia e disse “John, vamos fazer isso.” Aquele
foi nosso contrato e desde então ele tem sido o coração e a alma deste negócio e
a razão pela qual eu estou fazendo isso. Se não fosse por ele eu já teria abandonando
o navio por que as probabilidades são mais que insuperáveis.

O governo brasileiro, a comunidade internacional e ambientalistas têm pego a abordagem
errada aqui. Estamos agora trabalhando para convencer o mundo que eles tem que trabalhar
com as pessoas que que têm a propriedade da floresta. Dan verdadeiramente trouxe
esta idéia, viu o potencial e então a vendeu para as forças políticas e negociantes.
Ele a vendeu para as grandes organizações sem fins lucrativos que poderiam ser intimidadas
por esse tipo de idéia ou se sentir ameaçadas por ela. Agora, através de Dan fomos
capazes de intermediar estes grupos e levá-los a participar como aliados para criar
algumas coisa que é maior que todos nós.

Entrevista com
Dan Nepstad
.

A bacia do Amazonas é lar da maior floresta tropical do mundo, um ecossistema que
suporta talvez 30 por cento das espécies terrestres do mundo, armazena vastas quantidades
de Carbono, e exerce considerável influência sobre os padrões globais de clime e
tempo. Poucos poderiam disputar o que é uma das paisagens mais importantes do mundo.
Apesar de sua escala a Amazônia é um dos ecossistemas mudando mais rapidamente,
em grande parte como resultado de atividades humanas, incluindo desmatamento, incêndios
florestais, e, cada vez mais, da mudança climática. Poucas pessoas compreender estes
impactos melhor que o Dr. Daniel Nepstad, um dos mais conceituados especialistas
do mundo na floresta tropical amazônica. Agora à frente do programa Amazônia do
Woods Hole Research Center em Belém, Brasil, Nepstad já gastou mais de 23
anos na Amazônia, estudando um leque de assuntos que vão desde incêndios florestais
e políticas de manejo florestal ao desenvolvimento sustentável. Nepstad diz que
a Amazônia está em um ponto hoje como ele jamais viu, um onde há riscos e oportunidades
sem paralelo. Embora tendo esperança sobre algumas de suas tendência, ele sabe que
a Amazônia enfrenta desafios difíceis e imediatos.
continua…

Dan tem ajudado o governo a desenvolver políticas que mudaram a maneira que os negócios
são feitos no estado do Mato Grosso. Dan não recebeu crédito por isso mas eu estava
nas reuniões e vi sua influência no trabalho. Ele é uma pessoa muito importante
hoje. Se alguma coisa mudar na Amazônia ele será uma das pessoas-chave que tem feito
acontecer, e por isso ele tem todo o meu respeito.

Dan tem penetração internacional, também. Ele conhece muitos indivíduos importantes
que não são ambientalistas, incluindo Michael Jenkins que está a frente do Forest
Trends
que é ligado ao grupo Katoomba, um grupo de pensadores dos líderes
de negócio de diversas indústrias que procuram por soluções de mercado, incluindo
serviços do ecossistema e mercado de Carbono. Desta forma Dan tem um profunda rede
de contatos entre a indústria internacional, governos, cientistas e ambientalistas
enquanto eu tenho penetração aqui com os proprietários de terra — eis por que nós
juntamos as mãos. Ele sabe que temos algo especial que poderia realmente mudar as
coisas para melhor na Amazônia. Tem sido um processo difícil mas parece começar
a funcionar. to work.

O pêndulo está balançando na outra direção. Eu sou muito conservador, mas em 5 anos
acho que iremos olhar para tras e dizer que funcionou. Companhia como a Wal-Mart.
Burger King, McDonalds e o Pão de Açúcar — maior rede de supermercados do Brasil,
estão todos começando a sentir e parece que comecarão a fazer algo como o que estamos
fazendo. Uma companhia de certificação da União Européia, Eurepgap, que certifica
propriedades produtores de commodities para exportação para a União Européia
está em contato conosco tentando estabelecer um critério ambiental para produtos
agrícolas da Amazônia pela primeira vez. O que estamos fazendo poderia tornar-se
um pré-requisito para exportar para a Europa e possivelmente para empréstimos do
Banco Mundial, IFC e bancos comerciais. Se isso acontecer então será realmente um
sucesso. Qualquer que seja a floresta restante hoje na região é o resultado de todos
envolvidos nestes processo — de outro modo ela não estaria lá. Muito disso vem
da perspectiva do piloto de ver o país inteiro, mais do qual era uma vez de floresta.
Todo o estado de São Paulo e do Paraná, ao Sul, eram Mata Atlântica mas hoje restou
apenas 3 por cento dela. Não há florestas nas correntes de água — estão sem a cobertura
florestal ribeirinha e não há razão para pensar que não veríamos a mesma coisa na
Amazônia. Será a mesma coisa em 50 anos se alguma coisa não foi feita — não importa
o que as pessoas digam. É uma tempestade devastadora que você não pode combater
com os métodos que eles estão usando hoje. Você tem que trazer a economia ou então
não terá chance.

Mongabay: Você está fazendo algum esforço para recuperar o valor dos créditos
de Carbono, por exemplo buscando algum tipo de compensação por aquele serviço?

Carter: Hoje não existem programas de crédito para sequestro de Carbono na
Amazônia usando florestas nativas. Um únicos créditos de Carbono pagos são para
danos de hidroelétricas e projetos de reflorestamento eucalipto, pinho ou seringueiras.
Há “zero” para a floresta nativa. Entretanto reconhecemos que isso pode mudar no
futuro e então estamos usando nosso projeto como um piloto. Selecionamos 10 fazendas
ao longo da região e estamos trabalhando com cientistas para mesurar as taxas de
crescimento das árvores em cada uma das diferentes regiões para ver quanto Carbono
eles estão sequestrando ao reflorestas zonas ribeirinhas. Um de nossos membros é
Michael Jenkins do Forest Trends um grupo de ponta no que se refere a pagamento
por serviços do ecossistema. Quando entrarem em efeito os limites obrigatórios para
emissão de Carbono nós estaremos prontos. Por ora tudo isso é muito “castelos no
ar”, mas em 10 anos eu espero que seja tangível. Os produtores perguntam à respeito
mas nós dizemos a eles para não ter esperança por que não irá acontecer por algum
tempo. Em níveis mais baixos, será um bonus para eles. Nós estamos construindo o
sistema para ser compensador mesmo sem créditos de Carbono.

Floresta próxima à fazenda de Carter. Hoje, quase tudo isso já foi removido. Crédito:
Aliança da Terra

Típica queimada da estação seca, próximo à fazenda de Carter. Crédito: Aliança da
Terra

Uma das coisas mais interessantes que estamos fazendo é coletar dados científicos
ao longo de nossas propriedades que são vastamente espalhadas no estado. Temos dados
das precipitações indo até 15 ou 20 anos atrás para alguns locais. Estes são dados
que nem cientistas nem o governo tem, e poderiam ser usados para monitoramento de
secas e previsão de mudanças climáticas. Estamos também treinando todos os empregados
das fazendas para fazer transeções científicas e contar espécies de forma que eles
possam fazer o inventário dos mamíferos em propriedades selecionadas. Estes esforços
estão criando um conjunto de dados quantificados ao longo de uma grande área. Isso
irá ajudar cientistas a compreender a distribuição das espécies ao longo da região
bem como o impacto da fragmentação, rebrotamento da floresta e mudança climática
na composição das espécies. Por exemplo, nós encontramos uma espécie ameaçada de
macaco saki em minha fazenda. Foi surpreendente já estava bem fora da abrangência
suposta para a espécie.

Há um número qualquer de projetos laterais envolvendo a conservação da biodiversidade
na Amazônia. Por exemplo, tenho um projeto lateral com as tartarugas de rio amazônicas.
Estamos tentando reabilitá-las depois de terem sido caçadas à exaustão. Temos equipes
que saem para coletar os ovos após terem sido postos em Junho/Agosto. Nós os cultivamos
até que tenham cerca de 2 meses o que aumenta sua taxa de sobrevivência exponencialmente.
Trabalhamos com o Governo Federal neste projeto.

De qualquer modo, nesta finalidade existem ferramentas poderosas que irão ajudar
o proprietário a o que há em sua propriedade. Estes mapas irão liberar o valor de
suas terra para outras coisas além da pecuária.

Mongabay: Poderia dar um exemplo de ação corretiva que você recomendaria a
um proprietário de terra?

Carter: Nós concentramos em quatro itens primários. O primeiro são as zonas
ribeirinhas ao longo de cursos d’água e pântanos. Por lei estas áreas devem manter
50 metros (160 pés) de cobertura florestal em cada lado. Poucas pessoas tem feito
isso. Ao invés disso, praticamente toda a floresta é derrubada riachos e correntes
como canais lamacentos de drenagem. Para qualificar-se para certificação, os proprietários
precisam deixar estas áreas se recuperarem naturalmente ou reflorestá-las.

Similarmente há obrigação legal de manter floresta em 80 por cento sua terra. Se
você tem uma deficiência de floresta em sua propriedade então precisa assinar um
documento legal que diz que você entrará em conformidade em um certo período de
tempo ou que irá compensar em outra área na mesma bacia hidrográfica. Em nossa propriedade,
por exemplo, faltavam cerca de 1200 hectares de floresta quando mudamos para ela,
então deixei uma porção voltar naturalmente do atender o código florestal. Eu fiz
por mim mesmo — não houve pressão do governo. Vindo dos Estados [Unidos] penso
que tinha que estar em conformidade com a lei. Acontece que eu estava entre os 5
por cento no estado que estão realmente em conformidade…

Outra ação corretiva é reflorestar encostas e penhascos para controlar a erosão.
Isso é provavelmente a segunda ação mais importante após zonas ribeirinhas já que
todo o solo erodido acaba nas correntes d’água onde altera o pH, a turbidez e a
pesca.

A terceira área é os métodos de cultivo. Encorajamos o uso de contornos, semeadura
direta, terraceamento e outros métodos de conservação do solo.

Queimada da floresta Amazônica para campos de pastagem. Crédito: NASA LBA-ECO Project

Bombeiros garantem a sobrevivencia das reservas florestais restantes. Crédito: Aliança
da Terra

A quarta área é o controle do fogo. O fogo é talvez o maior problema da Amazônia
— muita gente não compreende isso. Quanto mais se move para longe do Equador, mais
sazonal a Amazônia se torna. Assim as partes Norte e Sul têm uma estação chuvosa
e uma estação seca. A estaçao seca começa agora em Maio e termina em Setembro, quando
as pastagens estão tão secas que são literalmente caixas de fósforos. Sob estas
condições, queimadas controladas de pastagem ou de áreas desmatadas podem rapidamente
sair do controle e se espalhar para as florestas naturais próximas.

Desde que este é um problema tão crítico, batemos realmente pesado no controle do
fogo. Usando imagens de satélite, nós mostramos ao fazendeiro um período de cerca
de 5 anos de como sua fazenda queimou, incluindo quando pontos de incêndio ele teve
em sua propriedade naquele período. Nós o ajudamos a criar um plano de incêndio,
incluindo quando ele deveria ter bombeiros e estando certo que possui equipamento
para combate ao fogo e canais de comunicação com seus vizinhos.

O fogo é uma grande preocupação para Dan Nepstad, IPAM e Woods Hole — a
cada ano há entre 30.000 e 40.000 só no estado de Mato Grosso. Os incêndios queimam
por 2 ou 3 meses — ninguém os apaga. Eles queimam através da floresta virgem e
a fumaca é terrível. Como piloto, é horrendo. Você põe sua vida em risco cada vez
que voa nestas condições.

Quanto mais as pessoas queimam e desmatam, mais seca a região se torna. A umidade
relativa é reduzida de forma que a floresta que não irá queimar hoje se tornam inflamável
em um ano. O Woods Hole pensa que pode estar chegando o ponto sem volta onde
você poderia ter a maior parte da Amazônia simplesmente indo embora na fumaça. Por
isso é que Dan põe toda essa ênfase em estudos de incêndio no estado.

A Aliança da Terra e bastante agressiva nesta frente. Logo teremos um sistema para
enviar boletins e emails para ajudara as pessoas a gerencias suas terras e reduzir
os riscos. Agora mesmo as pessoas não tomam as medidas adequadas porque são preguiçosas
ou não sabem como. O estado de corrupção não lhes dá muita razão para agir. De fato,
alguns proprietários têm medo de ir ao governo por que sabem que terão de pagar
suborno para receber permissões. É aí que Aliança entra. Ao juntar-se ao nosso sistema,
cortamos o processo de suborno. É seguro já que somos muitos proprierários envolvidos
nesta rede. A turma corrupta sabe que não deve pedir suborno a ninguem em nosso
grupo por que serão atacados na imprensa, perderão seus empregos e serão humilhados.
Ao assegurarmos a transparência temos pessoas fazendo fila para buscar permissões
para fazer as coisas da maneira certa em uma região que até agora era essencialmente
sem lei. Entretanto, precisa ser dito que a Polícia Federal Brasileira, o Governador
Maggi e o chefe da agência estadual de vida selvagem, Marcos Machado, tem feito
um grande trabalho combatendo a rede de antigos companheiros e dramaticamente reduzindo
a corrupção. Tanto que consideramos o secretariado estadual de meio ambiente (SEMA)
um enorme aliado trabalhamos lado a lado com eles como parceiros.

Outro aspecto que focamos é sobre a continuidade entre reservas florestais. Apesar
de que a lei não exija que você tenha continuidade — pode ter um bloco de floresta
no meio de suas terras que não tem valor ecologicamente e ainda assim estar em conformidade
— é crucial para a conservação da biodiversidade e serviços ecológicos. Desta forma
estamos tentando encorajar as pessoas a deixar corredores entre as fazendas. Há
pouco iniciamos um programa piloto que irá tentar manter 150 milhas de corredos
entre as bacias hidrográficas do Xingu e do Araguaia. Temos todos os proprietários
de lá, inclusive os índios, trabalhando para fazer esta grande faixa de floresta
que servirá como último corredos entre as duas bacias hidrográficas. O desmatamento
destruiu o que havia.

Mongabay: Uma vez que um proprietário de terra se associa, como funciona?
Como você monitora as fazendas para ter certeza de que estão em conformidade?

Ajudando os proprietários a entender como eles podem obedecer a lei é a único forma
que a Aliança da Terra trabalha para reduzir o desmatamento na Amazônia. Crédito:
Aliança da Terra

Carter: O primeiro ano do fazendeiro é um período de tolerância. Ele obtém
uma avaliação diagnóstica de sua propriedade, que é um raio ‘x’ ambiental que diz
a ele as coisas boas que fez e as más. Subsequentemente vem o plano de manejo e
a linha de tempo que diz ao fazendeiro o que fazer para recuperar seus danos ambientais.
Uma visita é agendada a cada 12 ou 15 meses para assegurar que o proprietário tem
tomado as ações corretivas sob o plano de manejo. Isso é feito até que a propriedade
está em conformidade. O critério para “chutar” um proprietário do sistema esta ainda
sendo desenvolvido. Estamos criando um comitê externo que irá determinar como as
pessoas permanecem no sistema. Ele não será ligado à Aliança com a finalidade de
manter a integridade de tudo.

O Google Earth é uma forma pela qual o público logo será capaz de monitorar o progresso
dos fazendeiros na Amazônia. Crédito: Google Earth / Aliança da Terra

Monitoramento remoto usando imagens de satélite tem uma participação importante
no programa, sob o ponto de vista da imposição mas também para transparência. Dentro
de 6 meses qualquer usuário da web sera capaz de clicar em minha fazenda e ver não
só uma vista aérea na resolução de 50m, mas seu plano de manejo, se estou completando
suas tarefas no prazo e se eu fiz qualquer coisa ilegal. Um escolar na Inglaterra
pode olhar minha propriedade e dizer a sua mãe que eu estou fazendo a coisa certa.
Certamente há pessoas que farão a coisa errada, mas se tiver entre 70 e 80 por cento
fazendo a coisa certa ela cria esta ferramenta incrivelmente útil para encorajar
a conservação. Tiramos fotos digitais de satélite de uma propriedade, o que vai
em um azimute e dá a você coordenadas geográficas que vão nos arquivos do cara.
Qualquer um pode ir às exatas coordenadas e azimute com um GPS para ver o que estava
lá há um, dois ou cinco anos atrás. A tecnologia criou uma maneira fácil de auditar
as pessoas. Se conferirmos por amostragem 10 de 1000, os outros ouvirão falar dos
10 que foram verificados e dizer “É melhor fazermos a coisa certa.” Essa é a idéia
toda. Tudo o que precisamos é ter volume para começar a influenciar o mercado. Estamos
quase lá. Bem agora temos quase 3 milhòes de acres vigiados. Nós mantemos os olhos
nos objetivos.

Google mostrou interesse no projeto. Está ainda no estágio inicial mas em algum
ponto as pessoas poderam ser capazem de usar o Google Earth para visualizar nossas
fazendas. Nossas propriedades seriam destacadas no mapa.

Mongabay: O que as pessoas aqui nos Estados Unidos podem fazer para ajudar
seus esforços? Vocês são uma organização brasileira mas você tem uma entidade norte-americana?

Carter: Nós começamos como a Brazilian Land Trust, uma organização
sem fins lucrativos nos Estados Unidos. De lá para cá evoluímos para uma organização
brasileira porque queriamos nacionalizá-la e torná-la um esforço brasileiro, já
que aqui há muita animosidade contra organizações internacionais sem fins lucrativos.
Ser uma é como você dar um tiro no pé. Eu sou um de dois americanos no comitê, todos
mais são brasileiros.

Somos baseados em doações e rodamos com um orçamento muito restrito com quase nenhuma
despesa. A maior parte do dinheiro vai diretamente para o campo. Me desmancho no
campo e não tenho muito tempo para levantar fundos, desta forma estamos sempre um
dia atrasados e com um dólar a menos. Eu faço isso pro-bono (de graça, NT).
De qualquer forma estamos ativamente procurando por doações. Americanos podem fazer
isso atraves do nosso website. Ainda temos uma entidade 501(3)c e desta forma
quaisquer doações são dedutíveis do imposto.

Etiqueta de certificação da Aliança da Terra

Logo a melhor maneira de ajudar será através de sua carteira. O grande ponto deste
programa é recompensar os proprietários de terra pelo seu manejo. Consumidores podem
ajudar através de sua carteira ao comprar produtos certificados. Ao dar suporte
a um proprietário de terra na Amazônia consumidores estão dando suporte à conservação
da floresta tropical. Consumidores também podem pressionar grandes corporações e
distribuidores para originar seus produtos de grupos como o nosso.

Dentro de um ano o nosso produto — carne de abatedouros certificados — será lançado
na Europa. Se os EUA abrirem seu mercado para carne fresca do Brasil, então nós
iremos tê-lo nos supermercados de lá também. Todos os pacotes terão nosso selo.

Este sistema, que irá permitir que os consumidores rastreiem o produto até a propriedade
que o produziu, será o primeiro deste tipo nesta escala. Compradores poderão ver
o histórico on-line de uma propriedade em sequencias de imagens de satélite até
o presente. Eles serão capazes de ler o plano de manejo, ver as ações corretivas
tomadas pelo proprietario da terra e estar confiantes de que a carne que estão comprando
vem de uma origem sustentável certificada. Ele está sendo criado como um novo modelo
para o mundo adotar.

Equipe de pesquisas da Aliança da Terra

Em três a seis meses estaremos lançando o mecanismo online de monitoramento. Será
semelhante ao Google Earth assim os usuários podem surfar pela propriedade inteira
onde o produto foi produzido. Você pode ver as correntes d’água, o raio “x” da fazenda
que fizemos, pode ver seu plano de manejo sustentável, a linha de tempo para tomar
as ações corretivas para resolver os problemas e seus planos para enfrentar incêndios
florestais. O sistema é muito transparente e temos a melhor ciência por trás dele.
O Woods Hole e o IPAM são excelentes parceiros no processo. Nós amamos trabalhar
com eles!


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Fearnside, Professor de Pesquisa no Instituto Nacional para Pesquisas na Amazônia,
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presidente da Associação para Biologia Tropical e Conservação

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Diretor do Programa Amazônia do Woods Hole Research Center

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diretor do Jardim Botânico do Missouri

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