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O único lagarto do mundo totalmente azul em risco de extinção

O único lagarto do mundo totalmente azul em risco de extinção

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Azul de Górgona:
O único lagarto do mundo totalmente azul em risco de extinção
Por Tina e Rhett Butler

16/1/2008

Acima do chão da floresta, na remota ilha colombiana de Górgona, vive um lagarto de
pele azul brilhante, rivalizando com a cor do céu. Anolis gorgonae, ou anole
azul, é uma espécie tão esquiva e rara que cientistas não têm sido capazes de fornecer
uma estimativa de sua população. Devido ao habitat isolado e solitário destes
lagartos, os pesquisadores sabem muito pouco sobre ele, mas são cativados pela sua
coloração estonteante.

A aproximadamente 35 milhas (60 quilômetros) da costa colombiana do Pacífico fica
Górgona, uma ilha com passado único e de futuro incerto. Uma prisão de segurança
máxima foi mantida na ilha desde o início dos anos 1950 até o final de 1985. Em
razão da ilha ser separada do continente por uma depressão sub-aquática de 270 metros
de profundidade, Górgona mantém alguma biodiversidade endêmica. Em 1985 a ilha ressurgiu
como um parque nacional para proteger espécies raras que tiveram sucesso naquele
delicado ecossistema.

O anole azul é verdadeiramente estonteante de se contemplar — ele é de puro azul,
sem diferenciação de cor entre machos e fêmeas. A maior distinção visual é o papo
do macho, como em outras espécies de anole, à exceção de que neste caso o papo é
de um branco brilhante, fazendo o contraste do azul ainda mais dramático. A despeito
de sua cor impressionante, poucos humanos tiveram sorte o bastante para conhecer
o único lagarto totalmente azul do mundo.

Anole azul macho em Górgona. Foto de Thomas Marent.
Thomas Marent (www.thomasmarent.com),
um fotógrafo mundialmente renomado visitou Górgona especificamente para fotografar
o anole azul. Levou 4 dias para encontrar um, que foi prontamente comido por um basilisco
após tirar apenas duas fotos. Disseram a Marent que os basiliscos eram uma das razões
para a morte dos anoles azuis; de qualquer forma, conversas exaustivas com herpetologistas
agora sugerem que este não é o caso. Em todo caso, a bela foto tirada por Marent
de anole azul sendo mastigado por um basilisco pode ser encontrada em seu maravilho
livro de fotografias
Rainforest
(Floresta tropical)


Anole azul em Isla Górgona. Foto de Maria Margarita Ramos.
Maria Margarita Ramos é uma estudante graduada no departamento de Ecologia e Biologia
Evolucionária na Universidade de Princeton. Ramos estudou o Anolis gorgonae
na ilha de Górgona em 2004 e aponta que aquele lagarto gasta a maior parte de seu
tempo no topo das árvores onde boas e outras cobras arbóreas são seus predadores
naturais.

A pesquisadora da Universidade Princeton Maria Margarita Ramos estudou o A. gorgonae
em seu habitat natural. Ramos experimentou em primeira mão as dificuldades
de fazer uma avaliação acurada da espécie, que tem se provado bastante furtiva.
Durante seu estudo mais recente, Ramos observou apenas sete indivíduos. O companheiro
cientista Nicholas Urbina da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) enfrentou
problemas semelhantes, percebendo apenas dois espécimes durante seu tempo na ilha.
Com uma amostra tão pequena torna-se difícil esboçar conclusões sobre a espécie.

A despeito dos esforços mal sucedidos para obter uma estimativa definitiva da população
desta espécie, especialistas locais em herpetologia concordam que o anole azul é
uma espécie ameaçada. A ameaça primária parece ser a destruição do habitat
pelo desmatamento e pela coleta excessiva efetuada por zelosos admiradores do belo
lagarto de cor única. Desmatamento é particularmente uma ameaça à medida que o anole
azul é uma espécie arbórea, com apenas as fêmeas se aventurando no solo da floresta
na ocasião de pôr seus ovos.

Fernando Castro, um biólogo da Universidad del Valle que tem estudado os répteis
de Górgona, disse ao mongabay.com que muito do desmatamento ocorrido em Górgona
deve-se ao tempo em que a ilha ainda era uma prisão.

“A população contava de forma expressiva com a coleta de lenha,” disse Castro.

Além disso, ele diz, modificações no habitat podem quebrar o delicado equilíbrio
ecológico da ilha, deixando algumas espécies em desvantagem para seus predadores
naturais.

“Na realidade, hoje conhecemos muito pouco sobre as necessidades ecológicas destas
espécies,” explicou Castro. “Nós não sabemos a capacidade de carga de sua área atual
de habitat e se relações biológicas e ecológicas — como relações predador
x presa
— se deslocaram. É possível que os predadores do A. gorgonae,
incluindo pássaros, macacos e outros répteis, têm se adaptado melhor às mudanças.”

Uma ameaça adicional, causada pela natureza isolada da ilha e seu frágil equilíbrio
de espécies, são organismos invasivos. Estes “invasores estrangeiros” têm causado
severa devastação no ambiente de ilhas ao redor do mundo.

Finalmente, o crescente interesse em Górgona como destino turístico é uma preocupação.
Recentemente parte da ilha foi secretamente concedida para turismo; Castro diz que
é improvável que operadores de turismo preocupem-se com o bem estar de um pequeno
lagarto.

Uma proposta para salvar o anole azul

Ilha de Górgona na costa da Colômbia: lar do raro e espetacular anole azul. Mapa
derivado de imagens de satélite do Google Earth.

Dada a distribuição geográfica restrita e o óbvio apelo estético do anole azul a
espécie pode ser uma boa candidata para um programa de reprodução em cativeiro que
poderia também obter recompensas para outras espécies de Górgona. Sob um sistema
cuidadosamente gerenciado, um número limitado de anoles azuis poderia ser leiloado
ao público para financiar os esforços de conservação e reabilitação em Górgona.
O anole azul poderia servir como um exemplo carismático de espécie importante
que poderia assegurar a preservação dos ecossistemas na ilha.

Um projeto similar, organizado pela National Geographic Society (NGS) obteve algum
sucesso. No último ano a organização anunciou que iria oferecer espécimes do
Wollemi Pine
(conífera da família da araucária, N.t.), uma das árvores
mais velhas e raras do mundo, para consumidores dos Estados Unidos. A NGS esperava
que as vendas fossem uma oportunidade para conservar e propagar a espécie. Alguns
dos procedimentos também avançaram nos esforços para conservar espécies pré-históricas
em seu habitat nativo na Austrália.

Castro diz que um programa de reprodução em cativeiro poderia ser uma maneira efetiva
de prevenir a extinção da espécie, apontando que o Anolis carolinensis, um
espécie próxima, é regularmente reproduzido nos Estados Unidos para o mercado de
animais de estimação.

“Embora fosse tecnicamente ilegal remover lagartos de Górgona sob as leis atuais
da Colômbia desde que o A. gorgonae é uma espécie protegida, as técnicas
reprodutivas utilizadas nos EUA poderiam ser aplicados aqui em Górgona para ajudar
a incrementar a população da espécie,” diz Castro. Entretanto ele adverte que somente
um número mínimo de anoles selvagens deve ser capturado para qualquer tipo de programa
reprodutivo.

Ele acrescenta que estratégias de conservação in situ, baseadas na ilha de
Górgona são preferíveis a abordagem ex-situ que poderia remover a espécie
completamente de seu habitat natural.

“Precisamos projetar pesquisas in-situ — e não ex-situ — para melhorar
nossa compreensão de todo o ecossistema de Górgona. Se você pensa que salvar o A.
gorgonae
será difícil, espere até tentar preservar todas as espécies da
ilha.”

Castro tem um bom ponto. Apesar disso, usando o A. gorgonae como uma espécie
simbólica para a conservação de Górgona como um todo poderia ajudar outras espécies
da ilha a evitar cantar o blues (figura de linguagem — entristecer-se, N.t.).

[Nota: existem outras espécies de lagarto de coloração azulada — incluindo a Iguana
Azul (Cyclura lewisi), que está também criticamente ameaçada;
vários camaleões
,
os agamides africanos
, entre outros — mas o A. gorgonae é a
única espécie de pura coloração azul da cabeça ao rabo]

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