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Más notícias para os rãs: o declínio dos anfíbios é pior do que se temia

Más notícias para os rãs: o declínio dos anfíbios é pior do que se temia

Más notícias para as rãs: o declínio dos anfíbios é pior do que se temia
O aquecimento global, e não doenças, pode ser o culpado desta vez
Rhett A Butler, mongabay.com
24/1/2008

Novas evidência assustadoras sugerem que os anfíbios podem estar em pior forma do
que se pensava devido a mudança climática. Além disso, achados indicam que o declínio
de 70 por cento nos anfíbios nos últimos 35 anos pode ter sido ultrapassado por
uma queda acentuada na população dos répteis, mesmo nos outrora intactos habitats
da Costa Rica. De maneira preocupante, a nova pesquisa adverte que a estratégia
de áreas de proteção para a biodiversidade não serão suficientes para impedir a
extinção. Sapos e seus parentes estão com grandes problemas.

Escrevendo na edição preliminar do Proceedings of the National Academy of Sciences
(PNAS), um time de pesquisadores liderados por Steven M. Whitfield da Florida International
University
, descobriu que as populações de anfíbios e répteis declinaram
em 75% desde 1970 nos vales protegidos de floresta tropical da La Selva Biological
Station
na Costa Rica. O declínio aconteceu unicamente em florestas primárias
— plantações abandonadas de cacau nos arredores não sofreu diminição de suas populações.


Oophaga pumilio, a rã morango venenoso, é uma de um número de espécies
de anfíbios e répteis declinando nas florestas dos vales da Costa Rica. Crédito
da Imagem: Steven M. Whitfield.

Cientistas dizem que anfíbios — animais de sangue frio que incluem rãs, sapos,
salamandras e ânguis — estão sob grave ameaça devido às mudanças climáticas, poluição
e o aparecimento de uma doença fatal e infecciosa causada por fungo, que foi vinculada
ao aquecimento global. De acordo com a Global Amphibian Assessment, uma análise
abrangente da situação das espécies mundiais de anfíbios, 1/3 das 5.918 espécies
conhecidas de anfíbios está classificada como ameaçada de extinção. Além disso,
mais de 120 espécies provavelmente extinguiram-se desde 1980. Cientistas dizem que
o declínio mundial dos anfíbios é um dos mais urgentes problemas ambientais do mundo;
um que pode prenunciar grandes ameaças ao balanço ecológico do planeta. Em razão
dos anfíbios terem a pele altamente permeável e gastarem porções de suas vidas na
água e na terra, são sensíveis à mudança ambiental e podem agir como o proverbial
“canário da mina de carvão,” indicando a sanidade relativa de um ecossistema. À
medida que morrem, cientistas são deixados imaginando que grupo de animais ou plantas
é o próximo.

Os resultados do novo estudo são particularmente perturbadores por que são altamente
inesperados. Até hoje a maior parte dos declínios observados nos anfíbios têm ocorrido
em regiões temperadas ou áreas montanhosas nos trópicos. Estas têm sido atribuídas
a infecção parasitária do fungo chytrid, mas nenhuma evidência de chytridiomycosis
foi encontrada por Whitfield e seus colegas. Além disso, a pesquisa reporta uma
queda simultânea na população de répteis, uma descoberta que não tinha sido previamente
documentada e que sugere que alguma mais está inadequada no ecossistema.

“A fauna dos lagartos das forragens do chão da floresta representam o grupo de vertebrados
mais ecologicamente similares ao anfíbios de forragem, e rãs e lagartos terrestres
usam habitats, microhabitats e presas similares,” escreveram os pesquisadores.
“Em razão destes dois grupos diferirem nas suscetibilidades fisiológicas a fatores
associados ao declínio dos anfíbios (por exemplo, exposição a pesticidas ou surgimento
de doenças infecciosas), estes lagartos ecologicamente similares fornecem um contraste
de valor incalculável para classificar hipóteses sobre os mecanismos condutores
do declínio dos anfíbios.”

Devido à característica intacta do sítio, os pesquisadores foram capazes de descartar
um número de possíveis explicações para o dramático declínio nas populações de répteis
e anfíbios, inclusive modificações de habitat, fragmentação, pesticidas e,
certamente, o fatal patógeno chytrid, desde que não afeta répteis ou ocorre
na área estudada.

Ao invés disso, os pesquisadores propuseram que a mudança climática é o agente por
trás do colapso da população, argumentando que um reduzido número de dias sem chuva
combinado com temperaturas em elevação impactaram de forma negativa sobre a quantidade
de forragens no chão, um microhabitat crítico para os répteis.

Fungo Chytrid (Batrachochytrium dendrobatidis)

Cientistas ainda não sabem a origem deste fungo, apesar de suspeitar que pode ser
o sapo Platanna (African clawed frog) uma espécie que viajou ao redor do mundo
com finalidades científicas. O fungo é altamente contagioso e algumas pessoas têm
acusado os cientista de inadvertidamente introduzir esporos do patógeno em ecossistemas
carregados em suas botas. De qualquer forma este fungo é agora encontrado em pelo
menos quatro continentes e está se espalhando rápido. No último mês o Japão confirmou
a primeira morte local de sapos pelo fungo, o fungo aparenta estar migrando em velocidade
constante através do ístmo.

Alguns cientistas argumentam que o aquecimento global poderia estar piorando a crise.
Em janeiro de 2006 um time de pesquisadores escrevendo em Nature vincularam
a mudança climática a extinção dos sapos causada pelo fungo de pele. Liderados por
J. Alan Pounds do Tropical Science Center’s Monteverde Cloud Forest Preserve
na Costa Rica, os cientistas focaram no sapo arlequim (Atelopus) de cores brilhantes
que estão em perigo crítico ao longo de sua abrangência [geográfica] — entre os
anos 1980 e 1990, quase 2/3 das 110 espécies conhecidas de sapo arlequim foram extintas
com o fungo chytryd como principal suspeito.

Usando registros de temperatura da superfície do mar e do ar, pesquisadores descobriram
fortes correlações entre mudanças no clima e as últimas visões conhecidas dos sapos.
De acordo com os cientistas, as temperaturas da Terra em elevação aumentam a cobertura
de nuvens nas montanhas tropicais, levando a dias mais frios e noites mais quentes,
ambos dos quais favorecem o fungo chytryd que cresce e se reproduz melhor
em temperaturas entre 17 e 25 graus Célsius (63 a 77 graus Fahrenheit).

O fungo mata os sapos mais frequentemente em regiões montanhosas frias ou durante
o inverno, implicando que baixas temperaturas fazem-no mais fatal. Assim a doença
floresce em anos quentes e põe sapos vivendo em médias altitudes em grande risco.

Em anos vindouros, maiores mudanças no clima irão provavelmente produzir condições
mais favoráveis para o fungo em detrimento de sapos e outros anfíbios.

Seus resultados diferem marcadamente daqueles em outras partes do mundo onde o declínio
documentado de anfíbios ocorreu de repente, às vezes em uma questão de meses.

“Em contraste com estes eventos repentinos de declínio,” eles escrevem, “nós demonstramos…
que o declínio gradual da comunidade pode também ocorrer.”

Em pior situação no estudo estavam as salamandras, que declinaram uma média de 14,5
por cento ao ano desde 1970. Sapos declinaram em 4 por cento, enquanto a densidade
de lagartos caiu 4,5 por cento ao ano.

“Infelizmente, não temos idéia de como explicar as diferenças nas taxas de declínio
entre espécies,” disse Whitfield ao mongabay.com via email. “Salamandras são bastante
suscetíveis ao patógeno do fungo chytryd que tem exterminado espécies de
anfíbios nas montanhas, mas este fungo não pode explicar todas as nossas tendências.
Além disso, espécies aquáticas são mais suscetíveis ao fungo, e estas salamandras
nunca entram na água (até mesmo depositam seus ovos na terra). Até este ponto temos
mais perguntas que respostas.”

Dados deficientes originam complacência

Os pesquisadores acrescentam que não sabem se declínios similares estão ocorrendo
em outros lugares.

“Tristemente, o declínio dramático que reportamos aqui só pode ser considerado lento
em comparação a estes eventos de extinção quase instantâneos,” escrevem. “É atualmente
impossível determinar com que freqüência declínios na comunidade como os que reportamos
aqui estão realmente ocorrendo, porque tendências como as que reportamos são impossíveis
de detectar sem dados abundantes de longo prazo sobre as densidades populacionais
coletados utilizando metodologia consistente. Apesar destes conjuntos de dados serem
excepcionalmente raros, serão críticos para a compreensão de toda a extensão da
crise de declínio nos anfíbios.”

Os autores alertam que esta ausência de dados pode mesmo estar minando as estimativas
de conservação ao desviar as percepções dos níveis históricos de riqueza de espécies
no ecossistema.

“Além do mais, a ausência de dados históricos sobre a densidade das populações podem
levar a estimativas ingênuas ou inapropriadas da situação da conservação, um fenômeno
conhecido com síndrome do desvio das linhas de base,” escrevem. Sem conjuntos de
dados históricos robustos indicando declínios precipitados, a densidade atual de
anfíbios e répteis poderia ser usada para sugerir que populações de anfíbios e répteis
em La Selva estão livres de riscos de conservação. Efetivamente, todas as
espécies de anfíbios para os quais relatamos declínios persistentes de mais de uma
década em áreas protegidas de floresta tropical nativa são listadas como ‘menor
preocupação’ na lista vermelha da IUCN (exceto uma).”

Os autores lembram que dados deficientes pode estar originando complacência.

“Nossos dados levantam a preocupante possibilidade de que declínios sistemáticos
na população de anfíbios não ocorrem somente em climas frios, mas em razão de que
declínios ocorrendo em climas frios ocorrem mais rapidamente, estes são os únicos
habitats onde foram detectados. Nossos dados indicam que mesmo populações
de anfíbios para os quais ameaças específicas não foram identificadas podem apesar
de tudo estarem sofrendo de declínios dramáticos, e tais populações podem estar
sendo consideradas estáveis em razão da falta de dados de longo prazo, não falta
de ameaças.”

Salvando os anfíbios da extinção

Os autores dizem que porque pouco é conhecido à respeito da natureza e extensão
do declínio dos antíbios é difícil prescrever estratégias de conservação para salvar
os anfíbios da extinção.

“No momento, eu não posso ver nossas descobertas recentes mudando de forma imediata
políticas de conservação. Na realidade não entendemos o que causou os declínios
que estamos relatando, e é difícil projetar estratégias efetivas de conservação
contra ameaças que não somos razoavelmente confiantes à respeito,” disse Whitfield.
“Ainda, a proteção do habitat é de longe a maneira mais efetiva para proteger
a biodiversidade.”

Mais cedo este ano cientistas reuniram-se em Atlanta para desenvolver planos de
última hora para salvar os anfíbios em desaparecimento da extinção. O grupo, que
chamou a si mesmo de Arca dos Anfíbios, objetivava salvar os anfíbios ameaçados
pedindo aos zoológicos, aquários e jardins botânicos para agir como santuários
para sapos e salamandras em desaparecimento. Estas instalações serviriam como a
“Arca” proverbial para proteger os anfíbios até que descobrissem uma forma de
parar o fungo assassino chytryd e outras ameaças. Embora tais esforços já
estejam em andamento com um punhado de espécies no Bronx Zoo em Nova York
(Kihansi Spray Toad) e no Houston Zoo (Rã dourada panamenha), espera-se que
a expansão do esforço para centenas de espécies custe entre US$ 400 e US$ 500 milhões.

Whitfield diz que o conceito da Arca pode salvar algumas das espécies mais ameaçadas,
mas ainda fica longe de uma solucão ideal.

“Para certas espécies — aquelas mais pesadamente atingidas pelo declínio global
— a “arca” é provavelmente a única coisa viável a fazer para previnir a completa
extinção,” ele diz. “Podemos prever com razoável precisão quais as espécies
prováveis para extinção (sapos habitantes das encostas montanhosas), nós sabemos
que essas extinções podem acontecer muito rapidamente, e desta forma parece que seria
irresponsável não estabelecer populações cativas destas espécies. Isso certamente
é somente uma parte da solução, entretanto, programas intensivos de reprodução em
cativeiro são uma maneira cara de proteger as espécies. Nós ainda precisamos desesperadamente
de mais pesquisa sobre as causas do declínio global dos anfíbios. Desta forma, a
“arca” não é uma solução ideal para a conservação, mas pode ser uma necessidade
desesperada.”

Kevin C. Zippel, diretor do programa “Arca dos Anfíbios”, acrescenta que o mundo
precisa agir logo para proteger os anfíbios da extinção.

“Ninguém irá discutir que o melhor lugar para conservar a espécie é o [meio] selvagem,
mas atualmente nós não podemos controlar ameaças como o fungo chytryd e o
aquecimento global,” disse Zippel ao mongabay.com. “Temos uma simples escolha: permitir
que espécies ameaçadas sejam extintas ou fornecer-lhes um santuário temporário em
cativeiro até que aquelas ameaças in situ sejam mitigadas. A escolha responsável
esta clara.”

“Nosso maior desafio não é a administração ou a ciência, está se tornando necessário
auxílio do governo e da sociedade como um todo para dar suporte a uma resposta rápida
antes que percamos muito desta espetacular classe de vertebrados… A menos que
intervenhamos agora, não teremos qualquer opção no futuro.”

CITAÇÃO: Steven M. Whitfield, Kristen E. Bell, Thomas Philippi, Mahmood Sasa, Federico
Bolaños, Gerardo Chaves, Jay M. Savage, and Maureen A. Donnelly (2007). Amphibian
and reptile declines over 35 years at La Selva, Costa Rica. PNAS Online Early Edition
for the week of April 16-20, 2007. www.pnas.orgcgidoi10.1073pnas.0611256104



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