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Incêndios na floresta tropical amazônica datam de milhares de anos

Incêndios na floresta tropical amazônica datam de milhares de anos

Incêndios na floresta tropical amazônica datam de milhares de anos
Rhett Butler, mongabay.com
7/1/2008

Estudo publicado no jornal Biotropica relata que incêndios não são novidade
na Amazônia.

Analisando solos do interior da Guiana, América do Sul, um time de cientistas liderados
por David S. Hammond da NWFS Consulting encontrou evidência de incêndios florestais
datados em milhares de anos. Embora a origem destes incêndios não esteja clara,
os autores propõem cenários intrigantes envolvendo populações pré-Colombianas e
antigos eventos ‘El Niño’ que poderiam ter secado tanto a área das
florestas tropicais que a tornaram mais suscetível a incêndios florestais.

“Carvão espalhado por numerosos locais indicam que coberturas florestais próximas
à região do Escudo da Guiana têm sido sujeitas a eventos de fogo de intensidade
desconhecida durante os últimos vários milênios,” escrevem os autores. “Uso da terra
pré-colombiana, estiagem climática ou uma combinação destes fatores podem ser os
responsáveis.”

As populações indígenas foram responsáveis pela queimada em larga escala das florestas?

Notando que a incidência de incêncios aparentam ter um pico entre 1000 e 1250 anos
atrás — o tempo em que se acredita que as populações indígenas estavam de seu nível
mais alto, Hammond disse ao mongabay.com que “um cenário explicando o carvão abundante
deste período pode ser [causado] por uma maior atividade humana, e assim populações
humanas significativamente maiores. Com populações maiores, um sistema agrário maior
estaria que estar disponível. Conseqüentemente, mais florestas teriam que ser rotacionadas
através de um processo de limpeza e queimada.


Desmatamento na Amazônia Peruana – foto de Rhett A. Butler.

Os autores notam que embora haja uma ausência de evidências de grandes populações
pré-colombianas na Guiana, Hammond diz que não esperaria encontrar nenhum achado
arqueológico dadas as condições locais.

“Artefatos na região seriam construídos de osso ou madeira — materiais menos prováveis
de persistir como evidências até hoje,” ele diz. “Além disso, se considerarmos as
diferenças ambientais nas condições de pH entre as duas regiões [ Guiana versus
América Central onde restaram as ruínas de pedra Maias ], é ainda mais aparente
que muitos tipos de pedras sedimentares mais facilmente trabalhadas não iriam persistir
no Escudo da Guiana, quanto mais osso ou madeira.”

“A ausência de artefatos como evidência nestes locais é altamente consistente com
os resultados de Nouragues e Manaus, ainda que assentamentos Ameríndios nestas áreas
e em locais na região de San Carlos e Porto Trombetas sejam bem documentados,” escrevem
os autores. “Incêndios mais modernos na região são em última análise ligados à atividade
humana, indicando que habitantes pré-colombianos podem, também, ter começado incêndios
que se espalharam sobre grandes áreas de florestas quando o combustível aumentou
durante períodos significativamente secos.”

A participação de ENSO

Hammond e seus colegas Hans ter Steege e Klaas van der Borg da Utrecht University
da Noruega, dizem que o Leste da Amazônia é particularmente suscetível à seca durante
“fases anômalas do ENSO” (sigla em inglês para Oscilação Meridional do El Niño).
Condições mais secas durante estas épocas poderia deixar as florestas em risco significante
de incêndio. Pesquisas nas Américas do Sul e Central sugerem que eventos prolongados
do ENSO poderiam produzir condições onde fogos florestais poderiam se disseminar
sem muita influência humana.

“Betty Meggars sugeriu em seu artigo de 1994 no jornal Climatic Change que
secas prolongadas causadas pelo ENSO, o cenário ‘mega El Niño’, podem ter causado
mudanças nos sistemas sociais regionais,” explica Hammond. “Secas severas na região
são principalmente uma conseqüência de movimentos anômalos na temperatura da superfície
do mar ao longo da costa da Guiana. Isto é frequentemente, mas não sempre, vinculado
em mudanças oeste-leste nas águas superficiais do Pacífico equatorial, o efeito
ENSO. Assim, a extensão do comportamento anômalo poderia ter levado a períodos mais
extensos de seca ao longo das paisagens regionais de floresta e maior distribuição
de incêndios na presença de fontes de ignição modestas.”

Colapso: uma terceira possibilidade

Embora exista a possibilidade de que os fogos fossem inteiramente naturais, Hammond
diz que remoção de florestas pelos homens trabalhando em conjunto com uma seca extensiva
conduzida pelo ENSO poderia levar a um impacto ainda maior.

“O terceiro e mais dramático cenário, a teoria do ‘Colapso Maia’, esboça um processo
de crescimento elevado da população sob o peso da capacidade constritiva de manter
a si mesmos durante um prolongado período de baixas precipitações,” disse Hammond
por email. “É digno de nota que o pico de formação de carvão no Escudo da Guiana
é consistente com as evidências arqueológicas que suportam o princípio do colapso
(750DC, 1250 anos atrás) do período Clássico dos Maias (250-950 DC, 1050 à 1750
anos atrás) (Haug et al. 2003).”

Desmatamento na Amazônia peruana – foto de Rhett A. Butler.

Hammond adverte que ainda há evidências insuficientes para concluir se o terceiro
cenário poderia ter ocorrido no Escudo da Guiana, mas diz que o estudo tem implicações
para a região nos dias de hoje.

“Ignoramos as evidências do passado sob o risco do futuro. Gerenciar florestas tropicais
ao longo da região sem considerar o potencial catastrófico de mudanças causadas
pelo fogo durante estes períodos pode limitar futuras prospecções por sustentabilidade
e conservação à longo prazo do catálogo da região rico em plantas endêmicas e animais,”
ele adverte.

“Modernas florestas tropicais irão continuar a queimar durante os eventos de seca
do El Niño e como conseqüência da disseminação das populações humanas (Hammond &
ter Steege 1998). Se os maias entraram em colapso sob o peso de secas causadas por
eventos ENSO, pode acontecer de novo.”

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