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Impacto do aquecimento global no debate sobre a extinção

Impacto do aquecimento global no debate sobre a extinção

Impacto do aquecimento global no debate sobre a extinção
Extinção, como a mudança no clima, é complicada
By Rhett A. Butler, mongabay.com
21/1/2008

A extinção é um tópico ardentemente debatido, mas pouco compreendido nas ciências.
O mesmo acontece com a mudança climática. Quando cientistas tentam prever o impacto
das mudanças globais nos níveis futuros de biodiversidade, os resultados são controvertidos,
para dizer o mínimo.

Embora alguns argumentem que espécies têm conseguido sobreviver a mudanças climáticas
piores no passado e que as ameaças atuais à biodiversidade são superestimadas, muitos
biólogos dizem que os impactos da mudança climática e as conseqüentes alterações
nas chuvas, temperatura, nível do mar, composição do ecossistema e disponibilidade
de comida terão efeitos significativos na riqueza global de espécies.

Lições das extinções históricas

Há pouca dúvida sobre o papel que o clima exerceu nas flutuações passadas no nível
de biodiversidade. Entre os cinco eventos reconhecidos de extinção em massa — o
Ordovícico, o Devoniano, o Pérmico, o Triássico e o Cretáceo — pelo menos em quatro
acredita-se tenham relação com a mudança climática.

Peter Ward, paleontologista da Universidade de Washington em Seattle,
diz que há evidências
que a maior parte das extinções foram causadas por
mudanças graduais no clima. Ele cita especificamente as extinções do Triássico e
do Pérmico, ocorridas a 200 e 251 milhões de anos, respectivamente.


Extinções
em massa históricas

“O evento do Triássico não é algo que aconteceu da noite para o dia,” diz Ward,
notando que os níveis de dióxido de Carbono de então estavam acima de 100 vezes
o que são hoje.

No caso do Pérmico, temperaturas em elevação podem ter causado a maior extinção
em massa registrada, de acordo com um
estudo publicado
na edição de setembro de 2005 de Geology. Acredita-se
que o aquecimento global, que pode ter produzido temperaturas entre 10 e 30 graus
Célsius (18-54 graus Farenheit) mais altas que hoje, tenha
exterminado
95% das formas de vida oceânicas do mundo e 75% das
terrestres.

Embora a mudança climática tenha causado a extinção de espécies, também levou ao
nascimento de novas, incluindo a humana.

Durante a termal máxima do Paleoceno-Eoceno (PETM na sigla em inglês), um período
de 55 milhões de anos atrás marcado por um
rápido crescimento
nos gases estufa que aqueceram a Terra cerca de 5°C (9°F)
em menos de 10.000 anos, o aquecimento climático causou largas mudanças, incluindo
extinção em massa nos oceanos do mundo pela acidificação e
mudanças na comunidade de plantas
devido às alterações nas chuvas. Esta
era ajudou a preparar o cenário para a “Idade dos Mamíferos” que inclui a
primeira aparição dos primatas modernos.
.

Mais tarde, períodos de mudança climática na África podem ter criado condições que
conduziram a evolução dos humanos. Dr. Mark Maslin, professor acadêmico em Geografia
da Universidade College London,
argumenta que a variação climática
nos últimos 2,7 milhões de anos foram
parte crucial na promoção do desenvolvimento humano. Seu trabalho sugere que os
humanos evoluiram durante curtos períodos grande mudança ambiental — quando períodos
secos foram pontuados por lagos rapidamente aparecendo e desaparecendo. Foram estas
mudanças rápidas nas fontes de água que forçaram os hominídeos primitivos a rapidamente
mudar e adaptar-se.

“Estes períodos temporariamente úmidos teriam imposto impactos enormes nos primeiros
humanos,” declarou em 2005 na conferência anual da Royal Geographical Society
em Londres, “Nossa pesquisa fornece forte suporte para teorias nas quais as primeiras
espécies humanas evoluiram e espalharam-se em resposta a um ambiente mudando rapidamente.”

Extinção causada por mudanças climáticas gera biodiversidade, mas após um intervalo
de tempo

Apesar das extinções do passado, em uma escala geológica de tempo a Terra atualmente
tem mais espécies do que nunca. Entretanto, é importante notar que embora alterações
climáticas tenham dado origem a novas espécies após a extinção em massa, o tempo
de recuperação é medido em milhões de anos, enquanto que os humanos têm estado por
aqui há menos de 200.000 anos. Extinções do passado nos ensinam que a biodiversidade
leva um longo tempo para recuperar-se e a perda de espécies dos anos vindouros não
serão substituídas em qualquer escala de tempo significante.


Foto de
Brodie Ferguson.

A maior parte dos biólogos concorda que estamos no meio de um sexto grande evento
de extinção, onde a perda de espécies está à frente do nascimento de novas espécies.
Em um artigo publicado
ano passado
no Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics,
Camille Parmesan, bióloga da Universidade do Texas em Austin, argumentou que o aquecimento
global corrente já causou extinções nos habitats mais sensíveis do mundo
e continuará a causar mais extinção de espécies nos próximos 50-100 anos. O trabalho
de Parmesan mostra que embora algumas espécies — especialmente aquelas com gerações
de curta duração como os insetos — estão se desenvolvendo em resposta à alteração
climática, não estão se desenvolvendo em formas que poderiam prevenir a extinção.
Como um todo, a evolução não está preparando para o desaparecimento de espécies.

Extinções Atuais

Atualmente, a previsão mais completa para o impacto da mudança climática na biodiversidade
foi feita em dois artigos de 2004 publicados em Nature por Chris Thomas e colegas. Analisando a disribuição
de 1103 espécies de animais e plantas de várias partes do mundo, os autores mostraram
que de 15 a 37 por cento têm probabilidade de serem extintas baseadas nas melhores
projeções de mudanças climáticas futuras.

“Nós comparamos a distribuição geográfica atual de cada uma destas 1103 espécies
com as condições climáticas naquelas áreas e então perguntamos ‘qual será
o tamanho da área deste tipo de clima em 2050, e onde poderá estar?'” explicou o
Dr. Thomas, biólogo da Universidade de York, ao mongabay.com por email. “Em muitos
casos, esperava-se que o clima atualmente utilizado por uma espécie desaparecesse
inteiramente; em outros não havia coincidência geográfica entre onde a espécie ocorre
hoje e onde as condições climáticas irão permanecer adequadas – a espécie teria
que mudar-se ou enfrentar a potencial extinção.”

Dr. Thomas diz que a incerteza associada com as projeções de mudança climática torna
complicadas as estimativas de biodiversidade, mas que suas projeções sugerem que
a mudança climática poderia rivalizar com perda de habitat causada pelo homem
ao liderar a condução de espécies à extinção.

“Usando uma variedade de cenários climáticos, pressupostos e método de análise,
estimamos que algo em torno de 5% a 50% das espécies que analisamos está em risco
de extinção, com o centro do intervalo das estimativas ficando entre 15% e 37%.
Isso está baseado no aquecimento projetado até 2050, assim no ano de 2100 os riscos
de extinção pela mudança climática provavelmente estarão situados na metade superior
deste intervalo (ou acima),” ele explicou. “Nossas estimativas de extinção potencial
eram valores preliminares com a finalidade de definir a ordem de magnitude do problema.
Descobrimos que os riscos de extinção por mudança climática são provavelmente similares
àqueles da perda de habitat e é concebível que ainda maiores em algumas regiões.”

Dr. Thomas adverte que nem todas as espécies “reservadas à extinção” irá desaparecer
em 2050 devido ao período de latência inerente a esse processo.

“Quando o clima tornar-se inadequado para a sobrevivência a longo prazo de uma espécie
não significa que irá desaparecer imediatamente. Para espécies com indivíduos de
vida longa, em particular, podem levar décadas ou mesmo séculos antes que o último
indivíduo desapareça. Desta forma, este é o número de espécies que podem estar
declinando em direção a extinção de 2050 em diante, não o número das que irão extinguir-se
naquela data.”

Como a mudança climática afeta a biodiversidade?

A mudanca climática pode afetar as espécies em uma miríade de formas incluindo a
expansão, contração e “migração” do habitat; a elevação na incidência de
doenças e espécies invasivas; mudanças na temperatura, precipitação e outras condições
ambientais; mudanças na disponibilidade de alimento e falha nas relações ecológicas
com outras espécies — por exemplo, a perda de polinizadores críticos ou fixadores
de nutrientes no mutualismo. No passado algumas espécies podem ter escapado da extrinção
ao “migrar” para o Norte ou para o Sul em resposta às mudanças climáticas. Os homens
de hoje dificultaram muito isso ao fragmentar, converter e destruir habitats
e potenciais corredores de migração.


A mudança climática irá incrementar o risco de extinção, especialmente
nos trópicos

Peter Raven,
diretor do Jardim Botânico do Missouri e renomado especialista em biodiversidade,
diz que a mudança climática também irá dificultar os esforços de conservação.

“À medida que o clima muda, áreas protegidas não serão capazes de deslocar-se devido
às áreas urbanas ao redor e zonas agrícolas,” disse ele ao mongabay.com por telefone.
“Isso faz delas as mais suscetíveis ao impacto da mudança climática, seja pelo aumento
do nível do mar, um incremento nos níveis de precipitação ou temperaturas mais altas.”

“A perda de habitat também irá interagir com a mudança climática,” acrescentou
o Dr.Thomas. “Já é difícil o bastante proteger a biodiversidade mundial se ela permanece
parada — é muito pior se estiverem em movimento, a medida em que movem sua distribuição
para novas áreas onde os climas tornam-se adequados para elas. Precisam proteger
onde as espécies estão agora, onde estarão no futuro, e o espaço entre elas que
as espécies precisarão atravessar no caminho. Assim, a primeira resposta para manter
a biodiversidade no contexto da mudança climática é para renovar os esforços para
proteger grandes áreas de habitat naturais e semi-naturais, particularmente
em cadeias montanhosas e outras regiões ambientalmente diversas – onde espécies
podem ser capazes sobreviver ao mudar-se por distâncias relativamente curtas de
baixo para elevações mais altas, de solos mais secos para solos mais úmidos (e vice
versa), e assim por diante.”

Se esperamos que tantas espécies desapareçam, então onde estão todas as extinções?

A biodiversidade da Terra é ainda pouco conhecida. Dr. Raven estima que menos de
1/6 das espécies foi nomeada, quanto mais avaliada quanto aos riscos da mudança
climática. Na mesma medida, mais extinção irá ocorrer entre espécies que são pouco
e pobremente conhecidas. Além disso, espera-se que a extinção de espécies acelere
significativamente ao redor da metade do século se as previsões climáticas estiverem
corretas, diz o Dr. Thomas.


Foto de
Rhett A. Butler.

“Esperamos ver mais extinção ocorrendo de 2050 am diante, não agora,” ele disse.
“Mas há evidências crescentes de que espécies estão declinando nos pontos de mais
baixa altitude e latitude de suas abrangências geográficas. E no ano passado, Alan
Pounds e colegas publicaram um artigo indicando que cerca de 1% de todas espécies
de anfíbios do mundo (os sapos arlequim) sucumbiram ao ataque de um fungo patógeno
de pele disparado pela alteração climática. Isso aconteceu antes do que eu esparava
e foi pior do que eu temia.”

Dr. Thomas refere-se ao estudo no qual descobriu que quase 2/3 dos 110 sapos-arlequim
Atelopus da América Central e do Sul foi extinta nas décadas de 1980 e 1990.
O culpado principal pela morte foi um tipo de fungo chytrid (Batrachochytrium
dendrobatidis), [que causa] uma doença infecciosa de pele. Os pesquisadores descobriram
fortes correlações entre mudanças no clima e as últimas vezes que os sapos foram
avistados. De acordo com os
cientistas
, as temperaturas crescentes da Terra aumentam a cobertura de
nuvens nas montanhas tropicais, levando a dias mais frescos e noites mais quentes,
ambos favoráveis ao fungo chytrid que cresce e se produz melhor em temperaturas
entre 17 e 25 graus Célsius (63 a 77 graus Fahrenheit).

“A extinção do sapo arlequim representa um importante lembrete. Nenhuma das ameaças
que afetam a biodiversidade mundial age isoladamente. A mudança climática ajudou
a disparar epidemias de uma doença emergente, e foram as forças combinadas destas
duas ameaças que causaram tanto dano aos sapos arlequim.”

Estes sapos de cores brilhantes podem ser o proverbial “canário na mina de carvão”(*):
um crescente número de estudos sugerem que a mudança climática pode bem colocar
uma maior variedade de plantas e animais em risco de extinção.

(*) Nota do Tradutor: canários eram utilizados em minas de carvão
para monitorar a qualidade do ar e a presença de gases venenosos no ambiente; enquanto
o canário cantasse os mineiros podiam trabalhar; se o canário morresse a mina era
evacuada imediatamente.

Além de sapos: lêmures, pássaros e recifes de coral

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extinção da biodiversidade?
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Patricia Wright,
uma das principais especialistas em lêmures no mundo, descobriu que mesmo pequenas
alterações nos padrões de precipitação podem afetar drasticamente a poulação de
lêmures. “Uma ligeira mudança no clima, mesmo na florestas tropical onde assumimos
que a água é abudante, pode impactar na sobrevivência dos filhotes de lêmures,”
disse ela em 2005 logo após a publicação de um artigo no jornal PNAS (Proceedings
of the National Academy of Sciences) que mostrou como mesmo sutis modificações no
clima diretamente resultam em sucesso reprodutivo mais baixo nos lêmures. “Fiquei
chocada ao ver o efeito da diminuição das chuvas em pequena magnitude na sobrevivência
dos filhotes de Sifakas. As implicações são enormes em um mundo cheio de espécies
ameaçadas.” Ela diz que o desmatamento e a fragmentação do habitat somente
irão piorar a ameaça.

Similarmente, o criador do modelo climático das florestas ao Norte da América do
Sul, Dr. Paul A. T. Higgins
espera um declínio regional na biodiversidade
devido a níveis mais baixos
de precipitação. Ele diz que a destruição do habitat irá tornar mais difícil
para as espécies persistirem em uma floresta em mutação.

Enquanto isso, pesquisas indicaram que até
72 por cento das espécies de aves
do nordeste da Austrália e mais de um
terço na Europa poderiam exinguir-se devido ao aquecimento global. O relatório do
WWF que analisou mais de 200 artigos científicos sobre aves descobriu que espécies
de maior risco incluiam as migratórias, de montanhas, de ilhas, de pântanos, do
Ártico, da Antártida e pássaros marinhos. Ano passado, a
Agência Britânica de Proteção Ambiental
(DEFRA) preveniu que a mudança climática
irá atrapalhar a procriação, dificultar migrações e aumentar a transmissão de doenças
em pássaros e animais migratórios.

Finalmente, uma série de estudos publicados durante os últimos anos têm expressado
preocupações terríveis com os recifes de coral. Entre os mais alarmantes estava
um da WWF e do governo de Queensland que disse que
Grande Barreira de Recife da Austrália
poderia perder 95 por cento de seus
corais vivos até 2050 se as temperaturas do oceano aumentarem em 1,5 graus Célsios
como projetado pelos cientistas do clima.
A acidificação do oceano
resultados de concentrações mais altas de Dióxido
de Carbono dissolvido, é outra ameaça aos corais e ao plâncton que formam a base
da cadeia alimentar marinha.

Reduzindo a incerteza e prevenindo cenários apocalípticos

Apesar destes estudos serem terríveis, estão ainda longe da certeza. Dr. Thomas
diz que embora mais pesquisa seja necessária para melhor entendermos os riscos propostos
pela mudança climática, precisamos dar os primeiros passos para enfrentar as raízes
do problema.

“A maior parte das pesquisas subsequentes sobre as ameaças de extinção por mudança
climática tem também deixado os riscos de extinção na mesma. Para aperfeiçoar mais
estas estimativas requer-se um trabalho bem mais detalhado em cada espécie – o trabalho
até agora é suficiente para dizer que a mudança climática provavelmente é uma causa
maior de extinção, mas não podemos ainda especificar exatamente quais espécies irão
sobreviver ou perecer.”

“Dado que aproximadamente o dobro do nível de extinção é previsto para cenários
de grande emissão de calor, comparado aos cenários de baixa emissão, minimizar a
quantidade de aquecimento que acontece hoje é alta prioridade.”

Dr. Ward concorda. Referindo-se aos eventos pré-históricos disparados pelo vulcanismo
em massa, ele disse: “Nós estamos no mesmo caminho, mas trocamos os agentes de vulcões
por caminhonetas.”

Dr. Raven diz que o tempo de agir é agora.

“Pessoas estão percebendo a mudança climática como um fator importante. O aquecimento
do clima não está somente ligado a preservação da biodiversidade, mas torna as pessoas
alertas ao problema da perda da biodiversidade global.” disse ele. “Agora é a melhor
oportunidade que temos para entrarmos em ação. Quanto mais esperarmos, menores as
opções e mais perderemos.”

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