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Desmatamento na Amazônia danifica serviços críticos do ecossistema

Desmatamento na Amazônia danifica serviços críticos do ecossistema

Desmatamento na Amazônia danifica serviços críticos do ecossistema
Rhett A. Butler, mongabay.com
17/1/2008

A perturbação humana à floresta tropical amazônica é mais extensa do que pensávamos,
disse um time de cientistas escrevendo para a última edição do jornal Frontiers in
Ecology
(Fronteiras em Ecologia). Analisando recente pesquisa do ecossistema
amazônico, eles apontam que atividades humanas estão afetando a saúde da floresta
e impactando os bens ecológicos e serviços que a Amazônia fornece à humanidade.

“Pesquisas emergentes indicam que o uso da terra na Amazônia vai muito além da remoção
de grandes áreas de florestas; extração madeireira e outros danos à cobertura do
que se acreditava,” escrevem os autores. “Desmatamento causa danos colaterais às
florestas ao redor — através da seca do solo florestal, alta freqüência de incêndios
e baixa produtividade. A perda de florestas saudáveis pode degradar serviços importantes
do ecossistema, como o armazenamento do carbono em biomassa e solo, a regulação
do balanço das águas e fluxo dos rios, a variação dos padrões climáticos regionais
e a suavização de doenças infecciosas.”

Desmatamento


Desmatamento Bruto x Líquido. Desmatamento na Amazônia não é só a simples remoção
de árvores. Uma descrição mais completa precisa considerar as diferentes taxas de
desmatamento bruto (remoção da floresta para pastagens ou plantio), o gerenciamento
dos regimes de plantio e pastoreio, o abandono dos campos levando ao rebrotamento
das florestas secundárias e os resultados líquidos das mudanças na área florestal
(remoção bruta menos rebrotamento). Aqui nós adaptamos um modelo de transição de
uso da terra de Markov e desenvolvido por Fearnside (1993) para estimar que cerca
de um terço da terra total desmatada na Amazônia entre 1961 e 1997 está atualmente
rebrotando (veja também Cardille e Foley [2003]). (M = megaton), Imagem e legenda
cortesia de Frontiers in Ecology

Nos anos recentes a Amazônia experimentou altos níveis de desmatamento, incluindo
a maior perda de floresta já registrada — entre 2002 e 2004. O crescente interesse
nos recursos da região e no potencial para a agricultura irão provavelmente continuar
a alimentar a remoção de florestas e degradação. Além disso, estradas e outras obras
de infraestrutura estão abrindo regiões anteriormente inacessíveis ao desenvolvimento,
acelerando a influência humana na região.

Até recentemente a natureza das modificações no uso da terra na Amazônia era pouco
compreendida, mas novos métodos de monitoramento remoto estão fornecendo luz em
como os humanos estão alterando o ecossistema amazônico. Por exemplo, por longo
tempo acreditou-se que a limpeza para agricultura e pastoreio tinham o maior impacto
nas florestas amazônicas, mas estudos atuais indicam que a remoção madeireira é
predominante e generalizada fora das áreas limpas. Pesquisas de Daniel Nepstad e
colegas (1999) e Greg Asner e colegas (2005) descobriram que a área de extração
madeireira era aproximadamente igual à quantidade de área desmatada a cada ano —
uma descoberta crítica já que essas áreas retém baixos níveis de biodiversidade
devido às mudanças na estrutura florestal. Além disso, a pesquisa de Asner iluminou
o vínculo entre desmatamento e extração madeireira na Amazônia:

“Mais inesperada foi a descoberta de somente 16 por cento da área explorada para
extração de madeira tornou-se em área desmatada no ano seguinte, e só 32 por cento
da área explorada foi consumida pelo desmatamento total em 4 anos (Asner et al.
2006),” escrevem os pesquisadores. “Estes resultados mudam completamente nossa visão
da extração madeireira como forma de uso da terra na Amazônia: primeiro, extração
seletiva de madeira frequentemente iguala, e pode eventualmente ultrapassar, o desmatamento
anual; segundo, para a maior parte, extração de madeira não precede imediatamente
o desmatamento — é por si uma forma distinta de perturbação florestal. Para resumir,
as marcas da atividade humana na paisagem amazônica são aproximadamente o dobro das
estimativas de desmatamento sozinhas (Asner et al. 2005).”

Os autores continuam, dizendo que outros estudos indicam que o impacto ecológico
da extração de madeira é altamente variável dependendo de sua intensidade, mas
que pode afetar regimes de incêndio, fazendo florestas mais suscetíveis às queimadas,
especialmente em anos secos.

Impacto nos bens e serviços ecológicos

Os autores dizem que embora discussões sobre o desmatamento frequentemente foquem
nas “conseqüências negativas para a biodiversidade e o funcionamento do ecossistema”,
a conversão da florestas “oferece muitos benefícios” às populações locais incluindo
o fornecimento de “recursos essenciais” e oportunidade de empregos.

“O desmatamento tropical assim representa um dilema inerentemente social (DeFries
et al. 2004),” afirmam. “Em geral, práticas de uso da terra permitem que alguns
bens ecológicos sejam mais prontamente apropriados pelas sociedades humanas, frequentemente
rendendo benefícios chave para a economia e a sociedade, pelo menos a curto prazo.
Entretanto, o uso da terra pode degradar outros serviços do ecossistema — especialmente
aqueles ligados ao funcionamento do ecossistema em longo prazo.”

A mudança de longo prazo é uma particular preocupação dos autores, que analisaram
a literatura científica recente para produzir quatro exemplos de serviços do ecossistema
que foram negativamente afetados pelo desmatamento e degradação: o armazenamento
de Carbono, o fluxo das águas, as influências climáticas regionais e os vetores
de doenças.

Armazenamento de Carbono

Citando números que mostram que a Amazônia contribui para cerca de 10% da biomassa
terrestre mundial, os autores escrevem que “a Amazônia fornece importantes serviços
do ecossistema para o planeta ao acumular Carbono orgânico em biomassa e solo, assim
retirando os gases do efeito estufa (CO2 e CH4) da atmosfera.” Desmatamento, degradação
de florestas e fragmentação liberam uma parte do Carbono armazenado na atmosfera,
contribuindo para o aquecimento global. A taxa na qual o Carbono é liberado depende
de como a floresta é convertida; incêndios liberam Carbono rapidamente; extração
e subsequente uso de produtos de madeira e papel liberam o Carbono por um período
longo de tempo. O desmatamento pode indiretamente afetar o armazenamento de Carbono
nas áreas de floresta vizinhas através da dessecação em regimes de fogo.

Fluxo das Águas

Florestas afetam grandemente o ciclo hidrológico da bacia amazônica. Os autores
produziram estudos que mostram que “as correntezas e o volume das águas geralmente
aumentam com o aumento do desmatamento” mesmo quando os níveis de precipitação permanecem
os mesmos. Um modelo, desenvolvido por Marcos Heil Costa e Jon Foley (1997), mostra
que “a dispersão do desmatamento” na Amazônia poderia incrementar correntezas
e a descarga dos rios por cerca de 20%.

Regulação do clima regional e global

O desmatamento pode reduzir a evapotranspiração de misturas na atmosfera, enfraquecendo
a reciclagem da água e causando ressecamento do clima local.


Desmatamento
na Amazônia Colombiana – foto de Rhett A. Butler.

“Modelos simulando desmatamento em larga escala na bacia amazônia geralmente mostram
uma considerável redução na evapotranspiração na medida em que a vegetação da floresta
tropical é substituída por grama e arbustos,” explicam os autores. “Isso tem o efeito
de aquecer substancialmente a superfície e inibir a convecção, precipitações regionais
e cobertura de nuvens.”

O impacto do desmatamento pode se extender bem além da bacia amazônica. Simulações
de Peter Snyder e colegas sugerem que o desmatamento poderia causar mudanças no
Atlântico Norte e trilhas de tempestade européias, gerando “resfriamento substancial
no sudeste da Europa e aquecimento de partes da Ásia no inverno.” Separadamente,
estudos da NASA indicam que o desmatamento na Amazônia pode influenciar as chuvas
do México ao Texas e no Golfo do México.

Doenças

Florestas tropicais também estão ligadas à saúde humana, especificamente moderando
a propagação de doenças infecciosas ao “regular a população de organismos doentios
(vírus, bactérias e outros parasitas), e seus hospedeiros, ou vetores intermediários
de transmissão (freqüentemente insetos ou roedores).” Os autores citam pesquisa
peruana que descobriu vínculos entre o desmatamento e mosquitos transmissores de
malária. Evidências relatadas em toda a região (Colômbia, Brasil e Venezuela) sugerem
que o vínculo é generalizado.

Conclusões

Os autores dizem que estes são apenas alguns exemplos de serviços do ecossistema
fornecidos à humanidade pela floresta tropical amazônica. em razão destas funções
em maior escala, são às vezes desvalorizadas pelas populações locais e políticos.
Por esta razão, os autores dizem que há uma necessidade urgente de desenvolvimento
de melhores maneiras de atribuir valor monetário à estes serviços. Argumentam, também,
que mais pesquisas científicas inter-disciplinares são cruciais para ajudá-los a
compreender mais profundamente os vínculos entre a saúde florestal e perturbações
causadas pelo homem. Os autores salientam que o Large-Scale Atmosphere Biosphere
Experiment LBA)
(experimento em larga escala para a atmosfera e biosfera)
liderado pelo Brasil, uma iniciativa para auxiliar o estudo da Amazônia como uma
entidade integrada, como uma instituição que tem sido particularmente produtiva
para esta finalidade.

“Penso que cientistas, políticos, médicos e cidadões comuns devem discutir sobre
o valor do ecossistema — em termos de suas commodities (como madeira e produtos
agrícola), mas também em termos de seus serviços do ecossistema (como polinização,
controle de enchentes, armazenamento de Carbono e controle de doenças),” John Foley,
autor e professor do Centro para Sustentabilidade e Ambiente Globais (SAGE) na Universidade
de Wisconsin, disse ao mongabay.com. “Quando nós finalmente reconhecermos
a importância destes serviços desvalorizados — seja em termos econômicos, sanitários
ou culturais — seremos capazes de tomar decisões melhores em sobre como as pessoas
devem viver na terra, e poderemos continuar a fazê-lo no futuro.”

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