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Como está a crise de extinção da biodiversidade?

Como está a crise de extinção da biodiversidade?

Como está a crise de extinção da biodiversidade?
Um debate emerge nos salões da ciência de conservação
Rhett A. Butler, mongabay.com
15/1/2008

Em anos recentes, cientistas têm advertido sobre a crise de extinção da biodiversidade
pairando sobre nós, uma crise que irá rivalizar ou exceder as cinco extinções em
massa históricas ocorridas milhões de anos atrás. Diferentemente destas extinções
do passado, que foram por diversas formas o resultado de alterações climáticas catastróficas,
envenenamento atmosférico e hiperatividade vulcânica, o evento de extinção atual
é um de nossa própria autoria, alimentado principalmente pela destruição do habitat
e, em uma menor extensão, super-exploração de certas espécies. Enquanto poucos cientistas
duvidem que a extinção das espécies esteja ocorrendo, o grau em que ela irá ocorrer
no futuro tem sido assunto de debates na literatura conservacionista. Olhando somente
as espécies perdidas como resultado do desmatamento nos trópicos, alguns pesquisadores
predizem altas taxas de extinção (75 por cento).

Agora um novo artigo, publicado em Biotropica, argumenta que a mais terrível
destas projeções pode estar superestimada. Usando modelos que mostram taxas baixas
de perda florestal baseadas na diminuição do crescimento populacional e outros fatores,
Joseph Wright do Smithsonian Tropical Research Institute (Instituto Smithsonian
para Pesquisas Tropicais) no Panamá e Helene Muller-Landau da Universidade de Minnesota
dizem que a perda de espécies pode ser mais moderada que os cenários comumente citados.
Enquanto alguns cientistas criticam seu trabalho como “excessivamente otimista”
biólogos proeminentes dizem que sua pesquisa iniciou uma discussão importante e
que dispara questões fundamentais sobre as prioridades e esforços de pesquisa futuros.
Dizem que isso, em última análise, poderia resultar em estratégias mais efetivas
para a conservação da diversidade biológica.



Sapo Mono (Nota do tradutor: Phyllomedusa bicolor, Monkey Frog no original)
no Peru (foto de Rhett A. Butler). Cientistas estão particularmente preocupados
com o declínio global de anfíbios nos últimos 20 anos. Pesquisas recentes sugerem
que a crise dos anfíbios está relacionada ao aquecimento global.

“[Ainda que] eu acredite [que o estudo de Wright e Muller-Landau] seriamente superestima
a crise da biodiversidade tropical,” afirma Willian F. Laurence, outro ecologista
do Smithsonian Tropical Research Institute, seu trabalho “provê um princípio claro
para projetar futuras perdas de espécies e salienta a necessidade de prioridades
de pesquisa” e “tem precipitado um vigoroso debate científico.” Laurence resumiu
e respondeu a Wright e Muller-Landau em um artigo publicado em TRENDS in Ecology
and Evolution
(Tendências em Ecologia e Evolução).

Resumo das Conclusões de Wright/Muller-Landau:
o declínio do crescimento populacional irá desacelerar o desmatamento
e diminuir o número de espécies projetadas para extinção em 2030

Em seu artigo inicial, entitulado “The future of tropical forest species” (O futuro
das espécies da floresta tropical) e publicado em 2006 em Biotropica, Wright
e Muller-Landau demonstraram uma relação entre a densidade populacional humana (especialmente
em áreas rurais) e a cobertura florestal, sugerindo que a maior parte dos desmatamentos
é resultado das queimadas para agricultura de subsistência. Tendo estabelecido esta
relação, os autores voltaram-se para a diminuição do crescimento populacional rural
na maior parte do mundo, resultado de baixas taxas de natalidade e da urbanização,
especialmente na Ásia e na América Latina.

Baseados nestas taxas reduzidas de crescimento rural, Wright e Muller-Landau argumentam
que as taxas de desmatamento irão diminuir. De forma geral, seu modelo projeta que
a cobertura florestal não irá mudar muito entre hoje e 2030, ainda que florestas
primárias sejam substituídas por florestas secundárias. Usando a curva espécie-área,
na qual se observa que existe uma forte correlação entre a área do habitat
e o número de espécies, os autores prevêm de 21 a 24 por cento de extinção na África,
16 a 35 por cento na África, e índices mais moderados de extinção na América Latina,
apesar de não oferecerem uma estimativa. Eles argumentam que muitas espécies atualmente
em risco pela perda do habitat, não serão extintas e, ao invés disso, serão
beneficiadas pelo abandono projetado para as áreas de agricultura e subseqüente
rebrotamento da floresta secundária na ausência de fazendeiros limpando a área para
o plantio.

O autores reconhecem que a floresta secundária não possui tanta biodiversidade como
a floresta nativa ou primária. No contexto histórico, florestas tropicais já foram
limitadas à pequenas áreas, durante as eras glaciais sob a Teoria dos Refúgios (refugia
hypothesis)
. Além disso, dizem, espécies das florestas de hoje têm sobrevivido
à caça intensiva e a pressão do desmatamento contínuo por grandes populações indígenas
na Amazônia, Congo e Nova Guiné.

Apesar de sua simplicidade, este argumento é extremamente controverso no universo
da biologia conservacionsta. Wright e Muller-Landau apresentaram seus achados com
várias advertências que ajudaram a disparar um debate científico tradicional, no
qual pesquisadores reagiram deliberadamente, às vezes de forma aquecida, um ao outro
através dos jornais científicos.

Wright/Muller-Landau: a Floresta de 2030

Como outros pesquisadores, os dois autores esperam a destruição das florestas primárias
para uso da agricultura e extração de recursos, principalmente madeira. Eles, de
fato, prevêm que “no futuro, a maior parte das florestas tropicais serão florestas
secundárias regeneradas após remoção” e que “florestas nativas ou primárias relativamente
imperturbadas irão tornar-se cada vez mais raras.” Eles dizem que no futuro, muito
mais que hoje, a maior parte das florestas primárias estará restrita às áreas protegidas
e “áreas com baixa densidade populacional humana e sem valor para agricultura ou
outro tipo de desenvolvimento e às áreas efetivamente protegidas”, principalmente
a bacia Amazônica, o escudo da Guiana (Guiana, Guiana Francesa e Suriname), Papua
Nova Guiné e Gabão.

Sobretudo, Wright e Muller-Landau prevêm pouca alteração na cobertura florestal
entre hoje e 2030.

Os autores ressaltam que esta tendência, onde a perda florestal desacerela e eventualmente
é revertida, foi observado no mundo desenvolvido, especialmente na Europa e nos
Estados Unidos, e está começando a ocorrer em algums países em desenvolvimento mais
ricos, incluindo a Costa Rica, a República Dominicana e Porto Rico.

As previsões dos autores são baseadas largamente em uma relação logarítmo-linear
entre a densidade populacional humana e o percentual de cobertura florestal original
restante. “Isso significa que um aumento geométrico ou multiplicativo na densidade
populacional é associado com um declínio aritmético na cobertura florestal,” explicou
Write ao mongabay.com por e-mail. “As inclinações deste relacionamento logarítmo-linear
são bastante acentuadas. Meu exemplo favorito é a República Democrática do Congo.
A ONU projeta um crescimento de 300 por cento na população humana em 2050. Entretanto,
a relação logarítmo-linear entre a cobertura florestal e a densidade populacional
humana sugere que isto pode estar associado a um declínio bem mais modesto da cobertura
florestal: dos cerca de 60 por cento hoje para algo em torno de 35 por cento em
2050. A chave para nossas projeções é a forma logarítmo-linear desta relação.”


Taxas futuras de desmatamento (painéis superiores) e áreas de floresta (painéis
inferiores), projeções de crescimento populacional total (símbolos abertos, linhas
tracejadas) e rural (símbolos preenchidos, linhas sólidas). As linhas tracejadas
horizontais representam desmatamento zero nos painéis superiores. Taxas líquidas
negativas de desmatamento representam crescimento líquido na área florestal. As
previsões incorporam relações nacionais específicas de cada continente entre a área
de floresta e a densidade populacional em 2000 e o crecimento populacional antecipado
pela ONU (Divisão Populacional). Todos os números são para os 45 países de clima
tropical-úmido que contemplam 89,6 por cento de toda a extensão de floresta tropical.
Texto de Wright e Muller-Landau (2006)

Desmatamento total, como este visto em Madagascar, é particularmente uma
preocupação, desde que há pouca chance de recuperação da floresta secundária em
solos fortemente degradados. Madagascar é considerado uma das mais altas prioridades
mundiais de conservação pelo seu grande número de espécies endêmicas e perdas florestais
generalizadas.

Alguns pesquisadores desaprovam este vínculo entre a densidade populacional humana
e o desmatamento, e ainda que Wright e Muller-Landau ofereçam argumentos para suas
previsões, notavelmente a relação entre desmatamento e a densidade populacional
poderia mudar. Citam o exemplo de como a proporção entre a densidade populacional
rural e o desmatamento poderia ir na direção oposta. Eles relatam que em partes
do estado de Rondônia (Brasil), a transição para grandes fazendas mecanizadas produziu
um declínio na densidade populacional, mas não reduziu o desmatamento. Observando
o quadro como um todo, dizem os críticos, o relacionamento analisado é totalmente
imprevisível em escala global.

Um artigo de Barry W. Brook e colegas (Universidade Charles Darwin – Austrália)
em Biotropica, diz que Wright e Muller-Landau podem ter simplificado em excesso
a relação entre o desmatamento e o crescimento da população rural, salientando que
“mesmo aquelas pessoas não residentes nas áreas rurais (e desta forma não impactando
as florestas diretamente) de qualquer forma irão gerar uma demanda crescente de
necessidades básicas (comida, madeira para moradia e combustível) e os materiais
crus para o desenvolvimento econômico.”

Laurence concorda com Brook e seus colegas. “Wright e Muller-Landau também assumem
que a densidade populacional e cobertura florestal irão permanecer fortemente relacionadas,
mas este relacionamento está mudando com a industrialização e o consumo per capita
crescendo rapidamente em nações em desenvolvimento,” escreve ele. “Condutores industriais
do desmatamento tropical, como fazendas pecuárias de larga escala, fazendas de soja,
plantações de palmeiras-de-óleo, extração de madeira, desenvolvimento de óleo e
gás e projetos maiores de infraestrutura e rodovias têm crescido acentuadamente
durante as duas últimas décadas. Esta tendência irá certamente continuar, com a
atividade global da indústria expandindo-se de 3 a 6 vezes em 2050, e com potencialmente
dramáticas demandas de terra para produção de biocombustíveis. Desta forma, em muitas
regiões tropicais, pressões futuras sobre as florestas serão determinadas mais fortemente
pela indústria, pela globalização e pelas forças macroeconômicas do que pela densidade
populacional local.”

Em resposta, Wright argumenta que alguns críticos aparentam enfatizar demasiadamente
nas projeções sobre a população rural e não o suficiente no relacionamento entre
a cobertura florestal e o crescimento total da população.

“Não estou certo de por que nossos leitores saem acreditando que nossas projeções
baseiam-se somente na população rural,” declarou Wright ao mongabay.com.
“Estamos surpresos com a força dos relacionamentos entre a cobertura florestal e
densidade populacional rural, mas os relacionamentos com a densidade populacional
total são também fortes. (…) Efetuamos nossas projeções baseadas unicamente na
população rural e também no total da população – incluindo as populações urbana
e rural – ao longo do artigo original. Devido à forma logarítmo-linear desta relação
(…) nossas projeções são na verdade robustas o suficiente para a inclusão ou exclusão
da população urbana.”

Apesar disso, Wright e Muller-Landau concordam que uma economia global crescente
poderia causar mudanças na cobertura florestal desvinculadas da tendência populacional,
reagindo assim aos mercados globais. Eles escrevem:

Questões sobre a qualidade dos dados

Além da controvérsia sobre o relacionamento entre densidade populacional rural e
a área de floresta, os próprios dados sobre a população e a floresta são questionáveis
e influem no que foi levantado por Wright e Muller-Landau, que afirmam que suas
projeções são baseadas nos melhores números disponíveis. Ao estimar que de 35 a
50 por cento da cobertura tropical mundial se perdeu, também apontam que os dados
individuais por país são pobres e foi necessário confiar em números um tanto ou
quanto incertos fornecidos pela ONU (Food and Agriculture Organization – FAO).

Além das estatísticas de cobertura florestal e desmatamento, alguns especialistas
duvidam que os dados populacionais existentes sejam confiáveis o bastante para o
estabelecimento de previsões de tendências a longo prazo.

“As projeções populacionais da ONU como as utilizadas por Wright e Muller-Landau
também contém grandes incertezas,” escreve Laurence em seu artigo no TRENDS in Ecology
and Evolution
(Tendências em Ecologia e Evolução). “Tais projeções são sensíveis
a uma gama de presunções sobre o comportamento do ser humano no futuro, algumas
das quais são mera especulação. (…) Há também muita incerteza nas tendências da
população rural e urbana de países em desenvolvimento, especialmente quando analisado
ao nível sub-nacional. Nas palavras de um conceituado pesquisador populacional,
‘nenhum demógrafo profissional leva as médias projetadas pela ONU tão seriamente
como não-demógrafos como Wright estão fazendo.’ (R. Engelman, pers. commun.)”

Previsão de extinção da biodiversidade baseada em projeções de desmatamento…

O debate fica especialmente controverso quando parte para as implicações sobre a
biodiversidade. O que significam as previsões de Wright/Muller-Landau, caso venham
a realizar-se, para a biodiversidade global? Bem, ninguém na verdade sabe – há uma
escassez de dados. Esta falta de dados confiáveis só alimenta o calor do debate.

Primeiro, vejamos suas projeções.

Projeções de Wright e Muller-Landau
África

Cobertura florestal na África (2000): 31-35%

Cobertura projetada na África (2030): 18-28%

Extinção projetada na África (2030): 16-35%

Indo-Malásia

Cobertura florestal na Indo-Malásia (2000): 39%

Cobertura projetada na Indo-Malásia (2030): 33-39%

Extinção projetada na Indo-Malásia (2030): 21-24%

Os dois autores utilizam um curva espécies x área padrão para projetar a
extinção futura das espécies. Esta curva é uma função exponencial utilizada para
calcular o número de espécies em uma determinada área e que pode ser aplicada para
estimar quantas espécies serão extintas quando o habitat é perdido. Desde
que este relacionamento é logarítmico, uma redução de 10 por cento no habitat
não resulta em 10 por cento de espécies extintas. Dependendo dos tipos de organismos
envolvidos, o modelo prevê – a grosso modo – de 10 a 20 por cento de espécies extintas
para uma redução de 50 por cento no habitat, enquanto que uma redução de
90 por cento no habitat produz uma taxa de 50 por cento de extinção. Os autores
apontam que a perda atual de florestas tropicais aproxima-se do limiar de 20 por
cento.

Baseando-se nesta função e sua projeção de perda florestal em 2030, Wright e Muller-Landau
prevêm uma perda na biodiversidade de 21 a 24 por cento nos trópicos asiáticos e
de 16 a 35 por cento para espécies na África tropical. Eles não arriscam uma estimativa
para espécies neo-tropicais devido aos diferentes tratamentos destinados ao habitat
de savana no Brasil. Apesar disso, eles são consideravelmente mais otimistas sobre
a biodiversidade nos trópicos americanos.

“Em uma escala regional, a situação é mais favorável na América Latina,” escrevem.
“Aqui, o percentual de florestas remanescentes é relativamente alto (…) Baixo
crescimento populacional e intensa urbanização que um incremento substancial na
área de florestas pode ocorrer antes de 2030, e espera-se que a população cresça
apenas 10 por cento entre 2030 e seu nível máximo em 2065.”

Na Ásia, observam, a floresta remanescente já é bastante baixa, e enquanto espera-se
que o crescimeto populacional seja apenas de 13 por cento em 2030, muito da biodiversidade
da Ásia será dependente da Indonésia, onde as expectativas apontam que a degradação
florestal continue a ser severa devido a remoção [de florestas] para colheita de
biocombustível, exploração madeireira e incêndios florestais. O panorama da África
é particularmente desolador, dizem os autores, com altos níveis de desmatamento
esperados até 2030 e expansão contínua da população humanda – 65 por cento – entre
2030 e seu pico em 2100. “É provável que a crise de conservação que ameaça os trópicos
asiáticos hoje afete a África tropical em um futuro próximo,” advertem.

“As projeções de extinção vêm de um simples cálculo de espécies x área. Todos
usamos o mesmo método,” declarou Wright ao mongabay.com. “A diferença está
nos dados. A literatura conservacionista rotineiramente alega que um percentual
mais alto de floresta tropical será perdido.”

… com algumas advertências

Wright e Muller-Landau previnem que suas estimativas de extinção são incertas por
diversas razões. Suas estimativas de perdas futuras podem estar erradas. A curva
espécies x área pode não funcionar em pequena e larga escala; especificamente,
desmatamento em hotspots de biodiversidade – ricos em espécies endêmicas
– poderia confundir os cálculos de espécies x área, ou a curva espécies x
área
poderia não ser aplicável em escala global. Finalmente, e particularmente
controvertido, os cálculos não consideram as diferenças de riqueza biológica entre
florestas primárias e secundárias.





Hotspots de Biodiversidade — Agora existem 34. Cortesia do Conservation International
Controvérsia sobre a extinção não é nova

O debate sobre a conservação não é novo nos círculos acadêmicos. Toby Gardner indica
o Requiem for Nature (Réquiem pela Natureza) de John Terborgh (1999) que
argumentou que algumas “áreas do mundo podem tudo, menos serem abandonadas sem a
conservação e os cuidados que deveriam estar dedicados às áreas onde existirem maiores
esperanças de conservação.” Gardner comenta que aquele livro era “extremamente controverso
na comunidade conservacionista.”

Há também discussões saudáveis sobre o formato e tamanho das reservas (o debate SLOSS
— do inglês “single large or several small” — uma grande ou várias pequenas, NT)
,
sobre a utilidade de hotspots de biodiversidade em conservação e sobre a
efetividade de iniciativas comunitárias de conservação. A boa ciência é guiada por
discussões e debates.

Em seus artigos, Wright e Muller-Landau reconhecem que a extinção deverá ser mais
alta nos chamados hotspots de biodiversidade, áreas com alto número de espécies
endêmicas que já sofreram perdas de habitat em larga escala e estão ameaçadas
pela explosão no crescimento populacional. Norman Myers, biólogo da Universidade
de Oxford que tem se destacado na literatura conservacionista nos últimos 20 anos,
foi pioneiro no conceito de hotspots de biodiversidade quando identificou
25 destes pontos cobrindo 12 por cento da superfície da Terra. Ele descobriu que
estes eram lar de 44 por cento das plantas vasculares e de 35 por cento dos vertebrados
terrestres — uma descoberta que alavancou as iniciativas conservacionistas. 16
destes hotspots, caracterizados por floresta tropical, já perderam 90 por
cento de sua cobertura florestal, de acordo com um artigo de Thomas Brooks e colegas
(Conservation Biology, 2002). A matemática do espécies x área prediz que
este esgotamento, sozinho, iria resultar na extinção eventual de 50 por cento das
espécies endêmicas naqueles locais.

Wright e Muller-Landau argumentam que, conquanto não exista risco particular às
espécies endêmicas nos hotspots, “a maior parte das espécies tropicais encontra-se
fora destes hotspots (…) e habita um dos quatro grandes blocos de floresta
tropical que uma vez cobriram a Indo-Malásia, a Bacia Amazônica, o escudo da Guiana,
a Bacia do Congo e o Oeste úmido da África. Aqui, para os grupos que foram estudados
(sobretudo plantas, pássaros e grandes mamíferos), a maior parte das espécies tem
larga distribuição geográfica, o que deve defendê-las da extinção.”

Laurence opõe-se a esta declaração, afirmando que “estas áreas também mantém uma
quantidade numerosa de [espécies] endêmicas. (…) Mesmo dentro de extensões aparentemente
monótonas de floresta, barreiras atuais e históricas, como rios, montanhas e refúgios
florestais antigos, criaram padrões complexos de endemismo de espécies. Desta forma,
mesmo a maior floresta tropical existente contém endêmicos restritos que são inerentemente
vulneráveis à ruptura do habitat.”

Wright e Muller-Landau também advertem que “simples considerações sobre a área das
espécies não podem predizer extinções acuradamente nesta escala” e que “a curva
espécies x área é uma ferramenta rudimentar,” apesar de que até hoje estudos
apontem que a curva espécies x área tenha previsto a extinção de forma precisa.
Entretanto Laurence argumenta que o tratamento que Wright e Muller-Landau dão à
floresta remanescente pode bem subestimar a extinção porque “eles assumem que as
florestas sobreviventes estão meramente diminuindo de área, quando de fato estão
também sendo extensivamente fragmentadas.” Laurence, que gastou mais de 20 anos
estudando os efeitos da fragmentação na Amazônia, sabe que uma floresta fragmentada
é uma floresta com menos diversidade, desde que as condições da floresta primária
podem estar tão perturbadas que leva ao eventual desaparecimento dos especialistas
da floresta. Além disso, Brook e seus colegas apontam para o débito da extinção
— a idéia de que a extinção das espécies, como o aquecimento global, é precedida
por uma pausa após a remoção das florestas — como uma área em particular onde Wright
e Muller-Landau podem estar abrandando os riscos de extinção.

“O intervalo observado entre a perda do habitat e a extinção das espécies
(Brooks et al. 1999) não implica que uma janela de oportunidade se abra para a recuperação
das espécies — isso requer intervenções caras, logisticamente desafiadoras e inatingíveis
para conservação da maior parte de espécies em risco,” escrevem Brooks e seus colegas.
“O momentum da extinção implicado pela relação espécies x area, designado
‘débito de extinção’ da perda anterior de habitat (Tilman et al. 1994), é
outro risco crítico e inexorável ameaça que irá conduzir futuras extinções — mesmo
em um mundo sem perdas líquidas de floresta.”

Florestas nativas versus secundárias

Embora estas — e aquelas que são conhecidas por Wright e Muller-Landau — sejam
preocupações válidas, as questões maiores emergem das implicações à biodiversidade
no tratamento dado pelos autores à floresta secundária versus a floresta primária.

Desmatamento na Colômbia. Esta forma de desmatamento em pequena escala com florestas
primárias adjacentes irá permitir rápida recuperação após o abandono da terra.

Lições das florestas pré-históricas?

Um dos argumentos de Wright e Muller-Landau para dar suporte a suas alegações de
que as taxas futuras de extinção podem estar superestimadas são as mudanças pré-históricas
nas áreas florestais. Eles apontam que, no passado, houveram períodos caracterizados
por menor cobertura florestal do que a existente hoje. Eles citam a Teoria dos Refúgios
que acredita que as florestas tropicais recuaram para pequenas áreas durante a era
do gelo no Pleistoceno para expandir-se em áreas maiores à medida que o clima aqueceu.
A extensão destas contrações da era do gelo nas Américas é ardentemente debatida
e poderiam ter sido compensadas por níveis mais baixos do mar e exposto a plataforma
continental no Sudeste da Ásia. É consenso, entretanto, que as contrações foram
extremas nos trópicos africanos, onde a cobertura florestal durante a última era
glacial foi uma pequena fração da existente hoje. Mais recentemente, o WML diz que
a pressão humana das populações indígenas poderia já ter condenado muitas espécies
suscetíveis de extinção. Isso é particularmente verdade para os trópicos da Mesoamérica
onde os Maias e outros substituiram a floresta pela agricultura do milho (Gomez-Pompa
and Kaus 1999).

“A percepção adquirida das mudanças históricas na área de florestas precisa ser
ressalvada, já que as condições modernas e pré-históricas são diferentes. Caçadores
modernos utilizam armas de fogo, veículos motorizados e lanternas à bateria que
os caçadores pré-históricos não possuíam; o jogo das espécies enfrenta hoje ameças
únicas (Wright 2003).”

Os argumentos de Wright/Muller-Landau são contestados por Brook e seus colegas:

“Wright e Muller-Landau também argumentam que em razão do habitat da floresta
tropical parecer ter se retraído para pequenas áreas durante os eventos glaciais
do Pleistoceno, é provavel que espécies da floresta tropical sejam naturalmente
flexíveis ao desmatamento em larga escala,” escrevem. “A falha neste raciocínio
é que os pulsos de contração e expansão da era do gelo desenrolaram-se por muitos
milênios (Morley 2000), enquanto que o redimensionamento atual do habitat
está ocorrendo uma ou duas ordens de magnitude mais rápido. Além disso, o grau de
fragmentação do habitat, a inóspita matriz agrícola ao redor dos remanescentes
de floresta e o volume de caça são todos provavelmente mais severos na situação
contemporânea que no passado.”

Wright responde: “Falho ao tentar compreender este argumento. Modificações no uso
da terra não requerem que as espécies mudem para um novo habitat. Mais exatamente,
as espécies já estão presentes nos fragmentos do habitat original que restou.
Nenhuma espécie tem que mudar através de uma matriz inóspita.”

GOMEZ-POMPA, A., AND A. KAUS. 1999. From pre-Hispanic to future conservation alternatives:
Lessons from Mexico. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 96: 5982-5986.

Eles apontam que seu modelo trata toda a cobertura florestal, seja ela de florestas
tropicais centenárias, ou florestas secundárias de dois anos em recuperação após
extração intensiva de madeira e queimadas, como iguais sob o ponto de vista da biodiversidade.
O problema, como qualquer ecologista florestal sabe, é que florestas secundárias
têm menos biodiversidade que florestas antigas. Quanto menos? Esta é a grande questão.
Ninguém sabe. Há uma carência nos dados que poderiam iluminar definitivamente esta
questão. Isso é conhecido como vácuo dos dados e é também um pára-raios para
as críticas de Wright e Muller-Landau.

Os dois autores dizem que a transição da floresta primária para a floresta secundária
terá impacto de mínimo à moderado na biodiversidade. Seu argumento é baseado na
premissa de que a maior parte das florestas secundárias terá tempo suficiente (geralmente
de 20 a 40 anos) para desenvolver-se em uma floresta que estruturalmente seja semelhante
a floresta primária e possa suportar espécies que requeiram aquele tipo de florestas
para sobrevivência. Seu raciocínio também assume que áreas suficientes de florestas
primárias irão persistir para servir de refúgio para que aquelas [espécies] especialistas
possam migrar para permitir a recuperação e expansão das florestas secundárias.
Wright e Muller-Landau dizem que “florestas tropicais secundárias e degradadas são
crucialmente importantes para a conservação em razão das vastas áreas de terra envolvidas,”
apontando que “há aproximadamente 11.000.000 km2 de floresta tropical
hoje, dos quais 5.000.000 km2 são degradadas ou florestas secundárias.”

Embora Toby Gardner, cientista da Universidade do East Anglia que liderou a autoria
de um recente artigo em Biotropica, concorde que florestas secundárias têm
valor para a conservação, ele argumenta que existe um tal grau de variação na degradação
que não se pode presumir que elas irão preservar a maioria, ou mesmo alguma, biodiversidade.

“Nós contestamos a validade deste pressuposto, já que florestas secundárias são
altamente heterogêneas, e sua biodiversidade potencial pode ser dramaticamente reduzida,”
diz, devido a fatores incluindo florestas pesadamente degradadas pelo fogo, espécies
estrangeiras, erosão do solo e rompimento dos mecanismos de dispersão das sementes.

Brook e seus colegas acrescentam que embora “florestas recuperadas são consideravelmente
melhores para a biodiversidade que paisagens agrícolas ou urbanas (Sodhi et al.
2004) e que locais restaurados possam ter substancial recuperação de espécies após
algumas décadas (Grau et al. 2003, Dunn 2004), permanece indiscutível que florestas
tropicais secundárias representam uma comunidade emprobrecida (atrofiada) com a
redução ou perda dos serviços do ecossistema.” Eles citam Cingapura como exemplo:

Wright e Muller-Landau opõe que “só recentemente conservacionistas começaram a avaliar
estas florestas (Cannon et al. 1998, Lawton et al. 1998). Florestas exploradas e
inexploradas pela extração de madeira suportam diversidade de espécies similares,
e mesmo espécies de árvores que têm sido alvo de décadas de exploração seletiva
mantém grandes populações, ainda que não de indivíduos com qualidade para extração
de madeira.” Eles sugerem que florestas secundárias, especialmente aquelas com tempo
adequado para recuperar-se, podem bem preservar mais biodiversidade que o esperado,
apesar de que mais estudos são necessários para examinar mais a fundo a questão.

Um debate sobre o “vácuo dos dados”

O ponto de vista de Wright e Muller-Landau, dada a incerteza da pesquisa, é de grande
preocupação para outros cientistas, que tomam uma atitude filosófica fundamentalmente
diferente em como proceder no “vácuo dos dados”.

“O estudo de Wright e Muller-Landau parece violar o princípio da precaução, que
sustenta que devemos errar ao lado da cautela em questões de conservação,” escreve
Laurence. “Preocupações sobre perdas potencialmente massivas de espécies forneceram
o ímpeto político para expansões substanciais de áreas protegidas e programas de
conservação nos trópicos. Mesmo que a futura extinção deva ser menor do que muitos
antecipam (parcialmente em razão destas novas iniciativas de conservação), o tamanho
das populações, abrangência geográfica e variações genéticas de inumeráveis espécies
está desmoronando sob o peso de explosivas ameaças antropogênicas.”

“Portanto, parece cedo demais para dar um ponto de vista otimista na iminente perda
de biodiversidade tropical; de longe melhor que nossos tataranetos façam tal descoberta,
que celebrarmos agora e potencialmente deixemos nossos descendentes para descobrir
precisamente o oposto.”










A maior parte da extinção terá lugar entre criaturas que nós mal conhecemos, como
besouros, borboletas e insetos. Fotos (alto): Rhett A. Butler, (baixo): Brodie Ferguson.

Toby Gardner, que — juntamente com seus colegas da Universidade de East Anglia
Jos Barlow, Luke Parry, and Carlos A. Peres — analisou 37 artigos científicos relatando
os níveis de biodiversidade de vertebrados (primatas, anfíbios e pássaros) de florestas
em recuperação, tem críticas um tanto mais fortes ao trabalho de Wright e Muller-Landau.

“No contexto da imagem otimista pintada por [Wright e Muller-Landau], argumentamos
que o nível de compreensão atual é fraco para invalidar qualquer confiança sobre
o valor das florestas secundárias para conservação futura da biodiversidade da floresta
tropical. Apesar das previsões do modelo dos autores dizerem alguma coisa sobre
o futuro da cobertura florestal tropical, dizem muito pouco sobre o futuro das espécies
daquelas florestas,” escreveu Gardner e colegas. “Enquanto que estes estudos são
importantes em revelar potenciais mudanças em larga escala na estrutura e composição
da paisagem tropical, nossa análise mostra que muito poucos dados de campo confiáveis
estão disponíveis para traduzir as conseqüências de tais mudanças (atuais ou futuras)
para a biodiversidade.”

“Na ausência de uma forte fundação empírica corremos o risco de fazer previsões
falhas e potencialmente enganosas, levando a recomendações políticas perigosamente
inadequadas ou complacentes.”

Além disso Gardner diz que “estas são as taxas que entendemos melhor — assim se o
nosso entendimento delas é pobre, só Deus sabe o pouco que sabemos sobre grupos de espécies
como insetos e outros artrópodes.”

Em resposta, Wright disse ao mongabay.com que Gardner e seus colegas os “condenam
por otimismo apresentado com um vácuo de dados, mas os 37 artigos que eles
analisaram tratam de florestas secundárias uniformemente jovens, na maioria com
menos de 8 anos em estudos sobre pássaros, por exemplo. A questão não é sobre se
espécies da florestas irão colonizar antigos campos. A questão é quando, durante
a sucessão da floresta secundária, eles serão capazes de colonizar a floresta. Eu
acredito que a maior parte das espécies do Panamá pode ficar bem em florestas de
talvez 20 anos e de 15 a 20 metros de altura. (…) Especialistas da floresta podem
estar condenados à extinção [mas] isso irá depender se irão tolerar as florestas
secundárias. Muito poucos especialistas das florestas foram extintos em latitudes
temperadas. Mas os trópicos podem ser diferentes. Assim, isso é uma incógnita.”

Por seu lado, Toby Gardner falou ao mongabay.com que ele não concorda com
os comentários de Wright.

“O problema principal é que em muitas áreas do mundo há lamentavelmente poucas florestas
primárias sobrando para as espécies colonizarem durante a sucessão da floresta secundária,”
disse Gardner por e-mail. “É nossa crença de que é improvável que a restauração da
floresta secundária forneça habitat adequado para muitos especialistas de
florestas antigas por décadas, se não séculos, levantando dúvidas em sua habilidade
de prover uma solução efetiva para a crise que muitas espécies estão enfrentando.
Até que tenhamos fortes evidências que suportem a recuperação de especialistas em
florestas antigas em florestas restauradas, nós acreditamos que previsões otimistas
como aquelas de Wright e Muller-Landau podem deixar uma mensagem enganosa sobre
o destino das espécies da floresta tropical — e o mais preocupante — poderia (inadvertidamente)
encorajar a complacência em face da adversidade.”

Os mesmos sentimentos são ecoados pelo artigo de Gardner e seus colegas em Biotropica:

Causas comuns

Palavras ásperas à parte, há diversos pontos de concordância importantes entre os
cientistas contestantes. Brook, Laurance e Gardner parecem concordar que a conclusão
de Wright e Muller-Landau de que a floresta primária irá continuar a ser depredada
e será convertida em floresta secundária à passo rápido nos próximos 25 anos, e
que a extinção das espécies nos trópicos será significativa — no mínimo 10 por
cento em valores atuais. O principal ponto de contestação sobre a extinção não é
‘se’ mas em que grau de magnitude irá ocorrer — algumas projeções são tão altas
como 75 por cento baseadas em uma perda de floresta tropical de 90 por cento, embora
as estimativas de Wright e Muller-Landau sejam consideravelmente mais baxas baseadas
em perdas menores de floresta. Todas as partes compartilham a necessidade urgente
de análise do “grau que habitats em restauração e degradados (…) podem
manter a biodiversidade tropical” e, mais importante ainda, conservar florestas
antigas para a preservação da biodiversidade.

Laurence salienta alguns destes pontos em seu artigo TRENDS in Ecology and Evolution
(Tendências em Ecologia e Evolução).

“O estudo de Wright e Muller-Landau fornece um claro argumento para projetar perdas
futuras de espécies e destaca prioridades de pesquisa necessárias,” escreve Laurence.
“Entre estas está a necessidade de avaliar criticamente o grau em que habitats
em restauração e degradados, que vêm aumentando dramaticamente à custa de florestas
antigas, pode sustentar a biodiversidade tropical. Outra prioridade é avançar nossa
compreensão dos próximos e mais atuais condutores da perda florestal, especialmente
em escalas regionais e sub-regionais, e como estes condutores mudam de importância
com o passar do tempo. Melhorando as estimativas básicas de cobertura florestal,
perda e restauração para nações tropicais é outro objetivo chave.”

Gardner concorda que mais pesquisa é fundamental. Ele declarou ao mongabay.com:

“Nosso principal argumento é que simplesmente não sabemos o suficiente para falar,
e dando a esta situação difícil uma abordagem cautelosa (focada no que nós sabemos
ser a opção mais efetiva para conservar a biodiversidade, a proteção de florestas
nativas maduras) é o caminho mais sensível à seguir e o menos provável a encorajar
a complacência.” No mais importante, ele concorda com uma das recomendações de Wright
e Muller-Landau, as espécies de florestas antigas “irão necessitar de novas áreas protegidas”
e que é necessário que mais pesquisas sejam conduzidas para estimar o risco de extinção
enfrentado pelas espécies da floresta tropical.



Tarde demais para os sapos? Cada vez mais evidências ligam o desaparecimento global
de anfíbios às mudanças climáticas
Ameaças insuspeitas

Existem dois fatores insuspeitos — mudanças climáticas e a caça — que não foram
considerados nas projeções de Wright e Muller-Landau, e que têm potencial para piorar
significativamente as taxas de extinção, diz Wright.

“Existem hoje três grandes ameaças de extinção nos trópicos,” disse Wright ao mongabay.com.
“A primeira, na literatura conservacional, é a conversão do uso da terra de floresta
para agricultura, extração madeireira, etc. Nosso artigo é limitado unicamente a
esta questão. A segunda ameaça de extinção mira os grandes e carismáticos vertebrados
pela caça, comércio de animais de estimação, etc. Estas ameaças conduzem muitas
espécies à extinção a medida de que os lugares remotos restantes tornarem-se acessíveis
nas próximas décadas. A terceira ameaça de exinção é a mudança climática. Sabemos
muito pouco sobre esta ameaça para os trópicos. Novamente, nosso artigo não considera
‘caçadas’ e mudanças climáticas. Nosso artigo é restrito à considerações sobre o
uso da terra.

Wright e Muller-Landau acrescentam que existem diversas questões-chave que precisam
ser endereçadas para melhorar a efetividade nos esforços de conservação globais.
“Primeiro,” perguntam, “qual a proporção de espécies tropicais é completamente dependente
de florestas antigas primitivas? Segundo,” continuam, “como as mudanças globais
de atmosfera e clima irão afetar florestas antigas e secundárias?” E mais: “Onde
os esforços de conservação atuais serão mais efetivos? Devemos focar nos países
em crise de hoje? [Haiti] (…) Devemos focar em países com prováveis crises no
futuro? [Congo] (…) Ou devemos focar nos países onde há cada vez mais espaço para
respirar? [Guiana].” Eles argumentam que “países com grandes extensões de floresta,
taxas altas de crescimento populacional humano projetado e redes limitadas de áreas
de proteção” deveriam ser prioridade. Especificamente, eles apontam para a nova
democracia do Congo (DRC).

“A República Democrática do Congo é um exemplo excelente,” eles escrevem. “A floresta
ainda cobria 65 por cento de sua distribuição potencial em 2000, a projeção de crescimento
populacional humano é de 312 por cento em 2050 e somente sete das reservas listadas
na IUCN (International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources
– União internacional para conservação da natureza e recursos naturais)

atualmente incluem florestas (outras 15 resevas incluem savanas ou serrado). A
janela de oportunidade para estabelecer áreas de proteção irá fechar-se logo naquela
república e países similares.”

Finalmente, esta é provavelmente a mais importante conclusão do debate em andamento:
que a pesquisa continuada e ações urgentes de conservação são necessárias para prevenir
a extinção das espécies. Wright e Muller-Landau estão enfrentando um grande número
de críticas que dizem que sua alegação de que “a amplamente antecipada extinção
em massa de espécies das florestas tropicais será evitada” foi longe demais. Mas
não há dúvidas de que mesmo seu “panorama rosa” mostra uma taxa de extinção nos
trópicos ultrapassando 10 por cento, e que ele também exclui o impacto potencial
da exploração humana de certas espécies — embora em pequeno número. E há também
o proverbial gorila de 400 quilos no armário, a mudança climática, que alguns temem
que seja responsável por extinções em massa por si só.



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