Notícias ambientais

A crise de extinção da biodiversidade se aproxima, diz o renomado biólogo

Entrevista com o Dr.Peter Raven, diretor do Jardim Botânico do Missouri

Entrevista com o Dr.Peter Raven, diretor do Jardim Botânico do Missouri:
A crise de extinção da biodiversidade se aproxima, diz o renomado biólogo
Rhett A. Butler, mongabay.com
18/1/2008

Ir para a entrevista

O que tigres na Índia, camaleões em Madagascar, sequóias na Califórnia e vermes tubo
vivendo nas correntes hidrotermais do fundo do mar, têm em comum? São todos componentes
da diversidade biológica da Terra, ou “biodiversidade”, para resumir. Biodiversidade
é a soma de todos os organismos vivos do planeta. Ela também faz a vida na Terra
possível para nossa espécie.

A biodiversidade é a base para serviços ecológicos que vão desde a filtragem da
água para produção de alimentos ao ciclo do carbono, e sua importância alcança dezenas
de trilhões de dólares por ano. Entretanto, apesar de sua importância, a biodiversidade
é cada vez mais ameaçada. As atividades estão rapidamente diminuindo as estufas
de riqueza biológica — florestas tropicais, recifes de coral e savanas — e correm
o risco de tornar o mundo um lugar biologicamente empobrecido. As implicações para
a humanidade podem ser bastante sérias. Ecologistas advertem que, ao extingüir a
biodiversidade, colocamos em risco nossa própria qualidade de vida, apostando com
a estabilidade do clima e temperaturas locais e minamos valorosos serviços fornecidos
pela diversidade biológica.

Por esta razão a perda da biodiversidade está no topo das preocupações dos biólogos.
Embora haja um considerável debate sobre em que escala a extinção da biodiversidade
está ocorrendo, há pouca dúvida de que estamos em uma era onde a perda das espécies
é bem acima das normas biológicas estabelecidas. Extinção certamente ocorreu no
passado, e de fato, é o destino de todas as espécies, mas a taxa atual aparenta
ser pelo menos 100 vezes a taxa normal de uma espécie por milhão/ano e pode estar
caminhando em direção à magnitudes milhares de vezes maiores.

Dr. Peter H. Raven no Jardim Botânico do Missouri. Foto de M. Jacob.

Poucas pessoas sabem mais sobre extinção que o Dr. Peter Raven, diretor do Jardim Botânico do Missouri. Ele é autor de
centenas de livros e artigos científicos e possui uma lista enciclopédica de realizações
e louvores de uma vida de pesquisas biológicas. Isso faz dele um dos especialistas
em biodiversidade mais proeminentes do mundo. Ele também está extremamente preocupado
com a crise de biodiversidade atual, crise que tem sido chamada de sexta grande
extinção, seguindo eventos anteriores de causas variando de alterações climáticas,
colisões extra-terrestres, envenenamento atmosférico e hiperatividade vulcânica.
Diferentemente destes episódios antigos, o evento de extinção atual é de nossa própria
autoria, alimentado principalmente pela destruição do habitat e exploração
de certas espécies. Além disso, como Raven aponta, porque o planeta tem mais espécies
agora que em qualquer tempo no passado, uma extinção em massa hoje poderia muito
bem envolver mais espécies que anteriormente.

Raven diz que já vimos taxas excepcionalmente altas de perdas de espécies começando
cerca de 40.000 anos atrás, quando humanos modernos começaram pela primeira vez
a se expandir para partes previamente desabitadas do mundo. Em um artigo
[1]
escrito
em parceria com Rodolfo Dirzo da Universidad Nacional Autónoma de México,
Raven nota que toda a megafauna da Austrália foi extinta rapidamente após a chegada
da humanidade ao continente 40.000 anos atrás, enquanto na América do Norte 71 por
cento do gênero Mammalian foi perdido dentro de 2.000-3.000 anos após o homem
pôr o pé no Mundo Novo. Raven e Dirzo observam que na Austrália e na América do
Norte as espécies que desapareceram tinham anteriormente sobrevivido à episódios
piores de alteração climática e “a perda seletiva de grandes animais, o que é geológica
e evolucionariamente um período muito curto, fortemente sugere a função causal dos
humanos nesta onda de extinções.” Neste e em outros artigos Raven tem apontado para
o desaparecimento de mais de 1000 espécies de pássaros no período de 1.000 anos
seguintes à colonização das ilhas do Pacífico pelo homem. Ele diz que a pesquisa
em andamento, que está identificando outras espécies extintas, está puxando o número
de vítimas ainda mais para cima. Lugares como o Havaí e a Polinésia Francesa dos
dias de hoje perderam mais de 80 por cento de suas espécies endêmicas. Raven acrescenta
que a extinção “de primeiro contato” é um tema mundial comum de lugares desde Madagascar
a Nova Zelândia.

    Países com o maior número de espécies ameaçadas (em cima) e extintas (em baixo)
    de acordo com dados de 2006 da IUCN Red List. O gráfico de “ameaçadas” inclui
    espécies listadas como Critically Endangered (CR – em perigo crítico), Endangered
    (EN – em perigo) ou Vulnerable (VU – vulneráveis)
    pela IUCN, enquanto o
    gráfico de “extintas” inclui espécies classificadas como “Extinct (EX – extintas)
    ou “Extinct in the Wild (EW – extintas no meio selvagem)” na Red List da
    IUCN. Ambos os gráficos incluem em seus totais mamíferos, pássaros, répteis, anfíbios,
    peixes, moluscos, outros invertebrados e plantas.

Em uma escala de tempo mais recente, há inúmeras evidências das taxas aceleradas
de extinção, diz Raven. A análise dos dados da World Conservation Union (IUCN)
[2],
que tem os números mais abrangentes sobre espécies extintas, em perigo e ameaçadas,
mostra que 811 espécies foram extintas nos últimos 500 anos. A maior parte delas
tinha áreas geográficas limitadas, como as espécies encontradas em ilhas. Globalmente,
a IUCN estima que mais de 40 por cento das espécies avaliadas está ameaçada, a maioria
delas nos trópicos, região mais biodiversa da Terra. Encabeçando a lista de espécies
ameaçadas, entre pássaros, peixes e mamíferos está a Indonésia, um país tropical
com muitas ilhas com pequenas populações de espécies endêmicas que tem sofrido destruição
em larga escala no seu habitat.

Dados atuais da IUCN mostram que a perda de habitat é a ameaça principal
para a maioria das espécies em perigo, seguida pela exploração direta (caça e captura),
e depois pela introdução de espécies estrangeiras invasivas. Atualmente, dados da
IUCN não refletem o impacto de alterações climáticas, apesar de que, espera-se que
este fator seja uma fonte crescente de stress biológico para o ecossistema e as
espécies. Raven sugere que as alterações climáticas poderiam “rivalizar ou exceder”
as perdas de habitat em seu impacto na biodiversidade.

Projeção de Futuras Extinções.

Predizer o futuro é difícil, e previsões sobre a perda de espécies são particularmente
controvertidas devido ao grande número de incógnitas. Quanto habitat restará
em 50 anos? Quantos humanos irão habitar a terra neste século e como sua fartura
irá afetar o consumo de resursos per capita? Qual será o impacto das alterações
climáticas? As perguntas continuam ao infinito. Mesmo questões básicas como “Quantas
espécies existem hoje?” permanecem sem resposta.

S=CAz
onde S é o número de espécies na área, e C e Z são constantes que dependem do tipo
de ecossistema e espécies envolvidas.

Cálculo da área das espécies

A curva espécies x área é uma função exponencial utilizada para calcular
o número de espécies em uma determinada área e que pode ser aplicada para estimar
quantas espécies serão extintas quando o habitat é perdido. Desde que este
relacionamento é logarítmico, uma redução de 10 por cento no habitat não
resulta em 10 por cento de espécies extintas. Dependendo dos tipo dos organismos
envolvidos, o modelo prevê – a grosso modo – de 10 a 20 por cento de espécies extintas
para uma redução de 50 por cento no habitat, enquanto que uma redução de
90 por cento no habitat produz uma taxa de 50 por cento de extinção.

Para fazer previsões da perda de biodiversidade futura em face deste vácuo nos dados,
Raven e seus colegas primeiro focaram na perda de habitat já ocorrida. A
ferramenta padrão para efetuar tais previsões é a curva espécies x área,
que determina que existe uma correlação não-linear entre a área e o número de espécies
residentes. A relação tem se mostrado verdadeira não somente para ilhas, para onde
foi originalmente concebida, mas também para cenários maiores. Por exemplo, na América
do Norte, o cálculo de espécies por área projeta que a perda de dois terços da floresta
temperada oriental iria resultar em uma taxa de 4 por cento de extinção. Para os
pássaros, o grupo de animais melhor documentado, a projeção se enquadra no declínio
observado.

Globalmente há cerca de 50 por cento de declínio na cobertura florestal desde sua
máxima extensão recente. Isso sugere uma taxa 18 a 20 por cento de extinção entre
as espécies. Embora nosso conhecimento seja ainda irregular, cientistas não tinham
ainda observado esta perda de espécies. Porque é assim?

Em primeiro lugar, sabemos muito pouco sobre a vasta maioria das espécies da Terra.
Raven diz que temos apenas informações básicas de provavelmente um sexto das espécies
do mundo, desta forma a maioria das espécies que está desaparecendo nunca foram
documentadas. Isso não significa que elas não são importantes.

Em segundo, a extinção das espécies, como as alterações climáticas, têm um intervalo
de tempo. Espécies persistem em fragmentos de floresta, frequentemente por décadas,
mas a perda do habitat selou seu destino. Pequenas populações estão em particular
risco devido à um grande número de fatores incluindo reduzida variabilidade genética
para procriação e vulnerabilidade a eventos catastróficos. Para espécies vivendo
em um único habitat isolado, basta um simples surto de doença, fogo ou um
inverno ruim para varrê-las da face do planeta. Raven aponta que as pesquisas apontam
uma meia-vida média de 50 anos (intervalo: 25-75 anos), significando que fragmentos
de floresta irão perder metade de suas espécies em 50 anos e cerca de três quartos
em um século. Estes “mortos-vivos” podem incluir espécies de vida longa, como algumas
espécies de primatas e árvores, onde a perturbação do habitat pode não ser
evidente por décadas ou centenas de anos. Este fenômeno sugere que a proteção das
florestas restantes em tais áreas podem não ser o suficiente para previnir a extinção
causada por perdas de habitat do passado.

A maior parte das extinções no futuro está prevista para ocorrer nos chamados hotspots
mundiais de biodiversidade, área com alto número de espécies endêmicas que já sofreram
perdas de habitat em larga escala e são ameaçadas pela explosão no crescimento
populacional. Norman Myers, biólogo da Universidade de Oxford que tem se destacado
na literatura conservacionista nos últimos 20 anos, foi pioneiro no conceito de
hotspots de biodiversidade quando identificou 25 destes pontos cobrindo 12
por cento da superfície da Terra. Ele descobriu que estes eram lar de 44 por cento
das plantas vasculares e de 35 por cento dos vertebrados terrestres — uma descoberta
que alavancou as iniciativas conservacionistas. 16 destes hotspots caracterizados
por floresta tropical já perderam 90 por cento de sua cobertura florestal, de acordo
com um artigo de Thomas Brooks e colegas (Conservation Biology, 2002). A matemática
do espécies x área prediz que este esgotamento sozinho iria resultar na extinção
eventual de 50 por cento das espécies endêmicas naqueles locais.

As projeções

Se as taxas atuais de perda florestal continuarem, Raven projeta que as taxas de
extinção causadas pela perda de habitat irão alcançar 1.500 extinções por
milhão de espécies/ano, um aumento significativo sobre a taxa atual que é de cerca
de 150, e dobrando em cerca de 60 vezes a taxa aproximada de 26 entre 1500 e 2000
[4].
Assumindo que existam 10 milhões de espécies no planeta, isso se traduz em uma perda
anual de 15.000 espécies, na maior parte pouco ou pobremente conhecidas. Entre os
organismos mais bem conhecidos, notadamente plantas e mamíferos, Raven prevê um
número de vítimas pesado. Ele estima que 656 espécies de mamíferos e pelo menos
500 espécies de pássaros serão extintas dentro dos próximos 50 anos; ele também
aponta que estes números são conservadores e que populações individuais estão sob
risco cada vez maior.

Não sem esperança

Apesar do panorama desolador, ainda há tempo para salvar a biodiversidade, diz Raven.
De fato, ele argumenta, agora é a melhor hora para agir, já que a biodiversidade
global é reduzida ao passar de cada momento.

Dr. Peter H. Raven no Jardim Botânico do Missouri. Foto de M. Jacob.

Raven acredita que uma filosofia transcendente de sustentabilidade é a chave para
preservar a biodiversidade. Isso significa melhorar a vida dos pobres no mundo reduzindo
o desperdício de consumo em países ricos. Raven também diz que áreas protegidas
irão continuar a ter um papel essencial, desde que elas sejam estabelecidas e mantidas
alinhadas com a sustentabilidade (isto é, social, econômica e ambientalmente). Raven
acrescenta que a biodiversidade em locais dominados pelo homem, como cidades, subúrbios
e zonas agrícolas não devem ser negligenciados.

Como diretor de uma das mais importantes instituições botânicas do mundo, o Jardim
Botânico do Missouri, Raven também argumenta que a
promoção nas crianças do interesse pela natureza
é absolutamente crítico
para um futuro onde questões ecológicas serão de importância crescente. Ele fala
de sua própria experiência; aos 15 anos, ele descobriu uma espécie desconhecida
de árvore na área do Presidio de São Francisco (presidio — palavra espanhola
no original — neste caso designa a guarnição militar que havia naquele local; presentemente
é uma reserva ambiental parte do Golden Gate National Recreation Area, N.t.),
que surpreendentemente era uma espécie representada por uma única planta. Ele juntou-se
as Ciências da Califórnia quando questões ambientais tratavam de jogar ou não
lixo pela janela, e o Sierra Club (Organização ambiental norte-americana, N.t.)
era mais voltado a questões de recreação do que ambientais e conservacionais. Ele
diz que problemas ambientais — de alterações climáticas à perda de biodiversidade
— irão fornecer desafios e oportunidades sem paralelo para os jovens de hoje.

Em março de 2007 Raven falou de suas pesquisas e idéias sobre a crise da extinção
em uma entrevista a Rhett A. Butler do mongabay.com.


Mongabay: O que você vê como maior ameaça à biodiversidade?


Raven: A maior ameaça à biodiversidade é a destruição
do habitat. Esta destruição está se dando rapidamente ao redor do mundo,
especialmente nas florestas tropicais.

As projeções de extinção são uma questão séria. Recentemente eu estive observando
os pássaros, já que são relativamente bem documentados comparados a outros grupos
de organismos. Sob o ponto de vista lógico, 25 por cento das aves poderia estar
extinta no final do século, ainda que sendo aves nós estimamos que metade delas
pode não se tornar extintas por que as pessoas irão tomar garantias extremas para
tentar salvá-las.

A previsão de 25 por cento para os pássaros é bem abaixo de metade ou 2/3 de todas
as espécies na Terra que previmos que provavelmente irão ser extintas ou terão sua
população tão reduzida que estarão a caminho da extinção no final deste século.

Aves em geral têm amplitudes maiores e tem mais mobilidade que outras espécies,
permitindo que muitos deles escapem de algumas formas de destruição de habitat.
Entretanto sabemos que um grande número deles foi extinto no passado. Por exemplo,
nas ilhas do Pacífico, mais de 100 espécies foi extinta entre as últimas 1000-1500
centenas de anos. Nós discutimos isso em detalhe nos artigos (2000 [4], 2006 [5]) que escrevi
em conjunto com Stuart Pimm da Universidade Duke e outros.

Meu sentimento, sobre o qual não tive realmente chance de retrabalhar e revisar
ainda, é que nossa previsão de que metade de todas as espécies irá tornar-se extinta
ou a caminho da extinção no final deste século é ainda uma projeção modesta e um
tanto razoável.

A maior parte das projeções que têm sido feitas à respeito da extinção tem sido
baseadas na perda de habitat e as relações da bio-geografia das ilhas. É
óbvio agora que existem outros três fatores que irão ajudar a conduzir as espécies
à extinção.

Em primeiro estaria as espécies invasivas estrangeiras, incluindo pestes e doenças
que podem ser introduzidas. Por exemplo, das espécies de plantas nos Estados Unidos
que acreditamos estar a beira da extinção, 40% estão ameaçadas em razão dos invasores.

Em segundo lugar, há a caçada seletiva e a coleção de espécies. Na África, a caça
de animais não considerados “de caça” é uma das manifestações mais bem conhecidas
disso, mas, na realidade, acontece no mundo todo. A procura de plantas com propriedades
medicinais tem aumentado nos anos recentes pela crescente demanda por medicinas
herbais e suplementos na China, Japão, Europa e Estados Unidos. A demanda por estas
plantas está levando à exploração em países distantes.

Em terceiro, está a alteração climática, que é potencialmente tão ou mais devastadora
que a destruição do habitat. Um artigo em Nature^ estima
que as alterações climáticas podem levar um milhão das espécies do mundo à extinção
já em 2050. Ao nível local, artigos específicos têm escrito sobre a África do Sul
e Austrália, indicando muito claramente que os habitats de hoje não irão
existir após a mudança climática.

Estima-se que já aquecemos o clima 0,8 graus Célsius desde níveis pré-1750, e o
crescimento existente de Dióxido de Carbono e outros gases do efeito estufa irão
aumentar a temperatura em até 1,5 graus Célsius mesmo se não ocorrer mais queima
de combustíveis fósseis. Aos 2 – 2,5 graus Célsius antecipa-se que chegaremos a
um ponto que não tivemos ainda que enfrentar, mas que fará o aquecimento ser o pior
de todos os males.

Nos Estados Unidos modelos climáticos prevêm que habitats alpinos e sub-alpinos
serão exauridos nos 48 estados do Sul durante o curso deste século. Embora não seja
possível projetar com precisão as conseqüências para cada espécie para a qual o
habitat está desaparecendo, parece provável que muitas irão ter um tempo
muito difícil se ajustando a mudança de temperatura. Além disso, se você incluir
como fatores os padrões de precipitação e potenciais inundações de áreas costeiras,
o panorama não é promissor para a biodiversidade.


Mongabay: E sobre o impacto das mudanças climáticas nos trópicos?

Raven: Alterações climáticas nos trópicos são uma grande preocupação
desde que lá é onde reside a maior parte da biodiversidade. Florestas tropicais
úmidas estão especialmente em risco desde que mudanças na distribuição de chuvas
pode alimentar condições mais secas que deixem a floresta mais suscetível a incêndios.
Já temos visto isso na Amazônia e na Indonésia, particularmente na ilha de
Bornéu
.


Mongabay: Esta era, caracterizada pelo aumento cada vez maior da perda da
biodiversidade, tem sido amplamente citada como “A Sexta Grande Extinção” e alguns
números grandes, em termos da perda anual de espécies, têm sido levantados com base
no cálculo de espécies x área, mas não temos nenhuma idéia melhor da magnitude da
perda atual de espécies? Estamos de alguma forma mais perto de saber se estamos
perdendo centenas de espécies por ano ou centenas de milhares?


Em um artigo publicado em Nature (2000), Pimm e Raven desenharam três cenários
de como a extinção das espécies nas florestas tropicais pode se desenrolar devido
ao desmatamento. A curva “a” é a curva de extinção baseada nas estimativas atuais,
não levando em consideração hotspots de biodiversidade. A curva “b” assume
que os hotspots de biodiversidade são removidos até o ponto onde apenas as
áreas presentemente protegidas são salvas. A curva “c” mostra a perda de espécies
se todo o habitat restante nos hotspots for preservado.

Raven: Se você considerar que há 10 milhões de organismos
eucarióticos, isto é, não incluindo vírus e bactérias, estamos perdendo atualmente
algo na ordem de milhares de espécies por ano, a maioria das quais é pouco ou nada
conhecida até hoje — nós temos descritos apenas um de cada seis dos organismos
do planeta. Baseado no formato da curva espécie x área parece que estamos
caminhando na era da extinção de dezenas de milhaes de espécies por ano. Nada está
realmente dimuindo quando o assunto é desmatamento e perda de espécies. Em um artigo
que escrevi com Stuart Pimm em 2000 [4], projetamos o pico na perda de espécies em meio
século em aproximadamente 50.000 extintas por milhão/década se continuarmos no ritmo
atual de destruição do habitat. Assim, se estamos falando de 10 milhões de
organismos, isso se traduziria em 50.000 espécies extintas por ano. Novamente, estes
cálculos ignoram o impacto potencial de invasores estrangeiros, caça e alterações
climáticas.


Mongabay: Você viu o artigo de
Wright e Muller-Landau
que argumenta que o desmatamento irá desacelerar em 50
anos, resultando em taxas mais moderadas de extinção? O que você acha?

Raven: A vasta maioria das pessoas [que conhecem] a área bem o suficiente
desacreditou o que eles disseram. Wright e Muller-Landau [6] argumentam que o crescimento
populacional irá desacelerar e o abate será aliviado, mas se considerar o fato de
que a área afetada pelos humanos está crescendo, então este é um argumento difícil
de engolir. Globalfootprint.org
faz um bom trabalho ao explicar isso. Estimam que nós estamos utilizando 120% da
produtividade da Terra atualmente, significando que estamos usando mais do que a Terra
pode produzir de forma sustentável. Utilizávamos cerca de 70% em 1970, logo está
crescendo rapidamente.

Projeções de
Wright e Muller-Landau
África

Cobertura florestal na África (2000): 31-35%

Cobertura projetada na África (2030): 18-28%

Extinção projetada na África (2030): 16-35%

Indo-Malásia

Cobertura florestal na Indo-Malásia (2000): 39%

Cobertura projetada na Indo-Malásia (2030): 33-39%

Extinção projetada na Indo-Malásia (2030): 21-24%

Parece que a área global afetada por nós só irá crescer no futuro quando você considera
o fato de que 6,5 bilhões de pessoas no mundo, metade das quais vivendo com menos
de US$ 2 por dia e que a ONU estima que 850 milhões de pessoas está recebendo menos
que os requisitos nutricionais mínimos, significando que eles estão literalmente
morrendo de fome. Norman Myers e Jennifer Kent, em seu livro
The New Consumers: The Influence Of Affluence On The Environment
(Os novos consumidores:
A influência da fartura no meio ambiente)
estimam que há cerca de um
bilhão de novos consumidores logo além da esquina; em outras palavras, pessoas que
estão a ponto de sair do nível de pobreza de US$ 2/dia. Se você juntar tudo isso,
penso que é uma fantasia dizer que recursos, incluindo florestas, não enfrentarão
crescentes pressões no futuro. Mesmo em um cenário de população estabilizada, por
controle de natalidade e iniciativas de educação à mulher, níveis crescentes de
fartura irão gerar crescentes demandas de recursos naturais. Acho que é ilusório
pensar que a perda de florestas irá desacelerar. À parte de todos estes, os três
fatores — espécies invasivas, caça e alterações climáticas — representam ameaças
significativas à biodiversidade global. Mesmo Wright e Muller-Landau reconhecem
que suas projeções não incluem estes riscos.

Vejo como uma espécie de negação ao pensamento convencional e não penso que haja
nenhuma base factual para suas afirmativas, que são muito otimistas. Certamente
esperamos que suas previsões sejam verdade, mas precisamos trabalhar sob o pressuposto
de que não são, já que a perda da biodiversidade é insubstituível. Não há nada errado
em salvar o máximo que você puder.


Mongabay: Qual sua percepção para a biodiversidade? Há razões para ter esperanças?
A situação está melhorando ou apenas estamos precipitando o fim de outras espécies?

Raven: A razão para termos esperança é que as pessoas estão prestando
mais atenção à biodiversidade por uma variedade de diferentes razões. Uma é que
as pessoas sabem que é a forma primária pela qual capturamos energia do Sol, e desta
forma qualquer coisa dita sobre biomassa ou produtividade irá de alguma
forma estar vinculada à biodiversidade, mesmo que hoje não entendamos completamente
como. Toda nossa comida, com muito poucas exceções, vem de plantas de uma forma
ou de outra. Uma grande proporção de nossos medicamentos vêm de produtos naturais
— cerca de um quarto de todas as drogas nos Estados Unidos deriva de plantas.

Na medida que todos estes assuntos tornam-se mais evidentes, penso que mais pessoas
irão ver a importância crítica da biodiversidade. Já é evidente nos objetivos determinados
pelo Millennium Development Goals da ONU (Objetivos de desenvolvimento para
o milênio) e estamos cada vez mais vendo religiões envolvendo-se à medida que percebem que
a biodiversidade empobrecida é ruim para os pobres. Líderes dos Cristãos Evangélicos
e dos Judeus, por exemplo, emitiram declarações na última vez que o Endangered Species
Act
(Ato pelas espécies em perigo) estava reunido, embora vários grupos
religiosos tenham sido chamados para agir à respeito da alteração climática.


O anole azul, uma
espécie ameaçada em Isla Górgona. Foto de Thomas Marent

O mundo está caminhando para eventualmente alcançar a sustentabilidade
— é necessário, já que em última análise não podemos consumir mais do que ele produz.
Resta para nós determinar em que condições ele estará quando alcançar este ponto.
Acho que as pessoas estão mais alertas de que será necessário fazer escolhas sobre
como vivem suas vidas e usam recursos. Certamente as pessoas estão tendo mais conhecimento
de que a mudança climática é um fator importante. O aquecimento do clima não está
diretamente ligado somente a preservação da biodiversidade, mas faz as pessoas conscientes
do problema da perda global de biodiversidade.

Um ponto que gosto de enfatizar é que agora é a melhor oportunidade que temos para
entrar em ação. Quanto mais esperarmos, Quanto mais esperarmos, menores as opções
e mais perderemos. Quanto mais cedo agirmos, melhor, porque seremos capazes de preservar
mais para diversão, uso e os serviços ecológicos supridos pela biodiversidade. Temos
tudo a ganhar, ao salvar tanto quanto possível, e nada ao ignorar o problema. A
lógica clara da situação irá levar as pessoas a aumentar o comportamento razoável.


Mongabay: Ok, desta forma é claro o que temos que fazer em lugares como os
Estados Unidos, mas e o fazendeiro pobre no Brasil, Gana ou Índia? O que eles podem
fazer se apenas estão se esforçando para alimentar suas famílias?

Raven: As pessoas estão vendo as comunidades naturais como sendo de maior
valor do que costumavam pelos serviços que elas fornecem e em razão de seu vínculo
ao estilo de vida tradicional. Mas sob um ponto de vista econômico, resultados positivos
dependem de nossa habilidade de nos tornarmos um tipo de sociedade global.



    Espécies ameaçadas nos Estados Unidos de acordo com a IUCN 2006

As pessoas nos Estados Unidos se importam com as pessoas em
desvantagem em suas próprias comunidades (não tenciono destacar os EUA, mas é onde
nós vivemos)? Elas realmente se importam com a situação deles ou algo à respeito?
Se não, então é difícil imaginar que eles irão se importar o suficiente com pessoas
pobres ou famintas na África exceto de uma maneira muito esotérica. Por outro lado
há uma crescente compreensão de que a economia global está ligada muito intimamente
à nossa própria. Eu acredito de que há uma crescente compreensão nos EUA e nos países
industrializados que seu comércio ao redor do mundo não está somente conduzindo
a máquina econômica, mas que se queremos permanecer em uma posição de vantagem temos
que auxiliar as pessoas em desvantagem através do mundo, juntamente com as preocupações
de cuidado com o ambiente.

Outro desenvolvimento positivo é o
aparente salto no interesse filantrópico
ao lidar com os problemas mundiais.
As doações de Gates e Buffet
são exemplos espetaculares disso. Quanto mais pessoas compreenderem o impacto da
ação individual, mais serão provavelmente capazes de preservar o mundo em uma condição
relativamente rica e diversa, ao invés de completamente desgastada.


Mongabay: Desde 1970 o desmatamento tropical e a perda de outros importantes
ecossistemas tem aumentado apesar da crescente proeminência e do acréscimo de fundos
para esforços de conservação. Usando esta definição estreita, alguém poderia dizer
que a conservação falhou. Indo além, como os esforços de conservação podem ser melhorados
e o que pode ser feito para proteger a biodiversidade globalmente?

Raven: A abordagem tradicional para preservar a biodiversidade pela conservação
ainda se mantém porque protegendo a terra, em face de sabermos tão pouco sobre a
maioria dos organismos, você está preservando muito mais tipos de organismos que
se estivesse trabalhando especificamente com espécies únicas, como pássaros por
exemplo. Áreas protegidas são provavelmente ainda a melhor e mais abrangente estratégia.
Entretanto o problema é que nenhum dos três fatores que eu vejo como condutores
da morte da biodiversidade global — ou seja, aquecimento global, invasores estrangeiros
ou caça e coleta de tipos específicos de plantas e animais — realmente respeitem
as áreas protegidas. Além disso, à medida que o clima muda, áreas protegidas não
serão capazes de deslocar-se devido às áreas urbanas ao redor e zonas agrícolas.
Isso faz delas as mais suscetíveis ao impacto da mudança climática, seja pelo aumento
do nível do mar, um incremento nos níveis de precipitação ou temperaturas mais altas.



    Países com percentuais mais altos de espécies ameaçadas [(extintas+em perigo+vulneráveis)/(total
    de espécies avaliadas – espécies com dados deficientes)] derivado de dados da IUCN
    2006. Os Estados Unidos estão em sexto lugar com 41 por cento, a Nova Zelândia em
    nono (34%), Madagascar em décimo (34%), Austrália em décimo quarto (32%) e o Japão
    em trigésimo primeiro(23%).

Desta forma, áreas protegidas são ainda uma boa estratégia,
mas deixe-me colocar nos termos mais amplos possíveis. Serviços do ecossistema e
espécies podem ser preservadas só no contexto do que é sustentável, o que significa
socialmente justo. Se tudo continuar como está, nada será sustentável. Não podemos
salvar a biodiversidade no vácuo se tudo estiver mudando ao redor. Quanto menos
sustentavelmente todas as economias operarem no mundo, mais difícil será salvar a biodiversidade.

Nós precisamos equacionar a justiça social com o cuidado às pessoas ao redor do
mundo — aliviando a pobreza, fornecendo água limpa e combatendo doenças — todas
as coisas no sentido de melhorar a situação dos seres humanos, ou não haverá nenhum
espaço para preservar a biodiversidade.


Mongabay: E sobre preservar a biodiversidade em paisagens dominadas pelo homem,
a chamada “biodiversidade rural”?

Raven: Michael L. Rosenzweig, Professor de Ecologia e Biologia Evolucionária
na Universidade do Arizona, apontou bem este assunto em “Win
Win Ecology
(Ecologia de ganho mútuo). Ele argumenta que somente
uma pequena parte da biodiversidade pode ser preservada em parques, porém muito
mais pode ser preservada em paisagens degradadas se tomarmos algumas providências
especiais. Gretchen C. Daily da Universidade de Stanford tem também vários trabalhos
nesta área. Esta não é a resposta perfeita mas a resposta possível para conservação
em face da dominância humana neste planeta. Isto é certamente parte do que precisamos
fazer. Precisamos [ser] realistas e oportunistas.

Precisamos lembrar que a situação agora é melhor do que jamais será no futuro. Por
definição, há mais biodiversidade hoje do que haverá amanhã, ou daqui a um ou 10
anos. Quanto mais cedo agirmos, melhor.

Eu continuamente argumento que as oportunidades para preservar a biodiversidade
são fortemente ligadas a aquisição de sustentabilidade global. Você não pode salvar
a biodiversidade sem atender as necessidades das pessoas.


Mongabay: Podem mecanismos de mercado, como o “Mercado de Carbono”, as metodologias
melhores para valorar os serviços do ecossistema e biodiversidade e a eliminação
de subsídios que distorcem o mercado e reduzem os custos reais da extração de madeira
e utilização de combustível fóssil, fazer uma grande diferença na conservação do
mundo ao nosso redor?

Raven: Sem dúvida. Não só o Mercado de Carbono mas taxas mais altas nos
combustíveis. Precisamos da liderança de governos, apesar de que, por si, nunca
terão o dinheiro para efetivar todas as mudanças necessárias. Suas políticas fornecem
o contexto em que o setor privado e os indivíduos operam. Hoje
as corporações controlam muito mais dinheiro
que os governos e enfrentam
menores restrições ao implementar políticas. De fato, nos EUA estamos vendo muitos
sinais positivos das corporações nestes assuntos.


Mongabay: Qual a função do Jardim Botânico do Missouri na conservação e educação
ambiental?


Os Jardins Japoneses na Primavera — Jardim Botânico do Missouri. Foto de J. Jennings

O Climatron do Jardim Botânico do Missouri com vitórias-régia e esculturas
de Carl Milles ao fundo. Foto de J. Monken

Raven: O Jardim é a mais ativa instituição botânica
da área, com equipes vivendo na Costa Rica, Peru, Equador, Bolívia, Tanzânia, Congo,
Madagascar e Vietnã. De uma forma ou outra, temos cerca de 40 programas ativos em
diferentes países. Tentamos ajudar as pessoas a adquirir a experência e o treinamento
que permite que analisem suas próprias plantas, e então utilizem aquela informação
para conservação, bem como para aumentar o conhecimento científico. Ensinamos conservação
e desenvolvimento sustentável ao redor do mundo, encontramos colegas e fazemos o
melhor para encorajá-los para conservar e usar com sabedoria seus próprios recursos
naturais. Temos cerca de 6 milhões de espécimes de plantas em nosso herbário, uma
das melhores bibliotecas botânicas do mundo e cerca de 50 cientistas ao nível de
doutorado em nossa equipe, trabalhando com plantas ao redor do mundo. Estamos dando
uma contribuição ativa para as realizações da sustentabilidade em toda a parte nos
trópicos.


Mongabay: Há bastante tempo você é chamado para mais pesquisas em biodiversidade
e para o desenvolvimento de mecanismos para gerenciá-la. Tem visto muito progresso?

Raven: Sabemos muito mais que quando fui chamado pela primeira vez juntar-me
ao fundo de pesquisas para a biodiversidade como Presidente do Comitê de Prioridades
em Pesquisa de Biologia Tropical no Conselho Nacional de Pesquisa em 1979. Houve
muito progresso na compreensão em como florestas e outras comunidades naturais funcionam.
Certamente só sabemos uma pequena fração do que pode ser conhecido.


Mongabay: Entre esta geração de estudantes que está recém embarcando em carreiras,
você tem visto muito interesse em ciências ou são cientistas sendo perdidos para
objetivos mais “comerciais” como tecnologia e finanças complexas? Como a próxima
geração de cientistas ser inspirada a voltar-se para alguns problemas mais significantes
da Terra que se aproximam no futuro imediato?


Treinamento prático para a próxima geração de conservacionistas

Raven: Eu acredito que sustentabilidade e biodiversidade estão se tornando
campos em expansão, razão pela qual é tão importante que inspiremos jovens a envolver-se
com este tipo de trabalho. A melhor maneira é encorajar o interesse logo cedo, por
que quando você tem entre
6 e 10 anos e desenvolve interesse pela natureza e lugares abertos
provavelmente
manterá esse interesse pela vida toda. Desta forma sou muito à favor de qualquer
coisa que cuide para que estudantes se interessem nestas áreas. Há mais pessoas
nesta área do que nunca e há mais postos de trabalho por que mais pessoas estão
compreendendo a importância de trabalhar com a biodiversidade construtivamente.
A medida que o mundo começa a lidar com muitos dos problemas que criamos, como mudança
climática [causada] pela poluição, iremos precisar de uma geração de jovens espertos
e inovadores para caminhar e desenvolver soluções.


Mongabay: Você tem algum conselho para os estudantes interessados em seguir
carreiras em ciências e/ou conservação? E pessoas sem formação científica? Como
podem se envolver?

Raven: Para atingir a sustentabilidade global, precisamos trabalhar todos
juntos. Reciclagem, conservação de energia, e todos os esforços sobre os quais temos
ouvido irão ajudar. Aqueles que seguem carreiras em ciência e teconologia relacionada
à conservação poderão ajudar muito, mas é basicamente a conservação praticada por
todos ao redor do mundo que irá nos levar onde queremos chegar.

Estudantes deveriam saber que existem maravilhosos esforços na conservação e nas
ciências relacionadas a ela, onde enormes contribuições serão feitas, e onde há
um grande espaço para pessoas inovadoras, seja com finalidade teórica ou científica,
seja na aplicação do que sabemos: saindo e fazendo coisas boas para a construção
da sustentabilidade.


Mongabay: O que pessoas comuns podem fazer em seus lares para ajudar?

Raven: Em lugares como os Estados Unidos, onde usamos o dobro da energia
que qualquer outro, exceto a Austrália, e ainda assim não temos um padrão de vida
melhor por causa disso, podemos ganhar com grandes melhorias na conservação e salvar
muito dinheiro para nós mesmos ao abraçar um modo de vida mais sustentável.

Qualquer coisa que ajude a melhorar a sustentabilidade irá ajudar a biodiversidade.


Mongabay: Pode explicar o que originalmente levou-o a perseguir sua notável
carreira na biologia?

Raven: Interessar-me pelas ciências e pela natureza muito jovem foi a
chave. Aos 14 anos, minha família mudou-se para o Presidio de São Francisco
(v. nota anterior, N.t.), o que me deu grandes oportunidades para explorar o Parque
Golden Gate. Logo me envolvi com o departamento de estudantes da Academia de Ciências
da Califórnia. Meu primeiro interesse real em conservação começou em uma viagem
à Colômbia como estudante de Doutorado na UCLA, então em 1962 os debates sobre o
uso do DDT realmente abriram meus olhos para estas questões. Na Universidade
de Stanford nos meados dos anos 1960 alguns de nós começaram a preocupar-se sobre
o impacto do crescimento populacional. Eventualmente, em 1968, Paul Ehrlich escreveu
seu famoso livro
The Population Bomb
(A Bomba Populacional).


Mongabay: Durante o curso de sua renomada carreira você viajou muito. Há algum
lugar ou experiência que expresse a maneira que sente a biodiversidade?

Raven: Penso que em alguns aspectos a África do Sul tem o mais notável
acúmulo de espécies de planta que qualquer lugar no mundo porque há tantas coisas
que se irradiaram tão explosiva e maravilhosamente. Entretanto, as plantas na Califórnia
são quase tão espetaculares como as que você pode encontrar em qualquer lugar do mundo
no sentido que suas abrangências [geográficas] são tão estreitas e que são tão diferentes
de um lugar para o outro. A Califórnia tem muitas espécies endêmicas que estão lindamente
adaptadas ao clima seco de verão mediterrâneo.

Gosto muito de diferentes tipos de plantas e de diferentes tipos de natureza.
Madagascar é um lugar extremamente interessante. Tem cerca do tamanho da Califórnia,
mas com o dobro de espécies — 90 por cento das quais não são encontradas em nenhum
outro lugar.


Mongabay: Concordo plenamente com você sobre Madagascar. Parece que lá as
coisas estão caminhando para um ponto de vista conservacional.

Raven: Nós temos cerca de 50 pessoas em Madagascar — todos nativos,
com duas ou três exceções. Nós treinamos a maioria deles e estão fazendo um trabalho
fantástico.


Parque Nacional Ranomafana em Madagascar

Raven: Acho que Madagascar, de forma curiosa, tem uma ótima forma de
fazer a conservação funcionar. Muito de suas florestas está perdido, mas parceiras
público-privadas, ecoturismo e iniciativas que valorizam a biodiversidade e melhoram
os meios de vida para as pessoas do local estão realmente convergindo. Madagascar
é um dos poucos lugarem do mundo onde as pessoas estão literalmente vivendo às custas
da floresta. Em outros lugares alguém está ganhando dinheiro do desenvolvimento
da floresta com criações de gado, soja ou outra coisa, mas em Madagascar há pessoas
em abundância que estão trabalhando as florestas como um todo. Desta forma fornecem
um exemplo claro do que eu estava dizendo sobre melhorar a economia, a justiça social
e a situação das pessoas. [Madagascar] é um dos países mais pobres do mundo, apesar
disso seus programas de conservação estão entre os melhores de qualquer país em desenvolvimento.

Mongabay: Sim, é espantoso ver quanta biodiversidade é perdida quando consideramos
quanta floresta foi derrubada. É o tipo de coisa que faz você imaginar como era
antes.

Raven: Estamos trabalhando no catálogo de plantas de Madagascar e existem
dois fatos espantosos: um é que em cada grupo que trabalhamos há cerca de 50 por
cento mais tipos do que havia documentado, todas as ausentes eram novas espécies.
O segundo ponto é que enquanto muitas espécies são muito restritas em abrangência
[geográfica] fomos capazes de encontrá-las vivas mesmo quando procuramos no herbário
espécimes que foram coletadas há 100 ou 150 anos.

Estamos preocupados sobre o potencial impacto da mudança climática. Ate onde sei,
ninguém realmente fez um modelo climático especificamente para Madagascar.

Mais sobre Peter Raven

Peter Raven é atualmente diretor do Jardim Botânico do Missouri em St. Louis, e
é professor adjunto da Universidade do Missouri-St Louis. Foi agraciado com pelo
menos 17 graduações honorárias de diversas universidades ao redor do mundo e foi
premiado com cerca de 100 outros títulos incluindo a Medalha Nacional de Ciência
presenteada pelo presidente Clinton. Raven trabalhou para o Comitê Presidencial
de Conselheiros em Ciênca e Tecnologia e, mais recentemente, foi co-diretor do Grupo
Científico de Especialistas em Mudança Climática e Desenvolvimento Suntentável para
a Fundação das Nações Unidas e Sigma Xi, a Sociedade de Pesquisa Científica. Raven
é autor de compêndios premiados e escreveu centenas de artigos revisados por especialistas.

LINKS

Comentários?

Opções de Notícias



Exit mobile version