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Parques e Reservas indígenas desaceleram desmatamento na Amazônia

Parques e Reservas indígenas desaceleram desmatamento na Amazônia

Parques e Reservas indígenas desaceleram desmatamento na Amazônia
Rhett A. Butler, mongabay.com
29/12/2007

Um novo estudo mostra que parques e reservas indígenas ajudam a desacelerar o desmatamento
na Amazônia.

O estudo, conduzido pelos pesquisadores no Woods Hole Research Center e no Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia, analizou a efetividade de áreas protegidas contra
remoção das florestas usando análise quantitativa de dados de satélite. Foi descoberto
que o desmatamento era de 1,7 a 20 vezes maior fora do perímetro das reservas, enquanto
os incêndios florestais eram de 4 a 9 vezes maior. Terras indígenas também desaceleraram
a remoção de florestas em regiões fronteiriças com forte desmatamento.

Cientistas conservacionistas geralmente concordam que muitos tipos de áreas protegidas
serão necessários para conservar as florestas tropicais. Entretanto, pouco é conhecido
sobre o desempenho comparativo de reservas habitadas/desabitadas na desaceleração
do distúrbio florestal mais extremo: a conversão para agricultura. Em artigo publicado
recentemente no jornal Conservation Biology (2006, Vol 20, páginas 65-73), um time
internacional de cientistas liderados por Daniel Nepstad do Woods Hole Research
Center e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia usou dados de satélite
para demonstrar, pela primeira vez, que parques de floresta tropical e territórios
indígenas pararam o desmatamento e os incêndios florestais.

Desmatamento Amazônico – Cortesia do DigitalEarth

De acordo com Nepstad, “Proteger terras e áreas naturais de indígenas e povos nativos
da Amazônia colabora para parar o desmatamento. A idéia de que muitos parques nos
trópicos só existem ‘no papel’ precisa ser re-examinada tanto quanto a noção de
que reservas indígenas são menos efetivas que parques ao proteger a natureza.”

Enquanto estudos anteriores questionaram os administradores de parques sobre o desempenho
das reservas, este estudo é o primeiro que avalia a efetividade de área tropicais
protegidas contra remoção florestal usando análise quantitativa de dados de satélite.
O grupo utilizou mapas de cobertura de solo e ocorrências de fogo gerados entre
1997 e 2000 para comparar parques e reservas indígenas. O desmatamento foi 1,7 a
20 vezes maior fora do perímetro das reservas, enquanto os incêndios florestais
foram de 4 a 9 vezes maior. Terras indígenas claramente pararam o remoção de florestas
em regiões fronteiriças com forte desmatamento: 33 dos 38 territórios indígenas
com desmatamento superior a 1,5% fora de suas fronteiras tem um índice interno de
desmatamento inferior a 0,75%. Existem menos parques situados em regiões de fronteira
(4 dos 15 da amostra) que terras indígenas (33 de 38). Mas a habilidade de ambos
para inibir o desmatamento parece similar.

Terras indígenas ocupam um quinto da Amazônia brasileira, cerca de cinco vezes a
área sob proteção em parques e são atualmente a mais importante barreira ao desmatamento
da Floresta Amazônica. Alguns conservacionistas argumentam que com a absorção dos
hábitos da sociedade de consumo, povos indígenas irão parar de proteger as florestas.
Porém, os autores descobriram que virtualmente todas as terras indígenas inibiram
o deflorestamento mesmo depois de 400 anos de contato com a sociedade. Não há correlação
entre a densidade populacional em terras indígenas e o desmatamento. Na maior parte
de Amazônia, não apenas a proteção da natureza pode ser reconciliada com moradias:
ela não poderia acontecer sem as pessoas.

Extensas áreas de floresta intactas dentro de territórios indígenas são fundamentais
para a conservação em larga escala da Amazônia. No último ano, o governo brasileiro
criou um mosaico de 5 milhões de hectares de diferentes tipos de reservas na Terra
do Meio, região do estado do Pará. Isso integra dois blocos já existentes de terras
indígenas em uma área contínua de 24 milhões de hectares, a maior da Amazônia e
do mundo. Com acordos de colaboração de indígenas, pequenos fazendeiros, ambientalistas
e governo é possível criar áreas protegidas nas fronteiras ativas da Amazônia e
em qualquer lugar. São boas notícias para os governos, que há anos assumiram que
a ferramenta mais importante para a conservação das florestas tropicais é a criação
de áreas de proteção.

Ecologista de florestas tropicais, Nepstad vem estudando as florestas da Amazônia
e estratégias para sua conservação nos últimos 21 anos. Sua pesquisa inclui incêndios
e a “savanização”, a análise de políticas públicas para conservar os recursos naturais
da Amazônia, predizer os desafios futuros das florestas e povos amazônicos e a certificação
ambiental de fazendas de gado e soja da região. Radicado em Belém, Brasil, ele lidera
o programa Centro da Amazônia. Em 1995, foi co-fundador do Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia, atualmente a maior instituição independente de pesquisa na
região amazônica. Publicou mais de 75 artigos científicos e livros sobre a Amazônia.
Em 1994, recebeu o “Pew Scholars Fellowship in Conservation”.

Sobre o Woods Hole Research Center
O Woods Hole Research Center
é dedicado a ciência, educação e políticas públicas por uma Terra habitável, procurando
conservar e manter florestas, solo, água e energia ao demonstrar sua importância
à saúde humana e prosperidade econômica. O Centro patrocina iniciativas na Amazônia,
Ártico, África, Rússia e América do Norte, incluindo o meio-Atlântico, New England
e Cape Cod. Seus programas estão focados no ciclo do Carbono, funções da floresta,
cobertura da terra e usos, ciclos da água e elementos químicos no meio-ambiente,
ciência nas relações públicas e educação, fornecendo dados primários e permitindo
melhores análises dos desafios florestais que influenciam nas expectativas globais
para emissão de Carbono.

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