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Ainda vale a pena salvar as florestas tropicais

Ainda vale a pena salvar as florestas tropicais?

Ainda vale a pena salvar as florestas tropicais?
Vamos examinar, porque elas são importantes
Por Rhett A. Butler. Traduzido por Christa Maas.

pt.mongabay.com
01/12/2007

As florestas tropicais do mundo inteiro continuam a cair. Será que isso realmente faz alguma diferença? Por que qualquer um deveria se importar se algumas plantas, animais, cogumelos, e microorganismos morrem? Afinal, florestas tropicais freqüentemente são quentes e úmidas, difíceis de alcançar, cheias de insetos, e tem animais selvagens que nelas se escondem.



Realmente o nosso interesse não deve ser voltado somente para a perda de algumas plantas e animais; a humanidade tem muito mais a perder. Destruindo as florestas tropicais nós arriscamos nossa própria qualidade de vida, jogamos com a estabilidade do clima e do tempo local, ameaçamos a existência de outras espécies, e menosprezamos os serviços valiosos fornecidos pela diversidade biológica.



Na maioria das áreas a degradação ambiental ainda não alcançou níveis críticos onde sistemas inteiros desmoronam, é importante examinar alguns dos efeitos do empobrecimento ambiental existente e prever algumas das repercussões potenciais da perda da floresta. A perda continuada de sistemas naturais pode deixar as atividades humanas cada vez mais vulneráveis ás surpresas ecológicas do futuro.



Povos locais são os mais afetados


O impacto imediato do desmatamento ocorre a nível local com a perda dos serviços ecológicos fornecidos por florestas tropicais e por ecosistemas relacionados. Tais habitats têm recursos naturais que prestam serviços valiosos para seres humanos tais como a prevenção da erosão, o controle da inundação, o tratamento de água, a proteção da pescaria e a distribuição de pólen — funções que são particularmente importantes para os povos mais pobres do mundo, que confiam em recursos naturais para sua sobrevivência diária. A perda da floresta reduz também a disponibilidade de recursos renováveis como a madeira, plantas medicinais, nozes e frutas, e animais de caça. Finalmente, o desmatamento nega qualquer possibilidade de ecoturismo na área. Ecoturistas não têm interesse ou são relutantes a visitar paisagens nuas sem animais selvagens.



Conflitos com animais selvagens: Enquanto seu habitat diminui, muitos animais estão forçados a procurar alimento fora de seus habitats tradicionais na floresta e movem-se para as áreas povoadas por seres humanos, levando a conflitos. Os danos à colheita e a morte por animais selvagens são cada vez mais problemáticas em algumas áreas tropicais.



Surgimento de doenças: O surgimento de epidemias e de novas doenças tropicais, inclusive febres hemorrágicas violentas como a febre de Ebola e de Lassa, são impactos sutis, mas sérios do desmatamento. Com o aumento da presença humana na floresta tropical e a entrada cada vez mais profunda dos exploradores abusivos, o homem está encontrando microorganismos “novos” com comportamentos contrários aos previamente conhecidos. Enquanto os hospedeiros originais destes microorganismos causadores de doenças são eliminados ou reduzidos com o distúrbio e a degradação da floresta, a doença pode espalhar entre seres humanos.



Erosão: A perda das árvores, que estabilizem o solo com suas raízes, causa erosão difundida em todas as áreas tropicais. A taxa de aumento de perda do solo após o desmatamento da floresta é surpreendente; um estudo na Costa de Marfim encontrou que as áreas de declive com florestas perderam anualmente 0.03 toneladas de solo por hectare, declives cultivados perderam anualmente 90 toneladas por hectare, enquanto declives sem cobertura alguma perderam 138 toneladas por hectare.



O tempo está mudando?



Madagascar (Rhett A. Butler)

As florestas tropicais têm um papel crítico para o tempo regional, contribuindo para a umidade local através de transpiração — o processo em que as plantas liberam água através de suas folhas. Estima-se que a floresta da Amazônia fabrica 50-80% de sua própria chuva com este processo. Assim, quando a floresta é desmatada, degradada, e destruída ela retém menos do calor pela vegetação, e como conseqüência menos umidade é evapo-transpirada na atmosfera. O resultado: poucas nuvens de chuva são formadas e há menos precipitação na floresta — Os investigadores da NASA confirmaram isto quando descobrirem que durante a seca existe um padrão de menos chuva na Amazônia em regiões com maiores índices de desmatamento. A floresta fica mais seca , o que contribui para um efeito cascata onde a floresta tropical é substituída por savana, que transpira menos, tem cada vez menos umidade e é mais suscetível a fogos, que podem alterar o clima regional inibindo a formação de nuvens.



As florestas topicais têm também um impacto no clima do mundo com seu papel no ciclo de carbono global. Através da fotossíntese, as florestas tropicais captam grandes quantidades de carbono atmosférico em sua vegetação. A vegetação e os solos das florestas do mundo contêm aproximadamente 125% do carbono encontrado na atmosfera. Quando as florestas são queimadas, degradadas, ou destruídas, ocorre o efeito oposto: grandes quantidades de carbono são liberadas na atmosfera como dióxido de carbono junto com outros gases de estufa (óxido nítrico, metanol, e outros óxidos do nitrogênio). A queimadura das florestas libera quase um bilhão de toneladas do dióxido de carbono encontrado na atmosfera todos os anos.



O acúmulo de dióxido de carbono e outros gases na atmosfera são conhecidos como “efeito estufa.” Acredita-se que o acúmulo destes gases teria alterado o equilíbrio da radiação da terra, o que significa que mais do calor do sol é absorvido e preso na atmosfera da terra, gerando o aquecimento global.



Algumas emissões do carbono podem ser diminuídas pelo plantio de árvores que absorvem o carbono em sua vegetação pela fotossíntese. As florestas tropicais têm o melhor potencial para a diminuição de gases do efeito estufa, já que enquanto crescem têm maior capacidade de armazenar carbono em seus tecidos. O Reflorestamento de 3.9 milhões de milhas quadradas (10 milhões de quilômetros quadrados) pode tirar da atmosfera 100-150 bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono nos 50-100 anos seguintes ao plantio.



As florestas tropicais também são responsáveis pela adição de oxigênio à atmosfera como produto agregado da fotossíntese. Estima-se que 20% do oxigênio do planeta é produzido pelas florestas tropicais do mundo. Com o corte de mais florestas tropicais diminui a capacidade do sistema global no fornecimento de reservas de oxigênio.



O último adeus; um planeta apertado e cheio de solidão



Amazonia (Rhett A. Butler)

Talvez a maior perda com a destruição acentuada de florestas tropicais seja a extinção das espécies que contribuem para a biodiversidade do planeta. A extinção das espécies não é um processo novo – está acontecendo desde o alvorecer da vida — mas a natureza da onda atual de extinção corre ao contrário dos ocorridos no passado. A taxa da extinção de hoje é estimado ser de 1.000 a 10.000 vezes o normal biológico, a taxa base da extinção é de 1-10 extinções de espécies por o ano. Esta perda das espécies, ao contrário de algumas das outras conseqüências do desmatamento, é pela maior parte irreversível em nossa época já que nós provavelmente conhecemos somente uma pequena fração das espécies que desaparecem. A bioengenharia e a clonagem não são possíveis se nós não soubermos o que nós perdemos.



Os cientistas acreditam que somente uma pequena fração das espécies da terra foi catalogada. As espécies óbvias, como macacos, pássaros, serpentes, e sapos são relativamente bem conhecidas, mas a vasta maioria de pequenos organismos ainda é um mistério. E são justamente estas espécies abundantes e sem descrição que tem o maior potencial para ajudar à humanidade com aplicações médicas e de bioengenharia.



Os cientistas e os ecólogos especializados em extinção tipicamente usam algum formulário da curva das espécies e suas áreas habitadas para determinar taxas para a perda das espécies. Essencialmente esta curva prevê que uma redução de 90 por cento de área de um habitat resultará na perda de 50 por cento de suas espécies.



Até agora não temos nenhuma evidência das extinções em massa de espécies previstas pela curva das espécies e de seus habitats, mas alguns ecólogos de renome acreditam que a extinção das espécies, tal como o aquecimento global, teria um efeito demorado, e a perda das espécies da floresta devida ao desmatamento no passado, ainda não é aparente hoje. Em seu livro “The Call of Distant Mammoths” (O Grito de Mamutes Distantes), o autor Peter Ward usa o termo de “débito de extinção” para descrever a extinção desta espécie e de suas populações, muito tempo depois a alteração de seu habitat natural. Um exemplo pode ser achado num estudo sobre primatas da África ocidental, que encontrou um “débito de extinção” de mais de 30% da fauna total de primata em conseqüência do desmatamento histórico. Isto sugere que a proteção de florestas remanescentes nestas áreas não pôde ser o suficiente para impedir extinções causadas pela perda de habitat no passado. Enquanto nós podemos prever os efeitos da perda de alguma espécie, nós sabemos demasiadamente pouco sobre a vasta maioria das espécies a fim de fazer projeções razoáveis. A perda não antecipada de espécies desconhecidas terá um efeito que aumenta com o tempo.



Monkey frog in Peru. Photo by Rhett A. Butler

Além de perder espécies originais que dão caráter ao planeta e tem o seu valor intrínseco e direito próprio, nós estamos perdendo uma variedade incrível de diversidade genética que poderíamos aproveitar para ajudar a nossa própria espécie. Enquanto uma espécie é perdida uma combinação original de genes, produzida sobre o curso de milhões de anos, é perdida e não será substituída em nosso tempo. Estamos indo para um futuro empobrecido daquelas magníficas espécies sobre os quais nos lembramos ter aprendido um pouco quando éramos crianças: tigres selvagens, rinocerontes que parecem ter armaduras; araras coloridas; rãs e sapos coloridos. Quando estas espécies desaparecem do globo, o mundo será verdadeiramente um lugar mais pobre. A biodiversidade se recuperará depois do desaparecimento da humanidade que, contudo, enquanto isso, a perda continuada de nossas espécies companheiros fará a terra um lugar terrivelmente apertado, mas cheio de solidão.



O estudo de extinções acontecidas no passado mostra que são necessários cinco milhões de anos até que a biodiversidade chegue ao mesmo nível em que estava entes do evento ter ocorrido. Nossas ações hoje determinarão se a terra será biologicamente empobrecida para mais de 500 trilhões de seres humanos que habitarão a terra durante esse período futuro.



O evento de extinção que está ocorrendo enquanto você lê estas palavras, rivaliza as extinções causadas por desastres naturais durante a as idades de gelo global, das colisões planetárias, do envenenamento atmosférico, e das variações na radiação solar. A diferença é que esta extinção foi concebida por seres humanos e depende de decisões humanas. Nós somos a maior e melhor esperança para a vida como nós a preferimos neste planeta.



O valor das florestas tropicais



Considerando seu valor econômico, recreacional, e social, existe pouca dúvida que seria melhor a humanidade fazer seu melhor esforço para conservar as florestas tropicais remanescentes deste mundo. Muito ainda pode ser feito. Se usarmos nossa inteligência e inovação, a espécie humana pode preservar a biodiversidade e lugares originais para futuras gerações, sem comprometer a qualidade de vida para as populações atuais. Se fizermos menos, reduzimos nossas opções no futuro e a terra será um lugar mais pobre.


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